Folha de S. Paulo
Planos incentivam tecnologia antitrabalhador
e minam bases da economia de inovação
O que esperar da economia americana sob Donald
Trump? Daron
Acemoglu, um dos premiados com o Nobel de
Economia deste ano, deu sua opinião em uma espécie de
autoentrevista no X/Twitter, neste sábado (9).
Não haverá boas notícias para os
trabalhadores. As ideias trumpistas sobre inteligência
artificial vão prejudicar cidadãos, consumidores (que serão
manipulados, como nas redes sociais) e setores da economia, por falta de
regulamentação adequada.
A desregulamentação, na linha do que pensam grandes investidores e capitalistas de risco mais imprudentes do Vale do Silício, vai incentivar a automação. "Não vai se concretizar o potencial [da IA] como tecnologia de informação que pode ajudar os trabalhadores" (Acemoglu costuma defender intervenção governamental que induza o uso de tecnologia "pró-trabalho").
Trump deve colocar gente incapaz para
regulamentar assuntos como educação, saúde, negócios online, tecnologia e
serviços para o consumidor. Vai assim prejudicar uma economia que depende de
regulação de alto nível, não de curas milagrosas ("snake oil"), a fim
de manter seu padrão de inovação.
Trump terá a sorte de ver os bons efeitos da
política econômica de Joe Biden,
sem o ônus que pesou sobre o democrata (contribuiu para a inflação). Quais
políticas? Incentivos e dinheiros do governo para pesquisa e produção de chips, transição
energética e infraestrutura (obras que vão impulsionar a
indústria). Tais iniciativas também vão melhorar salários na base da pirâmide.
Impostos de
importação ("tarifas") maiores sobre produtos chineses não
vão trazer empregos de volta. É improvável que Trump tribute bens de países
aliados (o que de resto prejudicaria o crescimento, pois afeta cadeias de
fornecimento para empresas americanas).
Em boa parte graças ao Fed,
a inflação diminuiu. Os benefícios da política de Biden e da ação do banco
central americano serão faturados por Trump. Mas tarifas elevam preços a curto
prazo; a intervenção prometida por Trump no Fed pode realimentar a inflação.
Cortes de impostos vão ajudar grandes
companhias e a Bolsa. Mesmo que isso eleve investimentos, grande parte deles
irá para o setor de tecnologia e automação, os quais, desregulados, serão
daninhos. Trump pode favorecer suas empresas prediletas, como as de energia e
petróleo.
Trump é ameaça às instituições. Não quer
dizer que a democracia vá acabar em quatro anos (embora tal cenário não possa
ser descartado). Quer dizer que vai enfraquecer normas democráticas, aumentar a
incerteza e a arbitrariedade das políticas públicas, aprofundar a polarização e
solapar ainda mais a confiança em instituições, incluindo o Departamento
de Justiça, que Trump quer transformar em meio de perseguição
política.
Nada disso vai causar colapso econômico
imediato. Mas, a médio prazo (uns dez anos), instituições fracas, incerteza
elevada e baixa confiança em tribunais, contratos e partes vão cobrar seu preço
em termos de investimento e eficiência, ainda mais em uma economia baseada em
tecnologia complexa e avançada.
Sem mais inovação e produtividade, salários não aumentam. Se não se investe em mais tecnologia pró-trabalhador, renda e empregos estarão ameaçados. Se instituições importam, o programa de Trump terá um custo para a economia americana. O problema é que tais efeitos vão demorar para aparecer.
4 comentários:
Perdeu mané não amola!!
O choro é livre!!
Essa turma da esquerda não cansa com essa ladainha de narrativa esquerdista
" Não há respostas simples para problemas complexos. "
" Subjetividades ", especulações, apostas... e um futuro, em grande parte, ( quase ) incerto e ( quase ) indefinido.
" O futuro a Deus pertence. "
Por mais cerebrais ou " gurus " que fossem/sejam Marx ou os " Nobéis " de economia, o que podemos fazer é especular. Apontar e sugerir tendências. Isso é dizer o óbvio. Alguns acertam um pouco mais aqui; erram mais ali. E assim seguimos em meio ao indefinido.
😏😏😏
Muito boa a análise.
Sim, excelente análise!
Postar um comentário