O Estado de S. Paulo
Congresso volta das férias com sangue nos olhos, mas governo acha que marketing resolve tudo
Dia desses o presidente Lula reclamou para
ministros, no Palácio do Planalto, que faltavam cartazes de divulgação dos
programas do governo nas cidades. Lembrou dos tempos do país das maravilhas em
que muitas farmácias exibiam a inscrição “Aqui tem farmácia popular” e até
ônibus tinham propagandas afixadas.
“Não vejo mais esses cartazes”, protestou ele. “Nós estamos virando algoritmo.” Lula cobrou protagonismo desses e de outros projetos, como o Pé-deMeia, que dá bolsas para alunos do ensino médio e já teve quase duas dezenas de “lançamentos”.
É por isso que, até agora, a única mudança no
primeiro escalão do governo foi a do ministro de Comunicação Social. A entrada
do marqueteiro Sidônio Palmeira é vista pelo Planalto como uma espécie de
“salvação” do terceiro mandato de Lula.
A menos de duas semanas do fim das férias
parlamentares, no entanto, o presidente pode se preparar para um novo episódio
crítico desta temporada: o cabo de guerra com o Congresso.
O ano de 2024 terminou azedo por causa da
decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Flávio Dino de cortar
parte considerável das emendas parlamentares.
Diante desse cenário, o Congresso retoma as
atividades com sangue nos “olhos digitais”, como mostram as fake news sobre a
taxação do Pix. Após recuar para estancar o desgaste, o governo prepara agora
uma campanha dizendo que o Pix é “seguro” e “sem taxa”.
De qualquer forma, mesmo sob nova direção a
partir de 1.º de fevereiro, deputados e senadores prometem segurar votações
importantes, como a do Orçamento de 2025, enquanto não tiverem suas emendas.
Tanto Hugo Motta (Republicanos), favorito
para ocupar a presidência da Câmara, como Davi Alcolumbre (União Brasil), já
chamado de comandante do Senado, avisaram a Lula que o céu não está para
brigadeiro.
Somam-se a essas turbulências a reforma
ministerial encruada, as queixas do Centrão, a oposição disposta a barrar o
avanço do projeto que limita os supersalários, além da regulação de redes
sociais, e está formada uma nova crise.
Constam do pacote que promete enfurecer a
oposição temas sobre os quais o STF vai se debruçar. Na lista estão a
responsabilização das big techs e o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro
e seus aliados por tentativa de golpe.
Em um mundo no qual Bolsonaro acredita que o presidente dos EUA, Donald Trump, pode interferir na Justiça do Brasil para reverter sua inelegibilidade e Mark Zuckerberg, da Meta, afirma que países latino-americanos têm “tribunais secretos”, algo está muito errado. Dá até vontade de voltar à época dos cartazes defendidos por Lula.
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