O Estado de S. Paulo
Com o mercado de trabalho ainda mostrando
vigor, talvez seja cedo para falar de esfriamento
O ritmo de desaceleração da economia
brasileira tornou-se um dos assuntos mais discutidos entre analistas, na semana
passada, após os dados referentes a novembro da produção industrial, de vendas
do varejo e de volume de serviços terem registrado queda acentuada, e também
após alguns indicadores antecedentes já apontarem para outro recuo em dezembro.
Seria esse debate prematuro? Há motivo para considerar que os dados de novembro e a perspectiva para nova contração em dezembro são suficientes para indicar uma tendência mais preocupante para o desempenho da atividade ao longo de 2025? E se os números de dezembro vierem tão fracos como os de novembro, essa perda de fôlego poderia fazer o Banco Central hesitar em seu choque de juros para conter as expectativas inflacionárias?
Em novembro, a produção industrial caiu 0,6%
ante outubro; as vendas do varejo recuaram 0,4%; e o volume de serviços
contraiu 0,9%. Para dezembro, indicadores antecedentes da atividade registram
queda: tráfego de veículos pesados em estradas com pedágio (-3,3%); expedição
de papelão ondulado para embalagens (-4,2%); e vendas de veículos (-5,5%).
“Não há dúvida de que o aperto das condições
financeiras em novembro e dezembro vai acarretar consequências, seja a
depreciação do câmbio batendo na inflação, seja a alta dos juros afetando a
atividade econômica”, diz o economista-chefe para Brasil do banco Barclays,
Roberto Secemski. "Porém, isso leva tempo."
Para Secemski, é preciso cuidado ao avaliar a
contração nos dados de atividade de novembro. Exemplo: essa correção aconteceu
após crescimento forte desses indicadores em setembro e outubro. “É natural que
haja uma acomodação”, diz. Tanto que a média móvel trimestral desses dados
ainda não acende um alerta.
Há ainda a questão do número de dias úteis em
determinado mês, o que faz diferença nos resultados. Outubro de 2024 teve dois
dias úteis a mais do que igual mês de 2023, enquanto novembro de 2024 teve um
dia útil a menos na comparação com 2023. “O ajuste sazonal não necessariamente
capta por completo os deslocamentos que a mudança no número de dias úteis pode
causar no resultado”, diz Secemski.
Sem falar que, no caso das vendas do varejo,
a Black Friday caiu bastante tarde no calendário (na última sexta-feira do mês)
para os padrões dos consumidores. E mesmo com a queda geral no setor de
serviços, os serviços prestados às famílias cresceram 1,7%. Com o mercado de
trabalho ainda mostrando vigor, talvez seja cedo para o debate sobre o
esfriamento da economia.
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