A jornalista Dora Kramer é uma articulista
que me acostumei a ler com regularidade. Frequentemente, a leitura de sua
coluna na FSP suscita-me o reverente e ao mesmo tempo presunçoso comentário
privado de que "assinaria embaixo". Foi o caso, por exemplo, do
artigo da última quinta-feira, 29.05 ("A culpa não é da reeleição").
Nele, a colunista comenta falácias que prosperam, amiúde, quanto a supostos
males republicanos da regra da reeleição para cargos majoritários e a supostos
benefícios democráticos (e orçamentários) de haver menos, e não mais, eleições.
Veio-me um pensamento distinto ao ler o
artigo de Kramer na mesma coluna da FSP, nesta sexta-feira, 30, intitulado
"Marina como troféu na prateleira".
Dialogar com um texto de tão aguda e experiente articulista é o pretexto
que escolhi para reinaugurar esta coluna, que não publicava há três meses.
Acompanho inteiramente a colunista quando ela
aponta a impaciência que a visão da ministra Marina Silva sobre o "manejo
das questões ambientais" causa ao governo que integra e ao próprio
presidente. Também acompanho as suas avaliações de que a ministra tem perdido
todas as batalhas internas e externas que tem travado. E a de que daí resulta
um sinal de desprestígio da ministra, do qual senadores, oposicionistas e
governistas, adversários de suas teses, tiram proveito para desacatá-la.
Nesse sentido, é feliz a definição de Kramer
sobre os fatos ocorridos esta semana no Senado como uma "afronta
suprapartidária". Do mesmo modo, é fiel aos fatos apontar o contraste
entre a fragilidade da ministra, comunicada pela falta de apoio do próprio
governo (é fato que o líder do governo na Casa evitou se envolver na querela) e
a força e firmeza de Marina na discussão ocorrida, culminando com sua digna e
altiva retirada do recinto. É fato também que, apesar de ter se saído bem, é
provável que continue a acumular derrotas fáticas, não só em face da maioria
adversária no Congresso, como pela inclinação do presidente da República a
temer o poder do presidente do Senado. Por fim, é arguta a percepção da
colunista de que Marina seguirá sendo exibida pelo governo como troféu para o
mundo ver, enquanto objetivamente o próprio governo ajuda a "passar a boiada"
que sua ministra tenta conter.