sábado, 31 de maio de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Ultimato de Motta abre oportunidade ao Congresso

O Globo

Mais que apenas rever alta do IOF, parlamentares devem adotar agenda para recobrar saúde fiscal do Estado

O ultimato do presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), ao governo para encontrar alternativas ao aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) oferece ao Congresso a oportunidade de se tornar protagonista de uma ampla reforma das contas públicas. Mantida a situação atual, a dívida não parará de subir, e a economia continuará presa à armadilha de baixo crescimento e juros altos. Derrubar a alta do IOF dará o recado necessário a um governo sempre disposto a aumentar a pesada carga tributária para cobrir despesas extravagantes. Mas é evidente que a saúde fiscal do Estado não será recobrada apenas com tal medida.

Um país sem elites - Marco Aurélio Nogueira*

O Estado de S. Paulo

O Brasil não reconhece mais a si próprio, não consegue compreender a profundidade das mudanças em curso e não faz escolhas inteligentes

Nenhuma sociedade pode ser indiferente à sua história. Ela transmite características que condicionam o modo como as sociedades vão se forjando. Pode até mesmo fornecer certas “vantagens”. É preciso, portanto, avaliar com rigor o “peso do passado”.

No imaginário brasileiro, porém, o passado seria uma maldição. Fomos nos acostumando a selecionar aspectos particularmente nefastos de nossa história – a escravidão, as ditaduras, as desigualdades reproduzidas ao longo do tempo – para, então, concluir que estamos avançando com bolas de chumbo presas aos pés, levando-nos a buscar modelos externos (países europeus ou os Estados Unidos) para nos inspirar. Com isso, deixamos de lado o que houve de virtuoso e “vantajoso” antes.

Sobre Marina Silva e mais além - Paulo Fábio Dantas Neto*

A jornalista Dora Kramer é uma articulista que me acostumei a ler com regularidade. Frequentemente, a leitura de sua coluna na FSP suscita-me o reverente e ao mesmo tempo presunçoso comentário privado de que "assinaria embaixo". Foi o caso, por exemplo, do artigo da última quinta-feira, 29.05 ("A culpa não é da reeleição"). Nele, a colunista comenta falácias que prosperam, amiúde, quanto a supostos males republicanos da regra da reeleição para cargos majoritários e a supostos benefícios democráticos (e orçamentários) de haver menos, e não mais, eleições.

Veio-me um pensamento distinto ao ler o artigo de Kramer na mesma coluna da FSP, nesta sexta-feira, 30, intitulado "Marina como troféu na prateleira".  Dialogar com um texto de tão aguda e experiente articulista é o pretexto que escolhi para reinaugurar esta coluna, que não publicava há três meses.

Acompanho inteiramente a colunista quando ela aponta a impaciência que a visão da ministra Marina Silva sobre o "manejo das questões ambientais" causa ao governo que integra e ao próprio presidente. Também acompanho as suas avaliações de que a ministra tem perdido todas as batalhas internas e externas que tem travado. E a de que daí resulta um sinal de desprestígio da ministra, do qual senadores, oposicionistas e governistas, adversários de suas teses, tiram proveito para desacatá-la.

Nesse sentido, é feliz a definição de Kramer sobre os fatos ocorridos esta semana no Senado como uma "afronta suprapartidária". Do mesmo modo, é fiel aos fatos apontar o contraste entre a fragilidade da ministra, comunicada pela falta de apoio do próprio governo (é fato que o líder do governo na Casa evitou se envolver na querela) e a força e firmeza de Marina na discussão ocorrida, culminando com sua digna e altiva retirada do recinto. É fato também que, apesar de ter se saído bem, é provável que continue a acumular derrotas fáticas, não só em face da maioria adversária no Congresso, como pela inclinação do presidente da República a temer o poder do presidente do Senado. Por fim, é arguta a percepção da colunista de que Marina seguirá sendo exibida pelo governo como troféu para o mundo ver, enquanto objetivamente o próprio governo ajuda a "passar a boiada" que sua ministra tenta conter.

À margem dos nossos cinco séculos - Bolívar Lamounier

O Estado de S. Paulo

Nosso triste percurso culminou no chamado Centrão, e não podemos descartar a hipótese de um partido dos ‘leiloeiros’

Escrevo esta crônica duas vezes por mês na vã esperança de prestar algum serviço intelectual ao Brasil e, principalmente, como reconhecimento pela honra que este grande jornal me proporciona.

Não sendo propriamente um guerreiro, devo confessar que às vezes me vejo abatido pela dificuldade de encontrar um fio condutor e tendo a atribuir esse fato à montanha de deficiências que acumulamos em nossos 525 anos de história. Que a situação em que nos encontramos tem muito pouco de alvissareiro é óbvio. Com algum esforço e aproveitando alguns bons momentos, poderíamos cogitar um futuro com mais chances de sorrir do que de chorar. O problema é que mal sabemos quem somos.

Riscos do populismo judicial - Oscar Vilhena Vieira

Folha de S. Paulo

Judiciário compromissado com a Constituição é essencial para o funcionamento da democracia

Neste domingo (1°), os mexicanos irão às urnas para eleger cerca de 900 juízes federais, 1.800 estaduais e locais, além dos nove membros da Suprema Corte. Essa é a primeira fase de um processo que busca substituir todos os atuais magistrados mexicanos por juízes eleitos.

Esse experimento inusitado é decorrência de uma ampla reforma constitucional promovida pelo então presidente López Obrador, sob o argumento de que o Judiciário mexicano era elitista, corrupto, inoperante e cercado de privilégios, sendo necessário democratizá-lo.

Onde o tempo não passou - André Gustavo Stumpf

Correio Braziliense

Políticos de todos os quilates e ideologias carecem de uma atualização de seus conceitos políticos. Precisam ser contemporâneos de seu tempo

O debate da ministra Marina Silva com os senadores, antes e além das questões pessoais ou eventuais grosserias, demonstrou algumas verdades. O governo não se mobilizou para defender sua ministra do Meio Ambiente. Ela foi jogada às feras e ficou só. Os senadores não conseguiram conduzir um questionamento coerente, do que derivaram os ataques pessoais. Por último, a ministra perdeu a oportunidade para expor os motivos pelos quais até hoje não autorizou o asfaltamento da BR-319, a rodovia que liga Manaus a Porto Velho e, por consequência, ao resto do país. Uma boa oportunidade perdida por todos, inclusive pelo governo Lula, que vive na corda bamba. Não consegue defender a ministra nem avançar nas questões ambientais. Fica estacionado no discurso de boas intenções. 

O que não entendo nos conservadores – Pablo Ortellado

O Globo

Não consigo entender a condescendência com o golpismo e com os golpistas

Nos últimos dez anos, tenho tentado entender a polarização política e um de seus polos: os conservadores. Não é curiosidade, é dever profissional. Entendi algumas coisas — e o que aprendi me ajudou a respeitá-los. Mas pelo menos uma coisa não consigo entender. Não sei se não entendo porque olho de fora, porque não sou conservador. O cientista político Cas Mudde chama a atenção para o fato de a direita ser o único grupo político que não é estudado por simpatizantes, mas por adversários. Isso certamente deve criar uma barreira ao entendimento.

Compreendo bem a importância que os conservadores dão ao combate à corrupção. Corrupção é roubo do patrimônio público, é um tipo especialmente abjeto de roubo. Entendo também a indignação desse campo contra a esquerda, porque o PT não fez a autocrítica que deveria sobre seus malfeitos — uma parte dos simpatizantes do partido tergiversa e outra menospreza os roubos na Petrobras. Quando olho para isso, também sinto raiva do PT.

Como vai você, geração 80? - Eduardo Affonso

O Globo

Somos um grupo que não poderá dizer que seus heróis morreram de overdose (ainda que os inimigos estejam no poder)

Quando nasci, minha avó era uma velhinha de 60 anos. Cabelos brancos, presos com uma travessa, chinelos baixos, vestido desenxabido, de florzinhas miúdas (que, no interior de Minas, se chamava maria-mijona). Varizes, muitas. Rugas, incontáveis. Olhos cansados, frequentemente em busca dos óculos que estavam bem ali, na ponta do nariz. Suas netas — hoje com bem mais de 60 e também já avós — vão à academia, andam de salto alto, fazem uso de tecnologias inimagináveis naquele passado longínquo, que foi ontem.

O imortal Austregésilo de Athayde — que parecia ter mesmo o dom da imortalidade — chegou aos 90 anos quase como símbolo de uma era extinta. Aos 92, o ator Othon Bastos vive o auge da carreira — lotando teatros, aplaudido de pé — com a peça que diz, já no título, a que veio: “Não me entrego, não”.

O ‘lenga-lenga’ e a política ambiental – Carlos Alberto Sardenberg

O Globo

Está claro que a atual legislação e seus processos precisam de reforma para se tornar mais ágeis e eficientes

A ministra Marina Silva diz que o Projeto de Lei aprovado no Senado desmonta totalmente o sistema de licenciamento ambiental vigente no Brasil. Para ela, o atual regime é robusto e tem produzido bons resultados. Por isso, pede a ação do governo a que pertence para combater aquele projeto. O problema imediato está na base do governo. Partidos que a integram — e têm ministérios — votaram pelo projeto que, de fato, muda radicalmente as regras ambientais.

Mas há outro obstáculo, maior e mais difícil. Esse sistema que a ministra considera robusto é aquele mesmo que o presidente Lula, em pessoa e há pouco tempo, chamou de “lenga-lenga”. Lembram? O presidente estava reclamando que o Ibama — órgão subordinado ao ministério de Marina — atrasava, talvez até de propósito, a autorização para a Petrobras procurar petróleo na Margem Equatorial.

A contradição é total. Aquilo que a ministra considera fases técnicas de um processo de licenciamento, o presidente chamou de “lenga-lenga”. Logo, cabe a pergunta: qual é a posição efetiva do governo, a de Lula ou a da ministra?

Cada país tem o Congresso que merece - Nelson Motta

O Globo

Repórteres e cronistas de política deveriam receber um adicional de insalubridade em seus salários. O nível nunca esteve tão baixo entre as bancadas de interesses

“Não reclamem do atual Congresso, o próximo será sempre pior.” É o axioma de Ulysses Guimarães, um dos maiores e melhores congressistas de nossa História, que tem sido robustamente comprovado pelos fatos nas últimas décadas. A prova é que nunca tivemos um Congresso tão ruim como o atual, pior até que a sinistra leva que o antecedeu, quando o Congresso foi invadido por bárbaros a serviço de si mesmos, por personagens bizarros, das mais bizarras crenças e causas e interesses. São eles que mandam, o Congresso tem cada vez mais poder e dinheiro, e paradoxalmente, ou não, nunca foi tão poderoso, e tão ruim. No amplo espectro partidário, com raras exceções. Claro que eles estão lá porque foram escolhidos livremente em eleições democráticas. Teoricamente seriam representantes do povo que os elegeu, mas na prática representam eles mesmos e seus interesses, cada vez mais rasteiros e danosos ao povo, que vota cada vez pior. Um círculo viciado e sem perspectivas de melhoras. Os melhores e mais experientes jornalistas de política são testemunhas de acusação. Cada país tem o Congresso que merece.

Resultado do PIB 1º trimestre reforça viés de alta para projeções de 2025 – Míriam Leitão

Por Ana Carolina Diniz / O Globo

O PIB cresceu 1,4% no primeiro trimestre de 2025 em relação ao quarto trimestre de 2024, segundo dados divulgados pelo IBGE. Na comparação anual, a economia avançou 2,9%, resultado que, embora abaixo da expectativa de 1,5%.

Com o resultado, as projeções para o PIB de 2025 passaram a ter um viés de alta, mas com expectativa de desaceleração gradual nos próximos trimestres. Luis Otávio Leal, sócio e economista-chefe da G5 Partner, por exemplo, manteve a previsão de crescimento de 2,3% neste ano, mas é possível adicionar um viés de alta para a estimativa do ano.

Para Natalie Victal, economista-chefe da SulAmérica Investimentos, o "carrego" estatístico deixado pelo resultado — estimado em 2,2% — deve levar a revisões altistas no consenso de mercado, aproximando-se da projeção da casa, de 2,5% para o ano.

- O cheiro inicial é que deve levar a revisões altistas do consenso em direção aos nossos 2,5%. No entanto, o PIB faz com que nossa visão sobre o balanço de riscos da nossa projeção fique mais equilibrada.

Trump contra a Europa - Demétrio Magnoli

Folha de S. Paulo

A narrativa do presidente americano sobre a União Europeia escorre de uma lagoa de ódio

50%. A tarifa brandida por Trump contra a União Europeia (UE) representaria um embargo comercial. A ameaça surge junto com a trégua tarifária firmada com a China. O presidente dos EUA devota genuíno ódio à UE –e tem seus motivos para isso.

"A União Europeia foi formada com a finalidade de tirar vantagem dos EUA. É este o seu propósito –e eles fizeram um bom trabalho nessa direção." A UE existiria para extrair benefícios unilaterais do comércio com os EUA e, ainda, para terceirizar os custos de sua segurança militar. O diagnóstico de Trump sintetiza uma visão de mundo.

Legalizar sem estimular - Hélio Schwartsman

Folha de S. Paulo

Projeto do Senado que limita publicidade de bets é um avanço, mas versão inicial que bania a propaganda era melhor

Tudo é relativo. O projeto de lei aprovado pelo Senado que restringe a publicidade de bets é preferível à situação atual, em que reclames correm soltos em TVs, rádios e internet, mas eu ainda acho que a versão inicial da proposta, que bania qualquer forma de propaganda, incluindo patrocínios, era melhor.

Não digo isso por moralismo. Defendo há décadas a legalização e a regulamentação do jogo, assim como a de drogas para uso recreativo. E é justamente desse paralelismo que extraio meu argumento antipublicidade.

Eduardo Bolsonaro transfere gabinete do golpe para os EUA - Alvaro Costa e Silva

Folha de S. Paulo

Campanha para que governo Trump aplique sanções é parte do plano para salvar o capitão

O plano de ação estava delineado desde o início do ano. O objetivo: "proteger o líder", como descreveu um aliado de Bolsonaro, criando um ambiente que impeça uma ordem de prisão e possa torná-lo apto às eleições de 2026.

Daí o empenho na aprovação do projeto de anistia aos presos do 8/1, tão abrangente que alcançaria quem tivesse participado de atos passados e futuros. Cogitou-se alterar a Lei da Ficha Limpa, reduzindo o tempo de condenação. A agenda corporativista foi utilizada para pedir a suspensão da ação penal contra o deputado Ramagem, adrede trancando o processo da trama golpista.

Entrevista | João Campos: ‘Mundo ideal é puxar centro para perto e não jogá-lo para direita’

Marianna Holannda / Folha de S. Paulo

Brasília - Prefeito do Recife e novo presidente nacional do PSBJoão Campos defende que o ideal para a eleição em 2026 é trazer o centro para perto e não jogá-lo para a direita.

O jovem de 31 anos foi reeleito com 78% dos votos ano passado numa ampla coalizão e defende que Lula (PT) reedite a frente ampla, com Geraldo Alckmin (PSB) na vice. Mas, para isso, é preciso atrair não apenas os partidos de centro, mas segmentos da sociedade não polarizados em torno de uma agenda comum.

João defende uma aproximação maior da igreja, do agronegócio, de autônomos —todos setores com os quais o governo tem dificuldade de relacionamento.

Em convenção nesta sexta-feira (30), o PSB oficializará o prefeito como presidente nacional do partido, cargo que já foi ocupado por seu bisavô, Miguel Arraes (1916-2005), e por seu pai, Eduardo Campos (1965-2014).

Viva o Cinema Brasileiro! - Marcus Pestana

O cinema brasileiro vive um momento excepcional. O cinema condensa a vitalidade cultural de um povo, de um país. Por um motivo simples: nele reside o espaço de convergência de todas as outras formas de arte. Literatura, música, teatro, arquitetura, artes plásticas, escultura e dança se encontram no cinema.

Assistir a um bom filme na sala escura transforma consciências e atitudes, desperta emoções inimagináveis, alimenta fantasias. Apesar do cinema brasileiro carregar o nosso DNA, refletindo nossa originalidade e identidade nacional, é também universal pelos sentimentos humanos que reflete e desperta.

A nova geração de professores - Cristovam Buarque

Revista Veja

Qual é o papel do Estado ao atrair os jovens para o magistério?

Faz anos ouvi da então senadora Heloísa Helena: “Se o Brasil adotasse uma geração de brasileiros desde o nascimento, quando adultos eles adotariam o Brasil”. Semana passada, em um seminário promovido pelo Instituto Brasileiro Pró-­Cidadania, no Recife, o professor Cesar Callegari ampliou o raciocínio: “Para fazer a educação que o Brasil precisa, é necessário formar uma nova geração de professores”. Essas duas frases se complementam e deveriam inspirar a preparação do novo Plano Nacional de Educação (PNE), para que ele não seja a repetição dos dois anteriores: burocráticos, sem ambição, sem indicação da responsabilidade por sua execução e presos à lógica de prometer mais recursos, não de definir a estratégia para darmos o necessário salto no ensino dos brasileiros, na qualidade e na equidade.

Poesia | Mãos Dadas, de Carlos Drummond de Andrade, com Georgette Fadel

 

Música | Duda do Recife - Suíte Nordestina (Duda do Recife) - Arranjadores

 

sexta-feira, 30 de maio de 2025

Opinião do dia – Theodor W. Adorno* (Radicalismo de direita)

“Bom, minhas senhoras e meus senhores, eu repito que estou consciente de que o radicalismo de direita não é um problema psicológico e ideológico, mas um problema muitíssimo real e político. Mas aquilo que é objetivamente falso, não verdadeiro de sua própria substância, o força a operar com meios ideológicos, isto é, nesse caso, com meios propagandísticos.  E por isso, além da luta política e dos meios puramente políticos, ele deve ser enfrentado no seu próprio terreno. Mas não se trata de colocar mentira contra mentira, de tentar ser tão esperto quanto eles, mas de realmente contrapor-se a eles com uma força decisiva da razão, com a verdade realmente não ideológica.

Talvez alguns entre os senhores me perguntarão ou me perguntariam o que penso sob o futuro do radicalismo de direita. Penso que essa pergunta é falsa, pois ela é demasiado contemplativa. Nessa forma de pensar, que vê de antemão essas coisas como catástrofes naturais, sobre as quais se fazem previsões assim como sobre furacões ou sobre desastres meteorológicos, há já uma espécie de resignação na qual as pessoas desligam-se enquanto sujeitos políticos, há aí uma má relação de espectador com a realidade. Como essas coisas vão evoluir e a responsabilidade sobre como elas vão evoluir – isso depende, em última instância, de nós. Agradeço pela atenção.

*Theodor W. Adorno (11/9/1903-6/8/1969), filósofo, sociólogo, musicólogo e compositor alemão. É um dos expoentes da chamada Escola de Frankfurt, juntamente com Max Horkheimer, Walter Benjamin, Herbert Marcuse, Jürgen Habermas, entre outros. Conferência realizada no dia 6 de abril de 1967, a convite da União dos Estudantes Socialista da Áustria. “Aspectos do novo radicalismo de direita”, p.76. Editora Unesp, 2020.

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Itamaraty agiu bem ante novo visto americano

O Globo

Até agora, não houve medida concreta contra autoridades brasileiras, e não interessa ao país inflamar os ânimos

Tem sido positiva a postura do Itamaraty em relação à nova política de vistos anunciada pelos Estados Unidos. Na quarta-feira, o secretário de Estado, Marco Rubio, declarou que restringirá a entrada no país de autoridades estrangeiras “cúmplices na censura a americanos”, citando América Latina e Europa. Em depoimento a parlamentares americanos, ele antes mencionara a possibilidade de impor sanções contra o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes. Apesar de ser uma medida sem cabimento, a reação da diplomacia brasileira foi serena e cautelosa, e é essencial que se mantenha assim. Por enquanto, não houve nenhuma medida concreta contra autoridades brasileiras, e o país tem outros interesses a defender na relação bilateral com os americanos, em particular no campo das tarifas. Não interessa ao Brasil inflamar os ânimos.

Bloqueios da democracia - José de Souza Martins*

Valor Econômico

O Brasil está se confirmando como um país atrasado. Sem autenticidade em campos decisivos da sociedade moderna, mas autênticos na sociabilidade conflitiva fundada no ódio

Nestes dias em que tem andamento o exame das denúncias de tentativa de golpe de Estado em eventos relacionados com a eleição presidencial de 2022 e suas decorrências em 2023, as revelações dizem que fomos transformados em subcidadãos de um país-fantasma.

O Brasil está se confirmando como um país atrasado. Somos um país pós-moderno sem termos sido antes um país moderno. Consumidos pelo equívoco de que somos competentes porque imitadores e copistas. Sem autenticidade em campos decisivos da sociedade moderna: na economia, na política, nas religiões. Mas autênticos na sociabilidade conflitiva fundada no ódio. Somos inimigos de nós mesmos.

Mesmo se der errado, vai dar certo, diz Lula - Andrea Jubé

Valor Econômico

Sensação no Palácio é que com Lula está difícil, mas sem ele a derrota é certa

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e seus aliados vivem um turbilhão de emoções. Com a popularidade ainda ao rés do chão, Lula segue reafirmando-se um “otimista”, enquanto os petistas não escondem a apreensão com o cenário adverso, o governo fora dos trilhos e a falta de estratégia para 2026.

Uma percepção é de que Lula está cada vez mais “autossuficiente”, avesso a críticas e conselhos. “Ele [Lula] tem um plano na cabeça, mas não contou pra ninguém qual será”, comentou um petista. A situação agrava-se diante da constatação unânime entre aliados de que têm uma única carta na mão para 2026, que é Lula. “Se com ele será difícil, sem ele, vamos perder”, afirmou um aliado.

Da fraqueza à força – Flávia Oliveira

O Globo

Numa democracia, argumentos da ministra não só podem, como devem ser debatidos civilizada e respeitosamente

Se do caos florescer um mínimo de boa política, o Brasil terá — de novo — produzido o que a juventude gosta de chamar de plot twist no roteiro sempre novelesco da História nacional. A ministra do Meio Ambiente foi acolhida, acarinhada e ouvida, como poucas vezes fora, depois da emboscada de que foi vítima em audiência na Comissão de Infraestrutura do Senado. Das entrevistas e posts em rede social, emergiu o discurso político corajoso e assertivo que Marina Silva andava sem espaço para exibir. Lembrou muito a candidata a presidente de outras eleições.

Não ficaremos sabendo da reação do eleitorado, porque os institutos de pesquisa não incluem mulheres nas consultas sobre a corrida presidencial de 2026 — a exceção é a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro (PL). Nem Simone Tebet (MDB-MS), hoje ministra do Planejamento, nem Soraya Thronicke (Podemos-MS), ambas candidatas em 2022, presenças constantes nos debates, são consideradas. É mais uma dimensão da violência política de gênero — nesse caso, pela via da invisibilidade —, que se desnudou em misoginia escancarada contra Marina no Senado.

Repercussão nas redes houve. A Quaest acompanhou as reações à aprovação pelos senadores da Lei Geral do Licenciamento Ambiental, apelidado pelos apoiadores de PL Destrava Brasil; pelos críticos, de PL da Devastação. De 15 a 27 de maio, o instituto identificou pouco mais de 48 mil menções ao tema, com impacto em 52 milhões de internautas. Metade (49%) das referências eram negativas; 12%, favoráveis.

Haddad sem munição - Vera Magalhães

O Globo

Falta de plano B ao decreto do IOF reforça percepção de que o arcabouço fiscal proposto pelo ministro é frágil

Não se trata só de teimosia a insistência de Fernando Haddad em manter o decreto de aumento do IOF sobre várias operações. O ministro da Fazenda está sem munição para manter de pé o arcabouço fiscal aprovado há menos de dois anos. A constatação de que não há plano B viável para cumprir a meta fiscal deste ano ficou patente para todos os que conversaram com ele nos últimos dias, em encontros sempre envoltos em tensão e tentativas vãs de convencer os interlocutores de que as medidas foram justas.

Haddad na fogueira - Bernardo Mello Franco

O Globo

Parlamentares cobram cortes do governo, mas não abrem mão de R$ 50 bi em emendas

Em visita a um assentamento no interior do Paraná, Fernando Haddad se queixou ontem das críticas e do “sofrimento” da vida de ministro em Brasília. O amargor tende a aumentar nos próximos dias, a julgar pelo clima na capital.

Desde que assumiu o cargo, o titular da Fazenda é alvo de fogo amigo no Planalto e no PT. Agora a artilharia também parte do Congresso, que exige a revogação da alta do IOF.

Na quarta-feira, o ministro tentou dobrar os presidentes do Senado e da Câmara com um cenário apocalíptico: sem o aumento de imposto, faltaria dinheiro para fechar as contas, e a máquina pública entraria em colapso.

Tributando mal - Laura Karpuska

O Estado de S. Paulo

Na discussão de política tributária, é essencial combater desigualdades sem ampliar as distorções

O tamanho do Estado não determina, por si só, a eficiência econômica de um país. Há exemplos de governos grandes que funcionam bem – e outros que não funcionam. O mesmo vale para Estados mais enxutos. Países bem-sucedidos não seguem uma fórmula única. É a qualidade das instituições e a forma como usam, com maior ou menor eficiência, os recursos públicos que determinam o bem-estar em um país.

Essa qualidade institucional se expressa de várias formas. Um sistema de impostos claro, progressivo e previsível reduz incertezas, melhora a arrecadação e distribui com mais justiça o ônus da máquina pública. Também importa ter uma agenda de governo coerente e transparente, com prioridades bem definidas e metas realistas. Não se trata apenas de gastar ou arrecadar mais ou menos, mas de fazê-lo com propósito e clareza.

O admirável mundo novo de Trump – Eliane Cantanhêde

O Estado de S. Paulo

Trump, que persegue críticos nos EUA, está mesmo preocupado com liberdade de expressão no Brasil?

A última das preocupações de Donald Trump, ao ameaçar sanções a Alexandre de Moraes, ao Brasil ou genericamente a autoridades da América Latina e da Europa, é com liberdade de expressão. Trump, que persegue universidades, professores e alunos que condenem o genocídio em Gaza ou pensem diferente dele, não está nem aí para censura, liberdade de expressão, direitos, tudo bobagem.

Ele só pensa em poder, dinheiro e em impor crenças pessoais e vontades, logo, quando ele destaca o secretário de Estado Marco Rubio para jogar ameaças no ar, está só defendendo interesses, lucros e a liberdade para divulgar fake news e ódio das big techs, que financiam suas campanhas, apoiam seu governo e sabem como tirar boas vantagens disso.

O tarifaço de Trump nos tribunais – Celso Ming

O Estado de S. Paulo

O tarifaço do presidente Donald Trump sofreu, na última quarta-feira, seu maior golpe, quando o Tribunal de Comércio Internacional dos Estados Unidos julgou inválidas as decisões que envolvem o pacote. Pode ser o começo da reversão da política de Trump, mas, nem por isso, ficam neutralizadas as incertezas que pairam sobre a economia mundial. Ao contrário, as incertezas aumentam.

O argumento de fundo do Tribunal é o de que, por disposição constitucional, comércio exterior é exclusivamente atribuição do Congresso dos Estados Unidos, e não do Executivo.

Notícias de novo cessar-fogo entre judeus e palestinos na Faixa de Gaza – Luiz Carlos Azedo

Correio Braziliense

Netanyahu aceitou uma proposta de Trump para interromper o massacre na Faixa de Gaza e libertar os reféns israelenses. O Hamas analisa os termos do acordo

O falecido historiador britânico-judeu Tony Judt, num artigo intitulado O que fazer?, em 2009, vaticinou que a opção de deixar "mediocridades incompetentes" à frente de Israel e da Autoridade Palestina teria consequências catastróficas. "Graças ao tratamento abusivo dos palestinos pelo 'Estado judeu', o imbróglio israelense-palestino é o motivo mais iminente para o ressurgimento do antissemitismo em todo o mundo. É o fator mais eficiente no recrutamento de agentes para os movimentos islâmicos radicais. E priva de um sentido as políticas externas dos Estados Unidos e da União Europeia para uma das regiões mais delicadas e instáveis do mundo. Algo diferente precisa ser feito."

Afinal, vivemos numa democracia? - Orlando Thomé Cordeiro*

Correio Braziliense

Essa indagação merece uma reflexão para além da simples marcação de posição, de um lado ou de outro da polarização política presente

Essa indagação tem sido cada vez mais comum nas redes sociais e merece uma reflexão para além da simples marcação de posição, de um lado ou de outro da polarização política presente. 

Para tanto, vale a pena recorrer a uma afirmação de Rui Barbosa: "A pior democracia é preferível à melhor das ditaduras". Essa deve ser a premissa a balizar qualquer a análise que se faça sobre o atual cenário brasileiro, mas reconhecendo o que afirmou Winston Churchill: "Muitas formas de governo foram tentadas, e serão testadas neste mundo de pecado e aflição. Ninguém finge que a democracia é perfeita ou onisciente. De fato, diz-se que a democracia é a pior forma de governo exceto todas as outras formas que foram testadas de tempos em tempos".

Quanto vale um deputado? – José Sarney*

Correio Braziliense

É hora de acabarmos com o ódio e marchamos para uma convivência civilizada em que os nossos juízes, deputados e senadores, tão atacados, se unam no interesse público

Como reagir ao saber da notícia de que, em Mato Grosso, a Polícia Federal chegou ao fim de uma investigação para saber quem tinha assassinado o advogado Roberto Zampieri, que estava permanentemente lutando contra a corrupção na Justiça naquele Estado, e, quando concluiu o trabalho, o que a polícia encontrou, para o estarrecimento de todos e vergonha para o país? Uma empresa estruturada com uma tabela de preços para a prática de crimes hediondos, chegando ao maior deles: o homicídio.

Na tabela, os criminosos precificaram um deputado: vale cem mil reais. A revelação desses fatos nos levou à indignação, sentimento que chegou também a toda a sociedade. É, sem dúvida nenhuma, a perspectiva ou certeza de impunidade. Só essa hipótese pode explicar tanta ousadia. Não uso "coragem" porque essa é uma palavra que não pode ser aplicada para bandidos, para o mundo do crime.

Congresso deve ao menos R$ 41 bilhões para o ajuste fiscal - Bráulio Borges*

Folha de S. Paulo

Responsabilidade com o equilíbrio das contas públicas não deve caber só à União

O Relatório de Avaliação de Receitas e Despesas do segundo bimestre, divulgado na semana passada, apontou uma revisão para baixo, comparativamente à Lei Orçamentária Anual (LOA), de quase R$ 32 bilhões das receitas fiscais do Governo Federal.

Boa parte disso refletiu uma postura mais realista quanto à expectativa de ingressos extraordinários associados às transações tributárias. Descontando o aumento esperado das transferências para estados e municípios, a receita que sobra para a União recuou em quase R$ 42 bilhões ante aquela que consta da LOA.

Por outro lado, também em relação à LOA, houve uma revisão para cima das despesas obrigatórias, de pouco mais de R$ 36 bilhões –explicada sobretudo por reavaliações para cima dos gastos com benefícios previdenciários (aumento de quase R$ 17 bilhões) e com equalização de juros do Plano Safra (R$ 5,3 bilhões).

O déficit e a hipocrisia da elite - Vinicius Torres Freire

Folha de S. Paulo

Parlamentares posam de responsáveis, mas têm culpa no cartório da dívida e ajudam amigos

Lideranças do Congresso falam de modo solene, santarrão, oportunista ou hipócrita sobre o conserto das contas do governo. Dizem que Lula 3 tem de cortar gastos em vez de aumentar impostos, como o IOF.

O governo quer mais R$ 20 bilhões neste ano a fim de cumprir as metas relaxadas de déficit do arcabouço fiscal. Diz que o Congresso não faz sua parte, que prorroga ou cria reduções de impostos para empresas —verdade. Grandes empresas e profissionais de alta renda reclamam de impostos e gastos, mas muitos se beneficiam do esquemão.

Trump sabe que Eduardo Bolsonaro é um idiota – Ruy Castro

Folha de S. Paulo

Mas sabe também que ele é útil no seu programa de fazer do mundo um grande McDonald's

Há anos, quando teve seu nome cogitado para embaixador do Brasil em Washington, Eduardo Bolsonaro não quis apresentar seus créditos em relações internacionais, política econômica e domínio da história. Justificou seus méritos para o cargo alegando já ter "fritado hamburguer nos EUA". O Itamaraty tremeu. Que outro representante brasileiro junto ao governo americano, em 200 anos de história entre os dois países, já teria feito isso? Joaquim Nabuco? Oswaldo Aranha? Carlos Martins? Walther Moreira Salles? Vasco Leitão da Cunha?

Marina como troféu na prateleira – Dora Kramer

Folha de S. Paulo

Lula exibe a ministra como ícone ambiental enquanto avaliza derrotas em série impostas a ela

Não há dúvida de que a visão da ministra Marina Silva (Rede) sobre o manejo das questões ambientais está longe contar com a simpatia de boa parte do governo, a começar pelo presidente da República, cuja impaciência com certos entraves normativos da área ele nunca escondeu.

Até aí, nada de muito excepcional. Não há unanimidades na Esplanada, como bem podem atestar ministros sob a permanente mira dos fogos amigo e inimigo. Fernando Haddad, por exemplo, nessa lide tem se destacado.

Baixaria também é informação - Hélio Schwartsman

Folha de S. Paulo

Ataques de senadores a Marina Silva são degradantes, mas revelam coisas importantes sobre os parlamentares

Assustado com o nível de baixaria nos ataques de senadores a Marina Silva? Eu também, mas admito que sou um pouco ambivalente em relação a espetáculos deste jaez. Eles são moralmente degradantes, mas etnograficamente valiosos. Revelam informações importantes sobre atores que deveríamos conhecer.

O senador Omar Aziz (PSD-AM), por exemplo, me enganou por um tempo. Sua atuação em geral correta na CPI da Covid fez com que eu o visse como um político diferenciado para o lado do bem. Seu destempero contra a ministra, porém, me leva a reclassificá-lo. Agora acho que ele não se distingue tanto da massa de parlamentares que coloca interesses paroquiais à frente de todos os outros valores. Para atacar Marina, ele não hesitou em atropelar o cavalheirismo, o decoro e até os fatos.

Poesia | Poema da Necessidade, de Carlos Drummond de Andrade

 

Música | Clara Nunes - Minha Missão (João Nogueira)

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quinta-feira, 29 de maio de 2025

Opinião do dia - Karl Marx* - Democracia

“Dignidade pessoal do homem, a liberdade, seria necessário primeiramente despertá-la no peito desses homens. Somente esse sentimento que, com os gregos, desaparece desse mundo, e que, com o cristianismo, se evapora no azul do céu pode de novo fazer da sociedade uma comunidade dos homens, para atingir seus fins mais elevados: um Estado democrático.”

*Karl Marx (1818-1883), Euvres, III, Philosophie, p. 383, citado em “A democracia contra o Estado”, p.54. Editora UFMG, 1998.

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Agressão a Marina promove agenda da devastação

O Globo

Debate sobre impacto ambiental deve ser feito com argumentos técnicos. Ofensas a ministra são inaceitáveis

Foram vexaminosas as ofensas desferidas contra a ministra do Meio AmbienteMarina Silva, em audiência da Comissão de Infraestrutura do Senado. Seu depoimento deveria tratar da atuação de órgãos ambientais na análise do pedido da Petrobras para pesquisas na Margem Equatorial, mas descambou para temas alheios ao objetivo. O resultado foi um show de desrespeito e grosseria que não se coaduna com o exercício da atividade parlamentar. Nada a ver com debate de ideias. Sem ser socorrida nem mesmo pela base governista, Marina deixou a sessão sem ter recebido sequer um pedido formal de desculpas.

O céu vira um inferno - Merval Pereira

O Globo

Impressionou a cara de pau de alguns senadores, que a trataram de maneira vil, sem o menor constrangimento, sem pudor, com grosseria inaceitável

O Senado Federal foi descrito certa vez pelo antropólogo Darcy Ribeiro como “o céu na terra”, para o qual podia-se entrar sem morrer. Referia-se ao longo período do mandato, de oito anos (que podem virar dez pela reforma proposta), e ao alto nível dos debates parlamentares. Lá reuniam-se os grandes líderes que chegaram ao ápice da carreira política depois de passar, na maior parte dos casos, por todos os degraus.

Eram ex-governadores, líderes regionais, grandes oradores, como Tancredo Neves, Paulo Brossard, Afonso Arinos, Teotônio Vilela, ex-presidentes da República e outros que pontificavam nas tribunas, não raro atraindo a atenção de parlamentares e do público. Hoje, as tribunas são ocupadas por jogadores de futebol, influencers, artistas de diversos quilates, que têm votos por razões outras que não as qualidades de grandes líderes políticos ou a oratória.