terça-feira, 23 de setembro de 2025

A ilusão da paz. Por Carlos Andreazza

O Estado de S. Paulo

A reação do bolsonarismo eduardista ao acordão Valdemar-Temer pela anistia sem anistia – tudo em função do projeto Tarcísio presidente – era previsível e tem a agressividade derivada da leitura de que Jair Bolsonaro o aceitara. Faltava combinar com os russos...

Os russos, que impuseram a “anistia ampla, geral e irrestrita” como bandeira única da direita brasileira e que colhem a toxicidade da associação à PEC da Blindagem, consideram que o ex-presidente é vítima de chantagens ministradas por “até seus aliados mais próximos”. Traição light.

Paulinho da Dosimetria, outrora da Força, foi designado, indicado por Hugo Motta (cujo tutor é Ciro Nogueira, um dos “aliados mais próximos” de Jair), para materializar a superação a Bolsonaro – aos Bolsonaro: uma proposta, que teria aval do Supremo, para redução de penas, que beneficiaria marginalmente o ex-presidente, e que o manteria inelegível. A proposta se pode negociar, a revisão das punições para cada tipo penal; a inelegibilidade, não.

O programa encostaria Jair – mais ou menos preso – e o reduziria à condição de torcedor passivo pelo sucesso eleitoral do governador de São Paulo. Eduardo Bolsonaro chama esse trato de “indecoroso e infame”. Não aceitará arranjo que, em troca de uma expectativa de indulto, degredaria a família até 2027; e isso no caso de o “pacto republicano” conseguir eleger Tarcísio de Freitas. Faltaria ainda combinar com o eleitor.

O “pacto republicano” de Michel Temer – com o tal Centrão, com o STF (esse agente político) e até com o governo Lula – faria de Tarcísio, que se pretende como o candidato de Bolsonaro, ao mesmo tempo o candidato-desafiante do sistema. Conta difícil de fechar.

Questionado pela Folha sobre se Eduardo Bolsonaro apoiaria um candidato indicado pelo pai, Valdemar Costa Neto disse que sim – “ele tem que obedecer” – e avançou, sobre a hipótese de o deputado sair do PL e concorrer à Presidência: “Não acredito que brigue com o pai dele... Vai ajudar a matar o pai de vez?”

Matar de vez – isso pressupõe processo em andamento adiantado. A vida de Bolsonaro, segundo Valdemar, a depender de o bolsonarismo eduardista se submeter ao acordão. Não vai rolar, ora sancionada com a Lei Magnitsky a mulher de Alexandre de Moraes. Não há pacificação possível.

Eduardo também está no pós-Bolsonaro – encarnaria, claro, o pós-Bolsonaro legítimo – e explora a natureza antiestablishment do bolsonarismo: “Não abdiquei de tudo para trocar afagos mentirosos com víboras. Não lutei contra tiranos insanos para me sujeitar aos esquemas espúrios dos batedores de carteira da ocasião. Esse é o momento para resgatarmos a direita. Não para a enfiarmos nas mãos do opositor da ocasião”.

O momento para resgatar a direita – que só poderia ser resgatada do bolsonarismo – coincide com o da ausência de Jair e com a articulação por viabilizar Tarcísio. A dissidência à direita está contratada. Só não sendo certo que Eduardo a possa controlar.

 

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