O Estado de S. Paulo
E Bolsonaro, quem diria?, empurrou as
esquerdas de volta às ruas
Assim como Jair Bolsonaro empurrou altas patentes militares para uma tentativa de golpe e a cadeia, o bolsonarismo acaba de conseguir uma proeza que por décadas foi exclusividade do PT: botar as esquerdas nas ruas de todas as capitais do País, lotando a Avenida Paulista e a Praia de Copacabana, como havia muitos anos não se via. As manifestações da oposição encolhem, as de esquerda estão de volta.
Ao se unir ao Centrão para embolar a pauta da
anistia com a PEC da Blindagem, ou da Bandidagem, a direita bolsonarista
ultrapassou todos os limites e encheu as ruas de protestos. Mostrou, assim,
que, apesar de muito dinheiro, tropa, articulação e poder na internet, perdeu o
eixo com o julgamento, as provas contundentes e a condenação de Bolsonaro. Está
sem estratégia, botando os pés pelas mãos – como Eduardo Bolsonaro.
O bolsonarismo errou na isenção do IR até R$
5 mil, nos ataques de Donald Trump ao Brasil, ao lançar Eduardo líder da
minoria mesmo nos EUA, ao homenagear Carla Zambelli na Itália e, por fim,
capitanear um acordão inaceitável, que teve amplo apoio na Câmara, até de 12
deputados do PT, mas horrorizou a sociedade de norte a sul. O caldo entornou.
Depois de tantos anos de desânimo e
indiferença, famílias de classe média, idosos, jovens, intelectuais e artistas
foram às ruas, pingando o verde e amarelo em atos que antes seriam só
vermelhos. Depois do domingo e do vexame de deputados pedindo desculpas pelo
voto, a PEC da Bandidagem tende a morrer na praia do Senado. E a anistia já
desidratou para “dosimetria” e sofre de inanição.
O PT foi coadjuvante e Lula, o grande
beneficiário, assistiu a tudo de camarote. A oposição deu tudo de bandeja, com
um acordão indecente: eu, do PL e da base bolsonarista, cuido da PEC para
favorecer bandidos de qualquer ideologia; vocês, do Centrão, do centro e da
esquerda, apoiam a anistia para quem usou cargo, farda e religião para levar o
País a um regime de exceção. Não colou. A resistência foi feroz, de fora para dentro
do Congresso.
A imagem mais forte do domingo foi a bandeira
verde e amarela na Avenida Paulista, confrontando a dos EUA do último ato
bolsonarista, e ganhou trilha sonora de Chico, Caetano, Gil, Djavan, Paulinho
da Viola em Copacabana com Wagner Moura presente. Mais uma vez, a democracia
mostra sua força.
Lula deve muito ao bolsonarismo, que o elegeu
em 2022, lhe deu o discurso da democracia, dos “pobres contra ricos” e da
soberania e devolveu a esquerda às ruas e o verde e amarelo para todos os brasileiros.
Bolsonaro, o lulista número 1.
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