RECIFE - Na semana passada, Eduardo Campos foi a estrela do palco do teatro Guararapes, no Centro de Convenções de Pernambuco. Nele, desempenhou o papel de que mais gosta: o de candidato a presidente da República. A plateia não poderia ser melhor. Estavam ali mais da metade dos deputados estaduais do país para a Conferência Nacional da União dos Legisladores e Legislativos Estaduais (Unale). Do tablado discorreu sobre todos os temas nacionais. Falou de crack, acidentes de trânsito, violência, Amazônia, infraestrutura, investimentos, gestão, inflação e, claro, política.
Já na abertura do encontro, na quarta-feira, fez um discurso centrado na valorização da política. Toda a sua fala parecia fazer uma alusão a dois momentos. O que ele vivia, sob pressão interna e externa para não ser candidato. E o que os políticos em Brasília vivem, com a ressaca da "batalha da MP dos Portos" e as reclamações renovadas das fragilidades da articulação política do governo e da falta de intimidade, ou de gosto, da presidente Dilma Rousseff pelas relações com o meio político.
São trechos exemplares: "Aqui é uma terra em que o povo sabe a importância da política, por isso recebemos políticos do Brasil todo de braços abertos. (...) Precisamos olhar e construir um grande debate nacional sem postura de dono da verdade e que negue a contribuição de quem quer seja. (...) É necessário ter largueza política para poder perceber que a sociedade brasileira não deseja mais aquela política em que só a sua ideia vale, só seu governo presta."
Depois, disse que os políticos é que devem liderar o debate sobre o futuro do país. "As nações estão procurando soluções para saírem da crise fortalecidas e não vamos fazer isso se negarmos a política, se esse debate não for liderado pelos políticos. Jamais se faz a construção de uma caminhada, sobretudo em desafio, sem as lideranças políticas. Não há na história travessia feita sem valorização dos políticos."
No dia seguinte, proferiu uma palestra no mesmo palco, intitulada "Novo Pacto Federativo - o Papel Estratégico da União, Estados e Municípios". O pacto esteve presente na palestra, de pouco mais de uma hora e focada nas realizações de seu governo. Mas a surpresa estava no fim, quando o cerimonial levou a ele um documento para que assinasse: era a proposta de emenda constitucional (PEC) que estabelecia o Orçamento impositivo em Pernambuco.
Por meio da medida, o Executivo é obrigado a liberar todas as emendas parlamentares indicadas pelos deputados. Trata-se da reivindicação principal de nove em cada dez deputados federais em Brasília. Só a rejeita o PT, em razão da discordância do Palácio do Planalto, que gosta de contingenciar o Orçamento basicamente sobre as emendas parlamentares. Após a assinatura, Campos ficaria ali no palco por mais duas horas, respondendo perguntas da plateia em uma espécie de talk-show. A pergunta comum era: "o que você fará se for eleito presidente?"
Uma das respostas: "Acho que não podemos esperar 2015, por isso a eleição deve ser discutida em 2014. Tivemos 2011 pior do que 2010, 2012 pior que 2011 e precisamos ganhar 2013. Pois como dizia Quincas Borba, aos vencedores, as batatas. Só que podem restar só as batatas quentes." Campos percebeu ter levantado dúvidas e explicou melhor. O cenário que traça da economia não é dos melhores.
"O Brasil pode chegar de um jeito ou de outro na eleição. Muita gente olha alguém que pode estar aparentemente com muita saúde, mas que mesmo assim está doente. A gente pode estar olhando a economia com menos sintomas do que ela pode ter se aprofundarmos a análise."
Questionado sobre inflação, afirmou nada valer um controle da inflação via juros se não vier acompanhado de responsabilidade fiscal. "O fundamental agora é entender que o processo inflacionário pode ser contido não só com juros. Isso é atrasado. Vai ser contido com padrão de responsabilidade das contas públicas. Não tem como conter inflação com determinada taxa de juros. Não tem nada a ver com serviços, com preços administrados, com questões mais oriundas da oferta do que processo aquecido da demanda."
Voltou à política depois para criticar a "débil" campanha eleitoral de 2010, "completamente insuficiente", onde, segundo ele, não foi discutido o futuro do país nem "os problemas da ordem do dia".
Couberam ainda algumas críticas veladas a quem combate uma candidatura alternativa em 2014. "O que interessa mais aos brasileiros a esta altura? Mais um mandato por mandato ou permitir a atuação de quem queira contribuir para o país? O país tem que compreender o que é projeto de poder e o que é projeto de país." Disse ainda que "tem gente que por meia dúzia de voto fica nesse oportunismo eleitoral". "Ele não serve ao país. Costumo dizer: o novo não nasce sem dor. O Brasil vai produzir essa nova pauta. Os políticos têm que fazer. Se não fizerem, o povo vai fazer e vai deixar de fora quem não tiver coragem de mudar." (CJ)
Fonte: Valor Econômico
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