segunda-feira, 27 de maio de 2013

Uma mentira engole a outra - Ricardo Noblat

Nós temos partidos de mentirinha. Joaquim Barbosa, presidente do STF

O que foi que, semana passada, a ministra Maria do Rosário, dos Direitos Humanos, atribuiu à central de notícias da oposição?, Dilma chamou de "desumano e criminoso"?, Lula, de ação praticada por "gente do mal"?, José Eduardo Cardozo, ministro da Justiça, de "manobra orquestrada"?, e Ruy Falcão, presidente do PT, de "terrorismo eleitoral"?

NO SÁBAD018 e no dia seguinte, em 13 estados, um milhão de clientes do programa Bolsa Família inva¬diram agências lotéricas para sacar suas mesadas fora do dia marcado. Boatos davam conta de que o programa seria extinto ou suspenso. Ou de que Dil¬ma autorizara o pagamento de um bônus.

A MINISTRA MARIA DO ROSÁRIO corrigiu-se poucas horas depois de ter dito o que disse. Qualificou de "singela" sua opinião. E garantiu: "Não quero poli¬tizar" Ora, quem, por meio de uma “manobra or¬questrada" poderia fazer "terrorismo eleitoral”? Aliados do governo? Uma vez politizado, o episódio politizado está. Só que, aos poucos, ameaça voltar-se contra o governo. Teria sido má gestão embrulhada em mentiras.

ENTRE AS TARDES DE SÁBADO e do domingo, quan¬do pessoas em desespero depredaram agências lotéricas na caça ao tesouro do Bolsa Família, dois ge¬rentes regionais da Caixa Econômica sugeriram que um erro do sistema de pagamento seria o res¬ponsável pela liberação do dinheiro em desacordo com o calendário. Um deles, Hélio Duranti, do Maranhão, foi mais preciso.

“OS BOATOS SURGIRAM após um atraso no paga¬mento do benefício ocorrido em todo o país. A situ¬ação foi normalizada, mas muita gente procurou os caixas eletrônicos ao mesmo tempo, e o dinheiro acabou" disse ele. "Quem não encontrou ficou re¬voltado e quebrou os caixas" A ministra Tereza Campello, do Desenvolvimento Social, preferiu observar: "Não existe qualquer motivação para que a gente pudesse gerar esse tipo de intranqüilidade para a população "

A DIREÇÃO DA Caixa Econômica atravessou a semana negando que tivesse mexido no calendário de paga¬mento. Até que, na última sexta-feira, a Folha de S. Paulo encontrou na região metropolitana de Fortale¬za a dona de casa Diana dos Santos. Uma semana antes, ela fora a um caixa eletrônico sacar os R$ 32 do Bolsa Família referentes a abril. Ao inserir seu cartão, sacou os R$ 32 de abril e os R$ 32 de maio.

“RECEBO BOLSA FAMÍLIA há anos, e nunca paga¬ram antecipadamente" comentou Diana. "Acho que outras pessoas receberam também, avisaram aos conhecidos, e virou essa confusão" A Caixa inventou, então, outra história: "A Caixa Econômica Federal esclarece que vem realizando diversas me¬lhorias no Cadastro de Informações Sociais. Em conseqüência, na sexta-feira (17), primeiro dia do calendário de pagamentos de benefícios do mês de maio, o banco disponibilizou o saque independen¬temente do calendário individual”

0 PAGAMENTO É FEITO levando-se em conta o último número do cartão magnético de cada bolsista. A Caixa soltou o dinheiro para pagar de vez a todo mundo, mas não avisou a ninguém. Ela não explica como uma operação dessas melhora seu Cadastro de Informações Sociais.

NO DIA EM que a Folha pegou a mentira da Caixa, uma fonte da Polícia Federal, mediante a garantia de anonimato, revelou ao GLOBO que fora locali¬zada a central de telemarketing responsável pela difusão dos boatos. Não disse como a central teve acesso aos números de telefones dos inscritos no Bolsa Família.

Fonte: O Globo

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