Planalto se esforça para impedir que divergência com PMDB não ameace apreciação no Senado
BRASÍLIA - A votação da MP dos Portos explicitou a insatisfação da base aliada com o governo de Dilma Rousseff e resultou no embate entre dois grupos que compõem a base. De um lado, ficou o PT e seus aliados históricos: PCdoB, PSB e PDT. Do outro, os partidos do chamado "centrão", que apoiam todos os governos, incluindo PMDB, PP, PR e PTB. As possíveis mágoas que podem ter se instalado no seio peemedebista, após dias de confronto com o governo e ameaças de que teriam suas indicações para cargos "catalogadas" e eliminadas como retaliação à suposta rebeldia na Câmara é o que mais preocupa o governo no momento.
O Planalto se esforça para não transformar o que classifica como derrota isolada do deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), líder do partido na Câmara, em uma derrota generalizada do PMDB. O discurso para convencer os aliados é de que o governo está trabalhando para aprovar o projeto de outro peemedebista, o líder do governo no Senado, Eduardo Braga (PMDB-AM), e que o partido estaria sendo prestigiado desta maneira.
Articulações no Senado
Um interlocutor da presidente Dilma Rousseff explica que, quando for finalizada a votação na Câmara, o Planalto irá depender do PMDB no Senado para aprovar a MP. Por isso, não interessa ao governo transformar a "derrota" de Eduardo Cunha em uma derrota do PMDB. Na manhã de ontem, articuladores palacianos conversaram com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e Romero Jucá (PMDB-RR) e conseguiram a garantia de que irão trabalhar para votar o texto assim que chegar ao Senado. Eduardo Braga trabalha nos bastidores para convencer seus pares a apoiar a manobra.
- O governo teve problemas com o PMDB na Câmara. Aqui no Senado, nós seremos a solução - afirmou Braga, pouco antes de entrar para mais uma conversa de articulação para a votação da MP.
Na madrugada de quarta-feira, depois da primeira vitória, os interlocutores do Planalto resolveram fazer da sessão uma exibição de sua capacidade de destruir uma a uma as pretensões de Cunha. O governo obteve mais de dez vitórias seguidas até que, para impor nova derrota ao deputado, apoiou uma proposta do principal partido opositor, o DEM. Com a derrota acachapante, o líder deixou claro no plenário que o apoio à emenda da oposição - que mudava o texto original apresentado pelo relator Eduardo Braga - mudaria a condução do maior partido aliado.
Ontem foi o dia da ressaca. Cunha lembrou a aliados que apenas ontem havia dez convocações de ministros para serem votadas na comissões temáticas da Casa e que há uma longa fila de projetos de interesse do governo que precisarão ser analisados em plenário, a começar pela medida provisória que altera regras para os bancos e o projeto que estabelece novas regras para o ICMS.
O Planalto, por sua vez, a partir do resultado da votação pode começar uma caça às bruxas. O governo usará as votações para avaliar o grau de fidelidade de cada um dos partidos da base. Em relação a Cunha, a intenção do governo é tratá-lo a pão e água. Seus aliados em cargos no governo já foram levantados e eles estão na berlinda. Mas os demais partidos da base também devem ser cobrados. Líderes da base, por sua vez, não veem possibilidade de melhora na relação sem que o Planalto faça concessões.
Fonte: O Globo
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