• Ex-ministra disse que novos ministros não serão o suficiente para o governo Dilma recuperar credibilidade e que há dúvidas se eles de fato terão liberdade para 'fazer os ajustes que o País precisa'
Isadora Peron e Igor Gadelha - O Estado de S. Paulo
BRASÍLIA - Derrotada no 1º turno das eleições presidenciais, a ex-ministra Marina Silva (PSB) afirmou nesta sexta-feira, 28, que o anúncio da nova equipe econômica não vai ser o suficiente para recuperar a credibilidade do governo da presidente Dilma Rousseff. Em nota, ela elogia os nomes escolhidos para os ministérios da Fazenda e do Planejamento, mas diz que há dúvidas se de fato eles terão "autonomia" para fazer os ajustes que o País precisa, como controlar a inflação e diminuir os gastos públicos.
"O governo federal gerou tantas incertezas nos últimos anos que apenas novos nomes, por mais consistentes que sejam, não vão resgatar a credibilidade", diz o texto. Na quinta-feira, o governo confirmou o economista Joaquim Levy como ministro da Fazenda, Nelson Barbosa para o Planejamento e a permanência de Alexandre Tombini na presidência do Banco Central.
Marina cobrou ainda mais transparência do governo, não só para acabar com as "maquiagens contábeis", mas também para que a população tenha acesso às informações sobre as políticas públicas em geral. A ex-ministra também acusou Dilma de mentir sobre a situação econômica do País durante as eleições. Segundo a ex-ministra, a então candidata à reeleição não apresentou um programa de governo porque, senão "teria que sair do mundo colorido do marketing eleitoral e fazer, no mundo real, o que tanto criticou na campanha".
Desigualdade. Já o presidente em exercício da Força Sindical, Miguel Torres, criticou a nova equipe econômica da presidente Dilma Rousseff. Em nota enviada à imprensa, ele afirma que a indicação de Joaquim Levy, considerado um economista ortodoxo, para o Ministério da Fazenda demonstra, no mínimo, "miopia grave", "pois atropela as ideias desenvolvimentistas e de redução da desigualdade".
Para Torres, isso sinaliza que as discussões sobre gasto social, salário mínimo e sustentabilidade da Previdência Social estão "ameaçadas", na medida em que passarão a ser coadjuvantes na política do governo. "A Força Sindical não vai permitir que políticas restritivas retirem direitos dos trabalhadores", afirma. O presidente em exercício da Força diz ainda que a indicação de Levy sinaliza que a Fazenda e o Banco Central vão reeditar com "mãos de ferro" o chamado tripé macroeconômico.
O termo, utilizado por economistas ortodoxos, prevê o controle da inflação, câmbio flutuante e superávit primário para reduzir a relação dívida pública/PIB. "Tudo leva a crer que a criatividade desse governo é limitadíssima, pois prefere adotar um leque de medidas ortodoxas e contracionistas para o enfrentamento da crise, para o deleite, sobretudo, do mercado, ratificando a nossa servidão voluntária ao mercado financeiro, em vez de priorizar o crescimento econômico", criticou.
Torres avalia que a indicação mostra que o governo tem menos convicção sobre o crescimento econômico sustentável, e "repare nem estamos falando em desenvolvimento econômico". "O Brasil parece reeditar medidas que não suplantam as nossas mazelas", diz o dirigente da Força Sindical, cujo presidente licenciado é o deputado federal Paulinho da Força, presidente do Solidariedade, que coordenou a área sindical da campanha do candidatado do PSDB à Presidência, Aécio Neves.
Superávit primário. Na nota, Torres critica que o discurso de Joaquim Levy de geração de superávit primário "desnuda o anacrônico conflito distributivo brasileiro". Em entrevista à imprensa nesta quinta no Palácio do Planalto, o futuro ministro da Fazenda anunciou a meta de economizar 1,2% do PIB para pagar juros da dívida pública em 2015 e acima de 2% em 2016 e 2017. Segundo Levy, alcançar essas metas é essencial para obter confiança, criar a base para o País crescer e consolidar avanços sociais.
"Ora, a propalada redução do gasto público vai atingir a quem? Segundo os 'analistas' de plantão, é preciso adotar medidas duras para garantir espaço fiscal a fim de atingir a meta de superávit primário, mas o Brasil não é o quarto maior superávit primário do G20, segundo o FMI? Além disto, nosso País é o primeiro no mundo quando se fala em taxa de juros. Por que é proibido falar em redução dos juros no País?", questionou o presidente da Força Sindical na nota.
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