- Folha de S. Paulo
O clima de Fla-Flu que impera no cenário político brasileiro nos últimos 20 anos tem impedido uma avaliação mais sóbria sobre os caminhos que o país precisa percorrer para atingir uma situação que equilibre o que é preciso ser feito com o que se deseja atingir.
PT e PSDB, os dois partidos que comandam a cena política federal desde 1994, têm enorme dificuldade em reconhecer os acertos de cada lado. Pelas regras vigentes, admitir que o "inimigo" fez algo relevante é praticamente uma confissão de derrota.
Como ninguém quer sair na rua com essa marca na testa, petistas e tucanos usam e abusam de um sistema binário para interpretar a realidade dos fatos para seus seguidores.
A economia brasileira, entretanto, é mais complexa. Há muito mais cinza entre o preto e o branco desenhado pelos porta-vozes dos dois partidos --irmãos-- que se odeiam.
Joaquim Levy, o ortodoxo, e Nelson Barbosa, o desenvolvimentista, tentaram mostrar na quinta-feira (27) que o cinza é possível e desejável.
As referências acadêmicas são distintas. Os currículos também. Ainda assim, os futuros ministros da Fazenda e do Planejamento chegaram ao Planalto com um discurso afinado.
Controlar receitas e despesas não é sinônimo de abandono dos programas sociais que ainda são fundamentais para calibrar a diferença entre os que vivem muito bem, obrigado, e a massa dos que sacodem diariamente em ônibus e trens.
O discurso econômico é, por vezes, exageradamente cifrado. Levy e Barbosa não diferem muito dos colegas de profissão. Mas há formas simples de entender o que passa pela cabeça dos chamados "formuladores".
Nenhuma família vive de poupança, muito menos só de gastos crescentes. Quem tem dívidas precisa juntar dinheiro para pagar o que deve. Quem pretende comprar uma casa, um carro ou mandar o filho para a faculdade, precisa economizar para fazer esse investimento. Não há solução mágica para essas questões.
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