sábado, 21 de novembro de 2015

Almir Pazzianotto Pinto: Brasil 2016

- O Estado de S. Paulo

Afirmo que o governo
Lula é o mais corrupto de
nossa história nacional
Roberto Mangabeira Unger

Aproxima-se o fim do ano e a pergunta paira no ar: o que nos espera em 2016? Dois marcantes acontecimentos podem ser considerados certos: os Jogos Olímpicos em agosto e as eleições municipais em outubro. Tudo o mais é imprevisível, nebuloso, assustador.

O mais ousado futurologista – sinônimo adequado à expressão cientista político – talvez não se sinta encorajado a profetizar, no encapelado oceano de interrogações em que flutua à deriva o Brasil, como serão os 12 meses que se aproximam. As informações disponíveis revelam País em crise, sem rumos, sem governo, sem oposição, sem dinheiro, imerso em gigantesca onda de corrupção, com a economia em colapso, o mercado de trabalho em pânico, descrente de instituições governamentais.

Consultando passadas edições de jornais e de revistas de circulação nacional, chegaremos à constatação de que qualquer hipótese positiva referente a 2016 será temerária, sem base real de sustentação.

Vejamos a Olimpíada.

Teme-se fracasso igual ao da Copa de 2014, quando a seleção naufragou diante da Alemanha e da Holanda de maneira constrangedora. O atletismo, como sempre, vive à míngua de recursos. Depende do esforço heroico de pequeno grupo de atletas, que competem em condições de inferioridade com americanos, chineses, alemães, russos, jamaicanos, cubanos, de países cujos planejamento e estrutura lhes permitem alcançar marcas excepcionais. Sobrevivemos graças ao talento natural e à dedicação de desportistas como Ademar Ferreira da Silva, João do Pulo, Robson Caetano, Fabiana Murer, Maurren Maggi.

Quanto às eleições municipais, o panorama é desolador.

A falta de renovação nos impõe acompanhar disputas entre nomes desgastados, como Marta Suplicy. Prestes a atingir 71 anos, abandonou o PT, ao qual se filiou em 1981 e pelo qual foi candidata a governador do Estado, prefeita da capital, senadora da República e ministra do Turismo, para disputar, pelo PMDB, o regresso à chefia do Executivo municipal. Terá como adversário o desacreditado Fernando Haddad, de quem era, até há poucos dias, fiel companheira de legenda. O PSDB é pobre em dirigentes com trânsito fácil nas camadas populares, com as quais não consegue se comunicar. Andrea Matarazzo integra medíocre Câmara Municipal, sem brilho nem destaque. João Dória Júnior, bem-sucedido empresário do setor de comunicações e eventos, mas sem currículo político, dificilmente conseguirá legenda. Celso Russomanno, conhecido por ser homem de múltiplos partidos, disputou como favorito em 2012, mas se esvaziou na reta final e foi derrotado.

As disputas por prefeituras e Câmaras Municipais, em 5.570 municípios, serão travadas em cenário de crise. O lulopetismo debilitou o sistema econômico, causou fantástica taxa de desemprego, fechou indústrias, atrofiou a iniciativa privada, arruinou a União, Estados, o Distrito Federal e municípios.
Lula foi protagonista do maior calote político de todos os tempos. Tomou posse como presidente da República em janeiro de 2003. Em 2005, dois dos ministros mais íntimos, José Dirceu, da Casa Civil, e Antônio Palocci, da Fazenda, já sofriam pesadas acusações de corrupção. Em 13 anos de governo o PT aviltou o Legislativo, infiltrou-se no Judiciário, aparelhou estatais e sociedades de economia mista. Os escândalos apurados nos processos do mensalão, da Lava Jato, da Operação Zelotes, para ficar apenas nos mais divulgados, espraiaram-se pelo território nacional, de tal sorte que são raras as administrações municipais e estaduais acima de suspeitas.

A fundação do Partido dos Trabalhadores, em fevereiro de 1980, dias antes da malograda greve de abril no ABC, prometia algo inédito na esfera político-partidária, diferente da radicalização das esquerdas, do peleguismo petebista, do insaciável apetite peemedebista, do reacionarismo arenista. Anunciava-se proposta nova para o País, cansado do autoritarismo, à espera da democracia.

Afirmava-se que com o PT no poder a desigualdade de renda seria reduzida; o mercado de trabalho, robustecido; a inflação, contida; os salários reais, elevados. Lula assumia o compromisso de ser ético na vida pública, de renovar a legislação trabalhista, sanear a estrutura sindical corrompida pelo peleguismo, de promover a reforma do Estado. A realidade mostrou-se outra. A moralidade transformou-se em virtude escassa nas esferas públicas e as promessas de mudanças foram esquecidas. O que hoje se vê são ex-ministros, deputados, senadores, sindicalistas, empresários condenados ou réus de ações criminais.

Em discurso no Palácio do Planalto em 29 de outubro de 2004, na apresentação do Programa Nacional de Microcrédito Produtivo, o presidente Lula disse, em determinado momento: “Eu tinha um advogado chamado Almir Pazzianotto Pinto, que depois foi ministro do Trabalho, e eu vivia discutindo com ele o seguinte: olhe, eu não quero advogado para dizer o que eu tenho que fazer. Eu quero advogado para me livrar depois que eu fizer”. Até então as infrações atingiam a lei de greve, cujo rigor exigia ações ousadas, como as que se verificaram em 1978, 79 e 80. A mesma prática jamais traria bons resultados quando adotadas por presidente da República.

À debilidade de Lula e do PT não se contrapõe, todavia, oposição consistente. O PMDB flutua, com rara desfaçatez, de dentro para fora e de fora para dentro do governo. O PSDB, fundado em 1988 por dissidentes do PMDB que recusavam a liderança de Orestes Quércia, sofreu quatro contundentes derrotas para o PT. Hoje procede como pugilista sonado a caminho do ringue, vencido antes de se iniciar o combate.

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Advogado ex-ministro do Trabalho e ex-presidente do TST

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