Opção ao distritão, defendida por parte dos deputados, mudaria apenas 10% da Câmara
Sérgio Roxo | O Globo
BRASÍLIA - Apontado por deputados como sistema eleitoral que evitaria o enfraquecimento dos partidos, o chamado semidistritão não traria resultados eleitorais muito diferentes do que a sua versão original, o distritão, também defendido por uma ala do Congresso. Se o modelo estivesse em vigor na última eleição para a Câmara, em 2014, haveria mudança de apenas 51 dos 513 parlamentares (10%). Já na simulação do distritão seriam 46 novos nomes (9%).
MUDANÇAS SÓ ATÉ OUTUBRO
As divergências sobre o sistema eleitoral têm emperrado a votação da reforma política no Congresso. Para valer na disputa do ano que vem, a mudança precisa ser aprovada até o começo de outubro. A ideia original de uma parcela dos parlamentares era implantar o distritão em 2018. Nesse modelo, são eleitos os deputados mais votados em cada estado, sem possibilidade de voto em legenda.
A bancada do PT e de outros partidos de esquerda se opõem ao modelo. Para buscar um consenso, foi proposto o modelo do semidistritão, em que são eleitos os mais votados, mas o eleitor tem a opção de escolher uma legenda. Esses votos no partido são distribuídos de foram igual entre os candidatos da legenda em cada estado.
O GLOBO simulou qual seria o resultado da eleição para a Câmara em 2014 se estivesse em vigor o semidistritão. O PT seria o partido mais beneficiado, com oito cadeiras a mais do que as 68 que elegeu na ocasião. O PMDB ganharia cinco parlamentares a mais e o PSDB, dois. Os partidos pequenos seriam os mais prejudicados. O PHS, por exemplo, perderia três das suas cinco vagas. Já PSDC ficaria sem os seus dois postos.
Os representantes dos estados em Brasília também sofreriam poucas mudanças. Em cinco das unidades da federação (Ceará, Paraíba, Sergipe, Amazonas e Acre) a adoção do semidistritão não provocaria a alteração de sequer uma cadeira.
Na bancada do Rio, haveria a mudança de três dos 46 parlamentares, o que representa 6%. O PMDB, o PT e o PTB ganhariam um representante cada. Por outro lado, perderiam um posto cada o PSDC, o PRP e Solidariedade. Se for feita uma simulação do modelo do distritão, as alterações entre os representantes do Rio na Câmara são exatamente as mesmas.
SP TERIA 10 NOVOS NOMES
São Paulo, que tem a maior bancada entre os estados, com 70 deputados, teria dez nomes novos com o semidistritão (14%) e oito com o distrião original (11%). O partido mais prejudicado nos dois modelos na bancada paulista seria o PRB, legenda do deputado mais votado do estado: Celso Russomanno. O modelo atual permitiu que a legenda elegesse um total de oito parlmentares impulsionados pelos mais de 1,5 milhão de votos em Russomanno. No semidistritão, a legenda perderia cinco dessas cadeiras e no distritão, quatro.
A simulação do semidistritão deve ser vista com cautela porque a tendência é com que com uma eventual mudança do sistema eleitoral os partidos alterem a sua estratégia e, provavelmente, optem por lançar menos candidatos. Assim, os votos na legenda seriam distribuídos de outra forma.
O cientista politico Marco Antonio Teixeira, professor da FGV-SP, acredita que a variação de resultado é pequena na simulação do semidistritão porque, em 2014, os partidos já sofriam dom desgaste diante da população, o que reduziu o voto em legenda.
— Isso é resultado da crise partidária, que já era forte naquele momento — avalia.
Para o professor, o semidistritão apenas atenua um pouco os efeitos do distritão, mas não não impede o enfraquecimento dos partidos.
— O investimento na personalidade vai ser indispensável para o resultado eleitoral. Vai haver uma personificação maior das campanhas — afirma o professor.
No sistema atual, o proporcional, o número de vagas de cada partido ou coligação é definido pelo quociente eleitoral: a divisão de votos válidos pelas cadeiras em disputa em cada estado. Os candidatos mais bem votados de uma partido ou coligação ocupam as vagas conquistadas pela legenda.
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