- Folha de S. Paulo
Muitas cabeças rolaram para que fosse paga a conta dos votos que evitaram a decapitação de Michel Temer, a abertura do processo que o afastaria do cargo. Desafetos perdem cargos às dezenas. Vão-se anéis e dedos que em tese poderiam votar em alguma reforma da Previdência, hoje quase uma memória desbotada.
No entanto, há gente no Congresso e no governo que acha possível aprovar "alguma coisa" da mudança previdenciária a partir de outubro. O que seria essa coisa pouca? Idade mínima de aposentadoria e um tapa em servidores públicos.
O aumento do tempo de contribuição para 25 anos e todo o resto relevante iriam para o vinagre. Se sobrarem 40% da poupança estimada originalmente pela reforma do governo, será um milagre.
A prioridade, porém, é aprovar o pacote de agosto, as medidas desesperadas para evitar um buraco ainda maior nas contas do governo, e o pacotão privatizador, que pretende tapar o buraco na imagem do governo que se jactava do ajuste fiscal, que não veio, e da reforma essencial, a previdenciária, que vai indo.
Vai dar pé? Há refregas de geometria variada no Congresso.
PMDB e centrão pedem os cargos de ministros e agregados do PSDB, como se sabe. Querem ver na ponta da estaca em especial a cabeça de Antônio Imbassahy (Secretaria de Governo), por vingança, e Bruno Araújo (Cidades), que administraria um fazendão de verbas restantes.
A mixórdia que se chama de reforma política causa mais disputas no governismo. PMDB e PP lideram o movimento pela aprovação do distritão, rechaçado por partidos pequenos e médios (em geral, o centrão), além da oposição.
Ao que parece, o PSDB pretende dar uma limpada na imagem fazendo campanha, ao menos da boca para fora, por uma reforma "responsável e prudente". Ou seja, limitada ao fim das coligações em eleições proporcionais e a alguma cláusula de barreira, restrições igualmente rejeitadas pelos partidos menores.
O partido quer mudar de assunto, pois. Os tucanos concordaram que não vão rachar. Não oficialmente, claro, porque metade da bancada quer manter a boca no governo e a outra metade abomina Aécio Neves e Michel Temer quase tanto quanto o eleitorado brasileiro.
Apesar dessas e de outras refregas no Congresso, o governo está à beira de aprovar o fim paulatino dos juros subsidiados do BNDES (fim da TJLP) e, na prática, uma lipoaspiração duradoura do banco. Não é pouca coisa. O lobby da indústria nacional contra a medida era forte (que contava ainda com a oposição da capital de Patópolis, a Fiesp).
O governo então se animou com as perspectivas do pacote de remendão fiscal, que, no entanto, contém coisas intragáveis para o parlamentar padrão, como um bocadinho de impostos e um peteleco nos salários de servidores.
Até a penúltima semana de setembro, os parlamentares estarão cozinhando o angu de caroço da reforma política e sob pressão para aprovar os pacotes econômicos da liquidação de inverno de Temer. Ignora-se o novo tiro de flechas de Rodrigo Janot contra o presidente. Em outubro, a pauta estaria limpa para votar a Previdência.
O pessoal do governo acha que é uma ficção verossímil para os últimos meses úteis de Temer. Depois, é eleição.
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