Bruno Boghossian | Folha de S. Paulo
BRASÍLIA - O ex-presidente da Câmara e ex-ministro Aldo Rebelo trocou nesta terça-feira (26) o PC do B pelo PSB, com um discurso em que criticou "corporações iluminadas" que pretendem "substituir a política".
Rebelo assinou a ficha de filiação ao partido socialista depois de militar por 40 anos nas fileiras do PC do B. Ele é apontado como "coringa" para o PSB nas eleições de 2018: pode ser candidato a presidente, vice-presidente ou senador.
Em seu discurso, o ex-ministro dos governos Lula e Dilma Rousseff defendeu a valorização da política tradicional e fez uma crítica ao Ministério Público e ao Judiciário –sem citar as duas instituições.
"Vemos hoje uma tentativa de corporações que se julgam deuses de tentar subtrair da política os destinos da população. Temos que reafirmar a política como único caminho e alternativa. Nenhuma corporação iluminada pode substituir a política", afirmou em seu discurso.
Rebelo fez ainda uma comparação velada entre o momento atual e as circunstâncias do golpe militar de 1964, em que "corporações públicas tentaram substituir a política". "E sabemos o que isso produziu."
Em entrevista após a cerimônia, o ex-deputado afirmou que o combate à corrupção é uma tarefa importante, mas que "usar essa prerrogativa para substituir a política não é razoável".
Questionado sobre as investigações contra o ex-presidente Lula, Rebelo disse que as acusações contra o petista são movidas pelo interesse de "afastá-lo da disputa eleitoral".
"Até hoje, o presidente Lula tem procurado se defender das acusações que têm sido feitas a ele. Essas acusações são movidas não apenas por fatos. Ninguém deve ser afastado de uma disputa eleitoral a não ser quando há provas e julgamento definitivo com provas dos crimes que essa pessoa cometeu. Até hoje, essas provas não foram apresentadas", declarou.
MILITARES
Rebelo, que foi ministro da Defesa de 2015 a 2016, disse que não vê "clima nem interesse" nas Forças Armadas em realizar uma intervenção militar no Brasil, apesar de declarações nesse sentido feitas pelo general Antonio Hamilton Mourão.
"Convivi com os militares no Ministério da Defesa e não acho que esse seja o ânimo. Isso traria consequências muito ruins para o país e para os próprios militares, que não desejam participar de outra situação como a que nós vivemos no passado", declarou.
O ex-ministro evitou criticar a decisão do governo e do comando do Exército de não punir Mourão formalmente, e se limitou a defender o respeito à hierarquia e à disciplina na corporação.
"Quando isso é quebrado de alguma forma, é um risco para a própria instituição. Você tem um pronunciamento de um general, depois de um coronel, depois de um major, de um sargento, de um cabo... E isso não é uma coisa boa. É importante preservar esses princípios."
ESQUERDA
A filiação de Aldo Rebelo ao PSB é um movimento do partido para ampliar suas fileiras e tentar apresentar o partido como uma alternativa ao PT no campo da esquerda.
"Os dirigentes defendem que o PSB não seja parte do projeto de um outro partido e ele tenha seu projeto e busque a unidade, mas sem subordinação", disse Rebelo.
Apesar de alguns dirigentes do PSB defenderem o distanciamento entre a sigla e o PT, o ex-ministro afirmou que é preciso manter o diálogo com os petistas. "A unidade ampla pressupõe diálogo com todos, sem uma atitude de subordinação ou de reboque aos objetivos de outras legendas."
O presidente da sigla, Carlos Siqueira, defendeu que o PSB assuma o protagonismo nesse campo. "Podemos conversar com todos, e tem um pedido do PT para isso, mas precisamos sair da polarização. É uma polarização que não faz bem para o Brasil. Fechou-se esse ciclo."
Siqueira admitiu que o partido deve perder deputados e outros militantes que "hoje não se identificam com a linha que o PSB adotou" –de oposição ao governo Michel Temer. "Esse assunto de entrar e sair do partido é pessoal e intransferível. Alguns sairão, têm as suas razões para sair."
O ex-deputado Beto Albuquerque, que foi candidato a vice-presidente na chapa de Marina Silva em 2014, fez coro. "Não há crise de identidade no PSB. Quem tem crise é quem entrou em um partido socialista querendo ser liberal. Vamos refundar a esquerda sem cair no precipício do PT."
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