Renda em alta, recuperação do consumo e reativação da indústria estão refletidas na boa evolução das contas externas brasileiras. O superávit de US$ 46,3 bilhões no comércio de bens foi o componente mais brilhante das transações correntes, até agosto, segundo o balanço divulgado ontem pelo Banco Central (BC). Formado pelo comércio de bens, pelas transações de serviços e pela movimentação de rendas, as contas correntes acumularam em oito meses um déficit de US$ 3 bilhões, 77% menor que o de um ano antes – um resultado muito próximo do equilíbrio. Esse pequeno saldo negativo foi coberto com folga pelo ingresso de investimentos diretos de US$ 45,5 bilhões. O déficit contabilizado em 12 meses, de US$ 13,5 bilhões, também foi compensado com sobras pelos US$ 82,5 bilhões de investimentos, dinheiro importante para o fortalecimento empresarial.
O aumento das exportações tem superado as estimativas e por isso os técnicos do BC refizeram as projeções para o ano. A receita prevista para as vendas de mercadorias passou de US$ 203 bilhões para US$ 210 bilhões. O valor esperado para as importações continuou em US$ 149 bilhões. Com essas mudanças, o saldo comercial projetado subiu de US$ 54 bilhões para US$ 61 bilhões, valor muito próximo daquele apontado pelos economistas do setor financeiro e das consultorias (US$ 62 bilhões, segundo a última pesquisa Focus publicada pelo BC).
O cenário é mais positivo do que pode parecer à primeira vista. Além do aumento de 13,9% calculado para as exportações, o quadro inclui uma variação de 6,9% para as importações. Na fase final da recessão, o saldo comercial só cresceu porque o gasto com produtos importados caiu mais que a receita obtida com o embarque de mercadorias.
Importar menos foi um efeito da contração do consumo e também das compras de bens estrangeiros destinados à produção. A retomada das compras de bens estrangeiros, assim como o aumento dos gastos com viagens, indica a melhora da renda dos consumidores, apesar do desemprego ainda elevado.
A melhora da renda é explicável em boa parte pelo recuo da inflação. O pequeno aumento das contratações na indústria também é um fator positivo, mas sua influência deverá ser bem mais visível dentro de algum tempo.
Há vários aspectos positivos no outro lado da balança, onde aparece o aumento do valor exportado. Esses pontos aparecem nos informes, bem mais detalhados, do Ministério da Indústria e do Comércio Exterior. A boa evolução das vendas de produtos básicos é o pormenor mais previsível. Mas a expansão da receita comercial é explicável também pelo crescimento das vendas externas de bens industrializados.
Considerando-se o período de janeiro a agosto, as exportações de manufaturados cresceram 10% entre 2016 e 2017, atingindo US$ 52,3 bilhões. As de semimanufaturados avançaram 14% e chegaram neste ano a US$ 20,4 bilhões.
A receita obtida com os manufaturados continua inferior à obtida em 2014 até agosto, de US$ 53,5 bilhões. Mas a recuperação é bem visível e aponta o comércio externo como um fator de recuperação industrial. A produção das fábricas está sendo puxada tanto pela melhora do mercado interno quanto pelas exportações.
É preciso olhar um pouco para trás para avaliar a melhora recente do balanço externo. Em dezembro de 2014 o déficit em transações correntes acumulado em 12 meses chegou a US$ 104,2 bilhões, 4,2% do Produto Interno Bruto (PIB). No fim de 2015, mesmo com a demanda arrasada pela recessão, esse déficit ainda estava em US$ 59,4 bilhões. A gestão petista havia devastado a economia interna e criado um enorme desajuste externo.
Neste ano, o saldo negativo até agosto ficou em 0,68% do PIB. Um déficit moderado em conta corrente pode ser saudável, se o seu financiamento com poupança externa contribuir para a expansão do investimento produtivo. No caso do Brasil, um sólido resultado no comércio de bens é essencial. Isso se obtém com produtividade e essa deve ser uma das balizas da política econômica.
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