- O Globo
Só Jair Bolsonaro e seu filho Carlos sabem o que pensa o presidente da República sobre a comunicação oficial do governo. Os sinais de que nada importa, a não ser a voz do chefe, são cada dia mais evidentes. De umas três ou quatro semanas para cá, Bolsonaro vem falando quase todos os dias na portaria do Palácio da Alvorada, quando sai para trabalhar de manhã cedo. É uma estratégia de comunicação, evidentemente. Só que não funciona. O presidente vai ao cercadinho da imprensa para passar recados. O problema é que ele também responde a perguntas. E então, desanda.
O presidente não consegue resistir a um microfone. Além das agora cotidianas falas no Alvorada, Bolsonaro também abre o bico em toda atividade de que participa. Seus assessores dizem que muitas vezes ele muda o trajeto do seu deslocamento apenas para passar em frente aos jornalistas e parar assim que a primeira pergunta é feita. E dá-lhe blá-blá-blá. Bolsonaro adora um quebra-queixo (termo criado pela jornalista Ana Tavares, ex-secretária de imprensa do presidente Fernando Henrique, para designar entrevistas concedidas a dezenas de jornalistas portando alvoroçadamente microfones, gravadores ou celulares prontos para quebrar o queixo do entrevistado).
A eloquência presidencial torna o porta voz do Palácio do Planalto um figurante. Única coisa que Otávio Rêgo Barros conseguiu depois de sete meses na função foi perder sua quarta estrela de general. Bolsonaro é centralizador e odeia quando alguém de seu time se destaca mais do que ele. Entre outras razões, essa ciumeira, que também irrita ao filho Carlos, está esvaziando Rêgo Barros, que pode deixar o cargo a qualquer momento. Nesta semana, ele teve uma pequena vitória. Conseguiu o afastamento do jornalista Paulo Fona apenas seis dias depois de sua posse como secretário de Imprensa da Secom.
Fona tinha sido colocado no lugar exatamente para esvaziar Rêgo Barros. A orientação aos repórteres do Comitê de Imprensa do Palácio era a de procurar o jornalista sempre que tivessem qualquer dúvida para tirar. Esse seria o papel do general. Mas os bastidores da Secom importam pouco. Até porque, quem manda na política de comunicação do governo é o presidente, depois de ouvido o filho Carlos, o idealizador da comunicação que ele julga ter sido responsável pela eleição do pai. O chefe da Secom, Fabio Wajngarten, a quem toda a estrutura de comunicação do Palácio está subordinada, é pessoa da confiança de Carlos.
Se tudo der errado, a culpa será de Jair e Carlos.Também a eles deverá ser atribuído um eventual, embora improvável, sucesso na política de comunicação. Improvável por quê? Porque essa política não existe como fórmula, ela apenas subsiste porque foi sendo formatada empiricamente ao longo do governo. Vai se ajeitando aqui e ali para ver como a coisa funciona. Se der certo, prossegue. Se não der, para. Aliás, não é apenas na comunicação que as coisas funcionam ao sabor da sorte ou do azar, de tentativas e erros.
Segundo a Secom, ela é “responsável pela comunicação do governo, coordenando um sistema que interliga as assessorias dos ministérios, das empresas públicas e das demais entidades do poder executivo (...) disseminando informações de interesse público, como direitos e serviços, e também projetos e políticas do governo”. Nesse cipoal de letrinhas há um único objetivo, informar os brasileiros, com conteúdo de qualidade e credibilidade, sobre as ações governamentais. Trata-se de uma tarefa gigantesca que precisa de estabilidade e planejamento. O que aparentemente não existe.
Os quadros que apoiam essa rotina da comunicação no Palácio vão sendo mudados com base no critério da simpatia pessoal e da fidelidade canina. Portanto, se Rêgo Barros amanhã deixar o cargo, não será o primeiro a cair. Nemo último. Antes dele e de Paulo Fona, circularam pelos gabinetes do segundo andar Fernando Diniz, Floriano Barbosa, coronel Alexandre Lara. Quem são? Não importa, eram provisórios. Quem foram? Foram nomes seniores da Se com. Ser sênior, pode. Oque não pode é ser sombra.
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