- O Globo
Bolsonaro se elegeu com a promessa de defender a família. Faltou dizer que se referia à própria. O presidente vê o Estado como um bife a ser repartido entre os filhos
Jair Bolsonaro se elegeu com a promessa de defender a família. Faltou dizer que se referia à própria. O capitão sempre usou o poder para proteger e engordar os herdeiros. É assim desde os tempos de deputado, quando ele pendurou dois filhos na folha de pagamento da Câmara.
Na Presidência, o patriarca farejou boquinhas melhores para o clã. No ano passado, ele tentou emplacar o caçula Eduardo, cuja experiência internacional se resumia a fritar hambúrgueres, como embaixador do Brasil em Washington. Ao defender o indefensável, pronunciou duas frases memoráveis. “Pretendo beneficiar um filho meu, sim. Se eu puder dar filé mignon pro meu filho, eu dou”, afirmou.
A visão do Estado como um bife suculento explica a gula de Bolsonaro pela Polícia Federal. Ele queria espetar o garfo no órgão para reparti-lo entre os filhos. Ao que tudo indica, seu principal objetivo era interferir nas investigações sobre desvio de verbas parlamentares e fábricas de fake news.
A se confirmarem os relatos de ontem, o presidente admitiu o plano na fatídica reunião ministerial que antecedeu a saída de Sergio Moro. A versão de que ele se referia à segurança da família soa como conversa fiada. Quem cuida do assunto é o Gabinete de Segurança Institucional, não o Ministério da Justiça.
Além da confissão presidencial, o vídeo registra outras duas passagens que complicam o governo. Numa delas, o ministro Abraham Weintraub teria defendido a prisão de ministros do Supremo. Em outra, a ministra Damares Alves estendeu a ideia a prefeitos e governadores. As falas ilustram o desembaraço com que o bolsonarismo conspira contra a democracia. E tornam mais urgente a divulgação da íntegra da fita, que está nas mãos do ministro Celso de Mello.
O presidente não vai mudar enquanto não for parado, seja por uma denúncia criminal ou por um processo de impeachment. Ontem ele disse que a gravação que pode incriminá-lo “era para ser destruída”. “O vídeo é meu”, afirmou, como se fosse o dono do governo e das provas do inquérito que o investiga.
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