Não
sejamos cínicos. O mundo não torceu pela recuperação dele
Milhões
perderam seus empregos por
causa do coronavírus. Donald Trump não. A pandemia não obrigou a Casa Branca a
fechar as portas. Em consequência, Trump continuou batendo o ponto, recebendo o
salário e contando com as benesses de seu cargo, inclusive a de ter sua vida
salva.
Não
sejamos cínicos. Foi com euforia que o mundo recebeu a notícia de que ele caíra
vítima da doença que já afetou 35 milhões de pessoas e cuja gravidade sempre
negou. Nada de condolências ou preces hipócritas pela sua recuperação.
Multidões torceram para que ele passasse pelos mesmos horrores que nossos
parentes e amigos, como o de ser entubado, e, quem sabe, se juntasse ao mais de
um milhão de pessoas que o vírus levou. Entre outros motivos, para que alguém
menos irresponsável tomasse as rédeas nos EUA e interrompesse o nefasto exemplo
que Trump dá a governantes beócios.
Daí
o encanto com que acompanhamos a batelada de remédios que os médicos bombearam
no seu organismo por uma miríade de orifícios. Trump foi recheado com coquetéis
de anticorpos sintéticos, antivirais, melatonina, zinco, aspirinas e
antiácidos, associados a quilos de drogas heavy metal como dexametasona, remdesivir e
REGN-COV 2, enquanto eles o mantinham respirando com jatos de oxigênio capazes
de inflar o dirigível Hindenburg. Só não lhe deram cloroquina porque queriam
salvá-lo, não matá-lo.
Com
tudo isso, não admira que ele tenha levado apenas três dias para ressuscitar,
voltar ao trabalho e jogar fora a máscara. O problema agora é: quem vai
proteger a Casa Branca da bomba humana que Trump se tornou, despejando
perdigotos por onde passa e atingindo colegas, burocratas, seguranças,
faxineiros e até os pobres correspondentes?
Trump
declarou que se sente melhor hoje do que "há 20 anos". Mentira. Há 20
anos ele estava apalpando mocinhas em público. Agora já não lhe serve de nada
fazer isso.
Ruy
Castro
*Jornalista
e escritor, autor das biografias de Carmen Miranda, Garrincha e Nelson Rodrigue
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