Folha de S. Paulo
Gasto com pobres é discutido em gritaria de
xepa e PIB evapora no mercado de juros
A discussão
do Auxílio Brasil, do teto de gastos e dos precatórios parece gritaria
de xepa de fim de feira (desculpas aos feirantes). Para liquidar o assunto e
conseguir uma baciada de emendas e de gambiarras fiscais, a cada momento se
grita solução diferente. Ora é a emenda constitucional que revisa o teto de
gastos, ora se propõe a prorrogação
do auxílio emergencial, ora se vende o peixe de financiar a coisa com um
crédito extraordinário ou com um decreto de calamidade.
Nos mercados financeiros, o futuro da
economia evapora. Para piorar, o Banco Central não
convenceu os donos do dinheiro de que pode segurar o estouro da boiada de
inflação, juros e expectativas em geral.
Como se fosse possível, o desgoverno é ainda maior. O comando está nas mãos de Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara, e Ciro Nogueira (PP-PI), ministro da Casa Civil, a diarquia que ora funciona como regência provisória da esculhambação final de Jair Bolsonaro.
Paulo Guedes e
seus "técnicos" vez e outra dão um palpite. Na zorra desta
quinta-feira, disseram que não
aceitam pagar o auxílio com decreto de calamidade. Já haviam dito que não
queriam pagar a conta com um crédito extraordinário (um gasto para despesas
extraordinárias, óbvio, imprevistas, o que não é o caso da miséria aumentada
pela epidemia). Pode dar rolo legal. Mas aqueles "técnicos" que não
queriam a mudança do teto foram
atropelados e pediram demissão. De quebra, ainda foram avacalhados por
Guedes por terem saído. Muito "técnico".
Esse é o governo que, por birra, solta
a ideia de que vai privatizar a Petrobras. Como Bolsonaro viu que meter a
mão na empresa causa danos colaterais, por uns dias achou melhor vender logo
esse troço, que "só
dá dor de cabeça". A seguir, voltou a dizer que pode meter a mão no
lucro da empresa.
Esse é o governo que mandou uma reforma
ruim do Imposto de Renda para o Congresso, onde ficou mais confusa
(com aplauso de Guedes) e que levaria o governo geral a perder quase uns R$ 40
bilhões de arrecadação. Alguns "técnicos" de Guedes disseram
"tudo bem", pois o governo estaria "devolvendo recursos à
sociedade".
Está nada. O governo está com um déficit de
R$ 148 bilhões nos últimos 12 meses. Não paga nem toda a despesa corrente,
menos ainda a conta de juros, que está em mais de R$ 520 bilhões por ano e
subindo, conta que se empilha na dívida. Em vez de arrecadar imposto, o governo
acha bom tomar mais dinheiro emprestado, a juros crescentes, em parte por causa
do próprio governo. É um esculacho geral.
A gritaria sobre o auxílio, Brasil ou
Emergencial, está ainda maior porque o governismo teme
que seja derrotada a emenda constitucional que revisa o teto de gastos de
modo casuístico, improvisado e incompetente.
A zorra fura-teto levou o Banco
Central a elevar a taxa de juros em 1,5 ponto percentual, já uma paulada. O
BC chamou essa algazarra de "questionamentos em relação ao arcabouço
fiscal". Se o "questionamento" se tornar chute no pau do teto,
como querem Bolsonaro, Lira, Ciro e Guedes, o BC
vai acelerar de novo o ritmo de aumento de juros, afora no caso de milagre.
Na praça do mercado, os juros já galoparam.
Mesmo que a solução para o auxílio não seja a pior, as taxas ficarão acima de
onde estavam faz 15 dias. Quanto mais durar a bagunça, pior. Se a solução for o
fura-teto permanente, ainda pior. O dólar na casa dos R$ 5,60 ajuda a manter a
fervura da inflação.
Por via das dúvidas e dos custos, muito investimento das empresas vai para a gaveta. Estagnação já é um prognóstico otimista para 2022.
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