O Globo
Para Arthur Lira, não basta sentar em cima
de mais de 130 pedidos de impeachment. O presidente da Câmara também quer
blindar os bolsonaristas que usaram as redes para espalhar mentiras na
pandemia.
A CPI da Covid pediu o indiciamento de sete
deputados por incitação ao crime. Eles estimularam o descumprimento de medidas
sanitárias e difundiram informações falsas sobre máscaras e vacinas. A lista é
encabeçada pelo ministro Onyx Lorenzoni, que está licenciado da Câmara. Também
inclui Eduardo Bolsonaro, Osmar Terra, Ricardo Barros, Bia Kicis, Carla
Zambelli e Carlos Jordy.
O relatório da CPI dedica mais de 200
páginas às fake news. “Não suporto mais essas máscaras na nossa cara”, tuitou
Kicis, quando médicos e cientistas explicavam a importância do equipamento. A
deputada afirmou que o uso das máscaras causaria “malefícios” e “prejuízos” à
saúde. Em outra postagem, sustentou que as vacinas poderiam afetar o DNA
humano.
Na cruzada para desinformar a população, Carla Zambelli mentiu até sobre a própria saúde. Em agosto de 2020, ela disse ter se curado da Covid-19 “com tratamento precoce e hidroxicloroquina”. “Muito obrigada pelas mensagens de apoio e orações!”, escreveu. O hospital que atendeu a deputada informou que seus exames para o coronavírus deram negativo. Ela apagou o tuíte, mas não admitiu a lorota.
As investigações ajudaram a mostrar que o
negacionismo mata. Em dezembro de 2020, deputados e blogueiros bolsonaristas
pressionaram o governo do Amazonas a revogar um decreto de lockdown. O estado
recuou, as infecções dispararam e a rede hospitalar entrou em colapso.
As fake news “amplificaram o risco de
contaminação das pessoas, levaram à sobrecarga do sistema de saúde e,
lamentavelmente, causaram mais óbitos”, concluiu o relatório aprovado na
terça-feira. No dia seguinte, Lira atacou a CPI e classificou os pedidos de
indiciamento como “inaceitáveis”.
Numa fala inflamada, o deputado invocou a
imunidade parlamentar e disse que os colegas não podem ser punidos por
“expressar sua opinião”. O discurso confunde liberdade de expressão com licença
para cometer crimes contra a saúde pública. O presidente da Câmara sabe disso,
mas prefere fechar os olhos para proteger os aliados.
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