Folha de S. Paulo
No Natal parlamentar, tem projeto aprovado às
pressas para aumentar poluição e custo da conta de luz
As festas de final de ano no Congresso são
aqueles dias em que se pagam contas —se fazem favores para lobbies. São dias de
cobrança de contas —esfolar o governo da vez de modo a conseguir o pagamento de
atrasados, como dinheiros em geral, de emendas em particular, e cargos, o
óbvio.
Há dinheiro para empresas amigas, mais conta
para o consumidor pagar, mais dívida para o governo federal. Mais armas
liberadas para mais gente neste país de massacres.
O trator legislativo pode passar por cima da lei que regula as usinas eólicas de energia elétrica em alto-mar, uma corrente submarina de oportunidades para amigos da poluição e seus produtores. A lei dá longa sobrevida a produtores de carvão e a usina termelétricas a carvão (até 2050, ano em que nossos filhos estarão vivendo em um planeta que torra).
Obriga-se também o país a comprar energia
elétrica produzida com gás fóssil. Tudo isso bancado por subsídios (rendas para
o capital) que vão encarecer a conta de luz com um extra de R$ 20 bilhões a R$
30 bilhões por ano.
A coisa vai para o plenário do Senado nesta
semana. O governo diz que veta. No Congresso, dizem que o veto cai.
Nas festas deste ano parece haver lista maior
de projetos daninhos, ao mesmo tempo que há leis enormes pendentes de
aprovação, da reforma
tributária à LDO (Lei de
Diretrizes Orçamentárias), que em tese prepara a Lei Orçamentária
Anual. Dado o atropelo, a LDO pode até ficar para 2025, com o que seria muito
interessante ver como o governo vai pagar suas contas no início do ano. É uma
baderna bananeira.
Enfim está quase certo que vai passar o
trem da alegria dos estados mais endividados e porcamente administrados do país.
É na prática um grande perdão de dívidas de estados com a União (governo
federal). Para não dar dinheiro apenas para os grandes e tradicionais
devedores, arrumou-se um jeito de dar dinheiro a governos que tentaram manter
suas contas em ordem.
Entre 1997 e 1999, o governo federal assumiu
as dívidas de estados quebrados, que poderiam pagar o débito, agora com a
União, a perder de vista, com juros de 6% ao ano mais correção monetária, então
taxa de pai para filho. Mesmo assim, estados não pagavam, conseguiam novos
perdões. Cerca de 90% da dívida assumida pela União era de São Paulo, Rio,
Minas e Rio Grande do Sul. São Paulo ao menos arrumou as contas, depois da
mãozinha.
Na nova renegociação, a taxa de juros real
pode ir a 2% ou até zero (caso os estados cumpram certos requisitos e entreguem
ativos à União, como estatais ou, graça maior, créditos a receber. O governo
federal, de resto, viraria cobrador de estado inepto). Mas a festa ainda pode
ir mais longe. De resto, as taxas reais de prazos mais longos da dívida pública
estão perto de 7%. No fim das contas, o governo federal receberá menos, talvez
até R$ 30 bilhões por ano. A dívida federal aumentará mais.
Há o "pacote de segurança do Lira"
(Arthur Lira, presidente da Câmara). São projetos diversos. Tem anistia para
arma ilegal e facilidades de liberação de armamento para gente perigosa.
O Congresso tem mais bala na agulha, mais
tiro no bolso do cidadão, talvez em sua cabeça, literalmente; mais contas para
passar para o governo federal; criará economia mais poluente e mais
ineficiente.
É o Natal parlamentar.
4 comentários:
Então é natal,a festa cristã...
Tá.
Uma gang de malfeitores e deliquentes plantada no Congresso e nos Ministérios usa, abusa e se lambuza do poder de malbaratar o dinheiro público à luz do dia num festival de sandices e pura hipocrisia
São os representantes escolhidos pelo povo.
Amigos da poluição - gostei da expressão! Verdadeira e didática...
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