O Estado de S. Paulo
Na última reunião do Copom comandada por
Roberto Campos Neto, o Banco Central (BC) deu início a novo choque de juros,
destinado a conter a inflação que vai escapando para perto dos 5% ao ano.
Por unanimidade foi decidida a pancada de 1,0 ponto porcentual, que empurra os juros básicos (Selic) aos 12,25% ao ano. E ficou avisado que, se nada mudar, vêm mais dois avanços de 1 ponto porcentual em cada uma das duas próximas reuniões, agendadas para 29 de janeiro e 19 de março, quando o Copom terá sete diretores indicados pelo presidente Lula entre os nove de sua composição. Isso empurraria a Selic em março para os 14,25% ao ano.
A meta de inflação que o BC está obrigado a
perseguir é de 3% ao ano com tolerância de mais 1,5 ponto porcentual, que
perfaz o teto de 4,5% ao ano.
Os de sempre já começaram a vociferar contra
a nova alta. Fingem desconhecer que o regime em vigor é o de metas de inflação,
que o BC precisa cumprir, sob pena de perda de credibilidade. Sim, os juros
altos aumentam a dívida pública e inibem a atividade econômica, mas não são a
fonte da encrenca.
A flácida política fiscal continua a
desarrumar as contas públicas e trabalha na contramão do BC, porque injeta
dinheiro demais na economia. É, também, o principal responsável pela disparada
do dólar, outro fator que mexe com a inflação.
O duro comunicado emitido logo após a reunião
do Copom desta quarta-feira avisa que a situação interna piorou: “Está menos
incerta e mais adversa”. Justifica o novo estirão da Selic pela desorganização
produzida pela indisciplina fiscal por criar demanda artificial de bens e
serviços. Artificial, porque desacompanhada de aumento de capacidade de
produção intensifica o desarranjo, o que o comunicado destaca como: “abertura
adicional do hiato do produto”.
Essa é a principal causa da deterioração das
expectativas, ou seja, do aumento do risco percebido pelos fazedores de preços
de que o BC perca a capacidade de controlar a inflação. Situação que leva
credores e devedores a se defenderem da perda de patrimônio e de renda pela
inflação. Uma dessas defesas é a corrida ao dólar e ao ouro.
Para além das reclamações renitentes, a
decisão deverá aumentar as pressões de políticos e de economistas heterodoxos
para que o governo reveja a meta de inflação para que os juros não precisem
subir ainda mais.
Gabriel Galípolo, que assumirá a presidência
do BC em janeiro, já avisou que um movimento nessa direção seria grave erro,
porque reduziria o BC à condição de biruta de aeroporto, que aponta na direção
do vento e deixaria de cumprir seu compromisso com o combate à inflação e com a
defesa da moeda.
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