Ano-Novo traz velhos problemas para o governo
O Globo
As dificuldades de 2025 na economia, na
segurança, na infraestrutura, na educação e no meio ambiente
O ano de 2025 dará trabalho ao Brasil. Da economia à segurança, da infraestrutura à educação, há muito a fazer. O cenário externo mudou. A eleição de Donald Trump nos Estados Unidos traz um misto de incerteza e adversidade, justamente quando o governo e o Congresso relutam em enfrentar a crise fiscal. A escalada do endividamento exige ações robustas de ajuste das contas públicas. A crise de confiança não foi debelada. Novos cortes de despesas serão necessários, e brigar com o Banco Central diante do inevitável aumento dos juros que se desenha só tornará a situação pior. Esse, sem dúvida, é o desafio mais urgente.
Na lista do que fazer, o desafio seguinte
está na segurança. É fato que os homicídios caíram 3,4% em 2023, confirmando
tendência iniciada em 2018. Mas, com 22,8 mortes por 100 mil habitantes, o
Brasil ainda tem mais assassinatos que a média latino-americana. Há enormes
disparidades regionais. A taxa no Rio é superior às do México e da Colômbia. A
de São Paulo está próxima da americana. Mas a polícia paulista tem matado mais
e emitido sinais de descontrole. Enquanto os crimes de rua têm caído,
estelionatos, feminicídios, violência doméstica
e estupros não param de crescer.
É fundamental haver coordenação nacional
contra o poder de organizações criminosas que operam em todo o país e até no
exterior. Aprovar a PEC da Segurança Pública seria um bom começo para o governo
federal assumir a responsabilidade que lhe cabe. Na discussão sobre segurança,
é essencial eliminar o oportunismo político e basear as decisões em dados. Por
óbvio, a polícia não tem o direito de atirar primeiro e perguntar depois.
Propostas bisonhas de mudanças na legislação podem agitar certos grupos de eleitores,
mas estão distantes de resolver qualquer problema. A crise exige das
autoridades mais inteligência e menos demagogia.
Na infraestrutura, a prioridade é resgatar o
papel institucional das agências reguladoras. Criadas na década de 1990 para
garantir o cumprimento de contratos, elas precisam funcionar com autonomia e
rigor técnico. Em ambos os quesitos, têm sofrido degradação. A indicação de
diretores virou um balcão de negócios. A interferência política, a força
discricionária de lobbies ou a incompetência minam o ambiente de negócios.
Dependendo do setor, o investidor exige mais 1,5% de margem de lucro para
investir no Brasil em razão do risco regulatório. O custo da imprevisibilidade
é alto e tem crescido. Num país com infraestrutura deficiente e investimentos
em falta, isso é uma tragédia.
O segundo maior desafio na infraestrutura é
reverter a deterioração do setor elétrico. A atuação de grupos de pressão em
busca de subsídios e benesses precisa ser contida. Em vez de investir em ganhos
de produtividade, eles obtêm no Congresso concessões e regalias que dificultam
a transição energética e encarecem a conta de luz. Um exemplo recente foi o
projeto aprovado para regulamentar a instalação de usinas eólicas em alto-mar.
Durante a tramitação, o texto recebeu enxertos sem conexão com o mote original
ou com a lógica econômica. A lei prorroga a geração de energia a carvão e prevê
a contratação compulsória de térmicas a gás. Quem ganha com isso? Certamente
não é o Brasil. O ano de 2025 deveria marcar o início da caça a esses
“jabutis”.
Na educação, outro setor prioritário, o
governo federal precisará estabelecer metas para os próximos dez anos. A
principal medida que deveria tomar é estender a todo o país boas práticas de
ensino que já existem, mas continuam restritas. Há também novos problemas, como
preparar as redes escolares para enfrentar as mudanças climáticas. No ano
passado, escolas ficaram fechadas devido à enchente no Rio Grande do Sul e às
queimadas noutras regiões. Planos emergenciais devem ser preparados com
antecedência e testados. Outra questão que exige atenção é o fechamento de
escolas pela violência. Crianças e jovens mais vulneráveis são os mais
prejudicados.
O governo federal deveria dar mais agilidade
à política nacional para a primeira infância e à integração dos bancos de dados
educacionais. O ano de 2025 também será crítico para a implantação do novo
ensino médio. Aprovada em 2017, a reforma foi suspensa em 2023. Depois de idas
e vindas, a versão final foi aprovada no Congresso, mantendo as metas
principais. É hora de pôr tudo em prática.
Na área ambiental, o desafio será lidar com o
governo Trump nas negociações da 30ª Conferência do Clima da ONU, prevista para
Belém no segundo semestre. Tentar costurar um acordo, por consenso, entre quase
200 países sobre mitigação e adaptação às mudanças do clima já não era fácil.
Com Trump, ficou ainda mais difícil. Em paralelo, assim como aconteceu com as
queimadas e enchentes em 2024, eventos extremos mais frequentes e mais intensos
prometem surpreender.
A volta de Trump provoca complicações também
na economia. O plano de aumentar tarifas comerciais e promover deportações terá
impacto na inflação,
portanto nos juros. O dólar já subiu por causa disso, agravando o desafio
fiscal do Brasil. Como se vê, trabalho para o governo não há de faltar no ano
que começa.
Más escolhas projetam dificuldades neste ano
Folha de S. Paulo
Ação contra Bolsonaro, gastança sob Lula e
farra das emendas elevam riscos, que exigem medidas técnicas dos três Poderes
O ano de 2025, marco do primeiro quarto do
século 21, começa sob a perspectiva de desafios não triviais para a política e
a economia brasileiras. Compõe esse quadro uma combinação de escolhas infelizes
nos dois polos do espectro ideológico, desajustes institucionais e
contingências.
A conta da irascibilidade de Jair
Bolsonaro (PL) durante o período em
que governou o país caminha para ser explicitada no Supremo Tribunal Federal.
Espera-se para os meses iniciais do ano uma denúncia do procurador-geral da
República contra o ex-presidente por tentativa de golpe de Estado.
A ação que provavelmente se sucederá não
deveria desviar-se nem sequer um milímetro do devido processo legal. Uma coisa
é apontar o
inegável pendor autoritário de Bolsonaro, outra bem diferente é
decidir se as condutas apresentadas pela acusação justificam condenação
criminal.
Para tanto será necessário assegurar a ampla
defesa, observar à risca os ritos processuais e sustentar as decisões em base
estritamente técnica. Seria desastrosa uma reincidência da corte no padrão
oscilatório que marcou o caso judicial do então ex-presidente Luiz Inácio Lula da
Silva (PT).
Tampouco contribuirá para a normalização
institucional a continuidade das ações heterodoxas do tribunal constitucional.
O Supremo acaba de
renovar a validade do inquérito das chamadas fake news, apesar de
promessas de seu presidente de que essa anomalia estaria chegando ao fim.
Do lado petista, o ano que se inicia promete
ser de desgaste em razão da opção irresponsável, contrária à praxe, de
inaugurar o terceiro mandato de Lula com o pé no acelerador do gasto
público. Dólar e juros em
disparada, e a inflação em
alta, privaram precocemente o governo de alternativas que não sejam custosas.
Manter a
gastança precipitará ajuste selvagem pelos preços, o que implica
cavalgada da carestia, afetando sobretudo os pobres. Aplicar um freio
substancioso na despesa, de longe a melhor saída, reduzirá o impacto social e
político da correção, sem necessariamente evitá-lo.
A chegada de Donald Trump à
Casa Branca, que aumentará a imprevisibilidade geopolítica e acentuará medidas
inflacionárias como a elevação de tarifas de importação e de barreiras à
imigração, recomenda a países como o Brasil ainda mais cautela no manejo da
politica econômica.
A aberração em que se transformou o regime
das emendas no Congresso
Nacional também prejudicará a boa condução dos assuntos
públicos. A cobrança correta do STF de
transparência nos desembolsos mal arranha a essência do problema, que embota a
governabilidade no sistema presidencialista.
Por essas razões, 2025 se descortina como um
ano de maiores obstáculos do que 2024. Suavizar ou mesmo inverter essa previsão
dependerá em boa medida da qualidade e da tempestividade das ações de
autoridades e representantes da população.
Rumores sobre o ocaso da democracia são
exagerados
Folha de S. Paulo
Vitórias com as de Trump e Putin elevam
percepção de avanço do autoritarismo, mas liberdade política ainda mostra força
Mais de 70 países, nos quais reside a metade
da população do planeta, realizaram pleitos nacionais para definir o poder
central em 2024. O simples fato de haver tanta gente indo às urnas sinaliza,
parafraseando Mark Twain, que os rumores sobre o ocaso da democracia são
exagerados.
A título de comparação, em 1970, pelos
critérios do V-Dem, 53% das nações do globo eram autocracias fechadas
(ditaduras plenas). As democracias liberais e democracias eleitorais não
passavam de 24%. Já em 2023, apenas 19% dos países eram autocracias fechadas, e
as democracias liberais ou eleitorais somavam 51%.
Reconhecer o enorme avanço não implica fechar
os olhos para ameaças, que existem e vivem um período de alta. A sensação que
se tem ao analisar os resultados dos pleitos de 2024 é a de que o autoritarismo
avançou.
O principal motivo dessa percepção é a sólida
vitória de Donald Trump.
Dos anos 90 até a primeira década deste século, os EUA foram o país que mais
propugnou pela expansão da democracia em escala global. É preocupante vê-los
sob a liderança de um presidente
que não tem o menor compromisso com a democracia, nem interna nem
externamente, e desconfia-se mesmo de que poderá voltar a golpeá-la, como fez
em janeiro de 2021.
Outras vitórias que contribuem para a
percepção negativa foram as de Vladimir
Putin na Rússia e
a de Nayib Bukele em El Salvador,
que vai ganhando imitadores no continente. A Venezuela poderia
entrar nessa lista, mas nesse caso de
eleição fraudada não se pode responsabilizar o eleitor.
Na Europa ocidental,
a extrema direita obtém avanços importantes, mas não venceu o principal pleito
que disputou —as legislativas antecipadas na França.
Em muitas situações, há nuances a considerar.
Na Índia,
por exemplo, o líder com tendências autoritárias, Narendra Modi, conseguiu
obter seu terceiro mandato consecutivo, mas viu sua maioria
emagrecer. Terá agora de fazer um governo de coalizão. O autoritarismo avançou
(novo mandato) ou recuou (maioria mais magra)?
A situação perder para a oposição, com
alternância entre grupos mais à esquerda e mais à direita, é a essência da
democracia. Há motivo para preocupação só quando vitoriosos ou derrotados
passam a atuar explicitamente contra as instituições ou tentam moldá-las para
atender a seus interesses particulares.
Isso tem acontecido com mais frequência. Contudo, ao fim e ao cabo, não foram tantas as nações que deixaram de ser democracias nos últimos anos.
O desafio da democracia latino-americana
O Estado de S. Paulo
Como mostra Latinobarômetro, confiança na
democracia resiste, mas tentação iliberal também. Após 40 anos de
redemocratização, a região precisa amadurecer sua vocação política
Há não muito tempo, o futuro da América
Latina era promissor. Nos anos 2000, o superciclo das commodities viabilizou
novos programas sociais. A redução da desigualdade reforçava a
redemocratização. Mas os governantes não empenharam seu capital político em
modernizações estruturais (políticas, tributárias, administrativas) e
desperdiçaram o capital físico que deveria ter sido investido nas engrenagens
de um crescimento sustentável, como infraestrutura, educação, produtividade e
diversificação econômica.
Se aquele círculo virtuoso era frágil, o
atual círculo vicioso é forte. Uma década de estagnação acentuou a frustração
com a falta de oportunidades, especialmente entre os jovens. A fúria popular se
voltou não só contra os políticos incumbentes, mas contra a política.
Reacende-se a esperança em salvacionistas autoritários. Mas, além de serem tão
ou mais ineficientes que seus pares moderados, eles dilapidam o Estado
Democrático de Direito.
Não surpreende que a confiança na democracia
seja ambivalente. Em 2023, o Latinobarômetro, uma pesquisa anual de opinião
pública em 18 países da América Latina, estampava o título A recessão
democrática. Em contraste, a última edição celebra uma Democracia resiliente.
“O ano de 2024 nos surpreende com aumento de quatro pontos porcentuais de apoio
à democracia, chegando a 52%, um recorde de expectativas econômicas pessoais
positivas e um aumento no apoio à economia de mercado.”
E, no entanto, o apoio à democracia ainda
está abaixo da média da década de 2007 a 2017. A satisfação com o funcionamento
da democracia aumentou, mas dois terços dos latino-americanos permanecem
descontentes. Quatro em dez acreditam que seu país pode funcionar sem partidos,
Parlamento ou oposição. Mais da metade diz que não se incomodaria com um
governo autocrático, desde que resolvesse os problemas do país. Mais alarmante:
entre os que se dizem de classe alta, essa proporção é maior (61%) e, quanto
mais jovens os latino-americanos, mais propensos são ao autoritarismo.
A mescla de desconfiança e esperança, as
oscilações e contradições refletem uma cidadania incompleta. A evolução da
cidadania celebrizada por T.H. Marshall – a cidadania civil no séc. 18, a
política no séc. 19 e a socioeconômica no século 20 – ainda está longe de ser
consumada na América Latina do século 21.
Só há quatro décadas os latino-americanos
recuperaram seus direitos políticos. A combinação de privilégios oligopolistas
e protecionismo perpetua a baixa produtividade do setor privado e a falta de
investimentos e inovação, que são chave para a mistura tóxica de desigualdade e
baixo crescimento – tornada explosiva pela violência política, criminal e
social.
Na esfera pública, o centro colapsa, a
direita, em nome da “liberdade”, se aferra a regalias elitistas e a esquerda,
em nome da “igualdade”, insiste na tara estatista. A política é, a um tempo,
polarizada entre demagogos populistas, fragmentada entre partidos amorfos e
paroquiais e inflamada pela agitação das redes sociais.
A armadilha do subdesenvolvimento é tanto
mais dramática porque não faltam recursos para desarmá-la. Afastada de
conflitos geopolíticos graves, a América Latina é rica em culturas multiétnicas
e em alimentos, minérios e energia renovável que a colocam numa posição-chave
para tirar proveito de grandes tendências globais, como a disputa entre China e
EUA ou a alta das commodities, e solucionar desafios do século 21, como a
segurança alimentar e as mudanças climáticas.
Mas não há atalhos. Os latino-americanos
precisam redescobrir sua vocação para a política e cultivar a arte de formar
consensos. Felizmente, em “quase 30 anos de medições”, dizem os pesquisadores,
“os muitos altos e baixos e períodos ruins não conseguiram matar as democracias
como tantos auguram nem tampouco declará-las um caso perdido”. A democracia,
dizia Churchill, é o pior dos regimes, exceto por todos os outros. A duras
penas essa consciência se consolida na América Latina. Mas saber disso é uma coisa.
O desafio do século será provar.
Adultos despreparados
O Estado de S. Paulo
Estudo da OCDE mostra que, mundo afora,
grande parcela de adultos não entende textos básicos; reorganização da forma
como se ensina é fundamental para acesso ao mercado de trabalho
Um estudo recém-divulgado pela Organização
para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) mostra que um porcentual
significativo de adultos (média de 18%) não domina os níveis mais básicos de
proficiência em leitura, matemática e resolução de problemas, habilidades
fundamentais para o desenvolvimento pessoal, econômico e social.
É extremamente preocupante que quase um
quinto dos participantes do estudo (cerca de 160 mil) não consiga, por exemplo,
extrair de uma mensagem de texto curta o tempo de validade de um código
fornecido.
Adultos de 16 a 65 anos de 31 países (o
Brasil não faz parte da análise) participaram da edição 2023 da pesquisa Habilidades
dos Adultos (conhecida como Pisa dos Adultos), que a OCDE promove a cada
dez anos. Os resultados, de um modo geral, mostram um quadro desolador, uma vez
que a capacidade de ler, fazer contas e resolver problemas é determinante para
o acesso e, mais que isso, a permanência e o desenvolvimento no mercado de
trabalho.
Dos 31 países avaliados, apenas dois,
Finlândia e Dinamarca, apresentaram avanço significativo em capacidade de
leitura em relação ao estudo realizado dez anos antes; nos demais países tal
habilidade ou ficou estagnada ou piorou. Considerado um dos países com melhor
sistema educacional do mundo, a Finlândia é a nação mais bem-sucedida no estudo
em todas as três áreas avaliadas. Além da Finlândia, Japão, Suécia e Noruega
estão no topo da pesquisa, enquanto os piores foram Portugal, Polônia e Chile –
quase metade dos chilenos ficou ou no nível mais básico de leitura e matemática
ou abaixo dele.
Embora de um modo geral a queda de desempenho
tenha se concentrado, sem surpresas, entre os que têm menor escolaridade, o
Pisa dos Adultos também radiografou disparidades em relação à qualidade do
ensino superior. Exemplo disso é o fato de que alunos que concluíram o ensino
médio na Finlândia superaram de forma consistente o desempenho de adultos com
educação superior em vários países, incluindo Chile, Israel e Lituânia.
Esse dado é extremamente importante porque
mostra que não basta fazer com que as pessoas tenham acesso à universidade, mas
é preciso que ao longo da formação educacional elas efetivamente aprendam. Sem
isto, é até possível chegar à universidade, mas como mostra o Pisa dos Adultos
o conhecimento e as habilidades acumuladas seguirão inferiores aos de alunos da
educação secundária que aprenderam de forma efetiva.
Neste sentido, os resultados do último Pisa
(avaliação de aprendizado também feita pela OCDE, mas com alunos de 15 anos)
apenas contribuem com o sentimento de desolação. Divulgado no fim de 2023, o
Pisa mostrou queda geral no desempenho em leitura, matemática e ciências dos
países participantes.
Pior para o Brasil, que ficou fora do Pisa
dos Adultos, mas participou da avaliação para estudantes de 15 anos e ocupou as
últimas posições, atrás até mesmo de países latino-americanos mais pobres como
Colômbia e Peru. É fácil concluir que, se tivesse participado do estudo Habilidades
dos Adultos, o Brasil também teria ocupado as últimas posições.
Apesar de ter ficado de fora da avaliação que
testa os adultos, o Brasil, como os demais países, pode seguir as recomendações
da OCDE para melhorar a capacitação e o aprendizado de suas crianças e seus
adultos, condição essencial para escapar do ciclo de pobreza e, em um mundo em
transformação tecnológica, determinante para a conquista de empregos que
permitem aos cidadãos o desenvolvimento contínuo, maior sensação de bem-estar e
melhor saúde.
A OCDE sugere, por exemplo, a adoção de
políticas públicas que mirem na melhora do acesso à educação e a treinamentos,
além de sistemas mais robustos de aprendizado destinados a adultos. Tudo isso
passa por flexibilidade, o que exige educação modulada e focada em realidades e
necessidades específicas.
O redirecionamento de rota de como se ensina
e como se aprende, no Brasil e fora dele, é fundamental para que haja
resiliência econômica e coesão social. Trata-se de processo que demanda tempo e
que, por isso mesmo, precisa começar o quanto antes, caso os países queiram
realmente prosperar.
A fatura sempre chega
O Estado de S. Paulo
Prefeitura de SP eleva tarifa de ônibus de R$
4,40 para R$ 5 após 4 anos de congelamento
A Prefeitura de São Paulo reajustou a tarifa
dos ônibus municipais de R$ 4,40 para R$ 5,00 a partir de janeiro de 2025. Esse
acerto de contas representa uma alta de 13,6%, bem acima da inflação de 2024,
estimada em 4,91%, mas bem abaixo das perdas acumuladas desde 2020, de 33%,
quando a passagem havia sido corrigida pela última vez.
Deslocar-se sobre trilhos pela capital e pela
Grande São Paulo também custará mais caro. O governo do Estado anunciou o
aumento da tarifa de R$ 5 para R$ 5,20, uma alta de 4%.
A fim de equilibrar as contas, todos os
serviços passam por reajuste periódico de preços. Essa correção, portanto, não
deveria ser excepcional. De tempos em tempos, as tarifas de luz, água e
telefonia, assim como as contas básicas do dia a dia do cidadão, amortecem, no
mínimo, os impactos inflacionários.
Mas, quando se trata da tarifa de transporte
coletivo, pesam, além dos fatores econômico-financeiros, os cálculos políticos
de uma medida considerada impopular. Não à toa, a passagem dos ônibus na
capital paulista ficou congelada por quatro anos. E, mesmo em ano eleitoral, o
assunto foi tratado praticamente como um tabu por candidatos, o que inclui o
atual prefeito reeleito, Ricardo Nunes (MDB).
Ao longo de todo o ano de 2024, o incumbente
tergiversou na discussão sobre a tarifa, deixando para discutir o tema depois
de passado o pleito. Essa não é uma tática nova, muito menos exclusiva de
Nunes, haja vista que em ano eleitoral a demagogia sobre as tarifas se repete,
notadamente desde 2013, ano marcado por protestos que começaram em razão de um
aumento de R$ 0,20 nas tarifas.
O problema é que isso custa muito caro para
toda a sociedade. Alguém paga a conta, mesmo que ela não seja cobrada nas
catracas dos coletivos. O que os números do Orçamento municipal mostram é que o
congelamento da tarifa ou a ampliação de gratuidades, como a tarifa zero aos
domingos, não saem nada de graça e pesam, e muito, nos cofres públicos.
Enquanto a tarifa ficou sem reajuste por
tanto tempo, o diesel, principal combustível usado pela frota paulistana de
13,5 mil veículos, que transporta 7,13 milhões de passageiros, subiu 57%. E,
para 2025, a fim de manter o sistema operante, já estavam previstos antes do
reajuste mais de R$ 6 bilhões em subsídios. Logo, a correção era uma
necessidade.
Segundo dados apresentados em reunião do
Conselho Municipal de Trânsito e Transporte (CMTT), o aumento de cada R$ 0,10
na tarifa implica um acréscimo de R$ 106 milhões na receita anual do sistema
dos ônibus municipais. Trata-se de uma quantia nada desprezível, que a
Prefeitura poderá deixar de destinar para os coletivos e aplicar em outros
serviços.
São Paulo ainda carece de solução, e de dinheiro, para muitos problemas, que passam por educação, saúde e zeladoria, entre tantos outros. Por isso, de qualquer prefeito, espera-se transparência ao diagnosticá-los, debatê-los e propor saídas, sem subterfúgios. Da população, espera-se maturidade para admitir que tudo tem um preço, e é ela mesma, ao fim e ao cabo, quem paga essa conta.
Desaceleração deve ser meta para 2025
Correio Braziliense
Para 2025, precisamos pensar em interromper o
já viciado girar da roda. Repensar é importante. Que tomemos decisões, dentro
do razoável, que desaceleram o ritmo de vida alucinante ao qual estamos
diariamente inseridos
O início de ano sempre é tempo de traçar
metas em busca de uma condição de vida melhor. Entre os planos almejados,
muitos de nós pensam em um emprego melhor, em ascensão financeira para ampliar
o consumo ou no tão sonhado diploma para exercer uma determinada profissão.
Nossos objetivos sempre giram em torno do dinheiro, numa eterna busca de maior
poder de compra em prol da aquisição de objetos de última geração, roupas,
carros, imóveis, entre outras coisas.
No nosso planejamento de início de ano, são
raros os objetivos que mencionam o descanso. Em um mundo no qual vivemos o
tempo inteiro com o pé mais pesado possível no acelerador e a corrida do
ponteiro do relógio parece ser cada vez mais rápida, não pensamos jamais em
diminuir a carga de trabalho e aproveitar as coisas que realmente importam em
nossas vidas: a família, os hobbies (sejam eles quais forem) e a melhoria da
qualidade de vida, a partir de hábitos saudáveis, como a prática de exercícios
físicos e a leitura de bons livros.
O tempo passa a milhão, e a vida da maior
parte das pessoas acaba sem que elas se deem conta disso. Perdemos horas no
trânsito e no necessário ganha-pão — tarefas que a imensa maioria não tem
escolha diante das necessidades financeiras —, mas, quando temos tempo livre,
recorremos ao mundo dos smartphones, que muito oferece em informação, mas pouco
oferece em qualidade de vida.
A cada ano eleitoral que se passa, como o
último, temos a sensação de que nada mudará, independentemente do voto a qual
recorremos nas urnas. Cobramos mudanças dos nossos representantes o tempo
inteiro, mas não olhamos para nossas próprias vidas. Estamos viciados no tédio
e na continuidade. Procuramos sempre o cotidiano. Nunca realizamos sonhos.
Corremos poucos riscos. Queremos controlar cada passo que damos e mergulhamos
na mesmice.
Para 2025, precisamos pensar em interromper o
já viciado girar da roda. Repensar é importante. Que tomemos decisões, dentro
do razoável, que desaceleram o ritmo de vida alucinante ao qual estamos
diariamente inseridos. Pequenos ajustes na rotina ajudam, como evitar o uso do
smartphone ao chegar em casa e reencontrar os familiares. Aqueles que nos amam
são infinitamente mais importantes do que a última atualização do feed do
Instagram.
Uma pesquisa encomendada pela NordVPN, um
provedor de Rede Virtual Privada, informou em outubro que 96% dos brasileiros
levam o celular ou outros dispositivos móveis para a cama. Esse dado coloca o
país em segundo lugar entre os 17 analisados. A imensa maioria desses
brasileiros, inclusive, usa mais de um dispositivo simultaneamente no aguardado
período de descanso, como assistir à TV de olho no celular.
O dado deveria assustar, mas parece fazer
completo sentido quando olhamos para a nossa própria rotina. São comportamentos
que acompanham uma série de transtornos mentais íntimos da nossa
contemporaneidade, como a ansiedade, a depressão e a hiperatividade. É um
problema mais sério do que parece e que, infelizmente, continua pouco discutido
em nossa sociedade.
O vício tem até nome: a nomofobia, quando
sofremos dependência dos dispositivos móveis. A enfermidade, inclusive, integra
a Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados
com a Saúde (CID), registro feito pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e
atualizado periodicamente. Uma pesquisa realizada pela Faculdade de Medicina da
UFMG, em 2023, apontou que 72% dos estudos que acompanharam crianças
constataram um aumento da depressão associado ao uso excessivo de telas nesse
grupo — uma dependência que também atinge adolescentes, adultos e idosos e
que disparou após a pandemia da covid-19.
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