quarta-feira, 1 de janeiro de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Ano-Novo traz velhos problemas para o governo

O Globo

As dificuldades de 2025 na economia, na segurança, na infraestrutura, na educação e no meio ambiente

O ano de 2025 dará trabalho ao Brasil. Da economia à segurança, da infraestrutura à educação, há muito a fazer. O cenário externo mudou. A eleição de Donald Trump nos Estados Unidos traz um misto de incerteza e adversidade, justamente quando o governo e o Congresso relutam em enfrentar a crise fiscal. A escalada do endividamento exige ações robustas de ajuste das contas públicas. A crise de confiança não foi debelada. Novos cortes de despesas serão necessários, e brigar com o Banco Central diante do inevitável aumento dos juros que se desenha só tornará a situação pior. Esse, sem dúvida, é o desafio mais urgente.

Na lista do que fazer, o desafio seguinte está na segurança. É fato que os homicídios caíram 3,4% em 2023, confirmando tendência iniciada em 2018. Mas, com 22,8 mortes por 100 mil habitantes, o Brasil ainda tem mais assassinatos que a média latino-americana. Há enormes disparidades regionais. A taxa no Rio é superior às do México e da Colômbia. A de São Paulo está próxima da americana. Mas a polícia paulista tem matado mais e emitido sinais de descontrole. Enquanto os crimes de rua têm caído, estelionatos, feminicídios, violência doméstica e estupros não param de crescer.

É fundamental haver coordenação nacional contra o poder de organizações criminosas que operam em todo o país e até no exterior. Aprovar a PEC da Segurança Pública seria um bom começo para o governo federal assumir a responsabilidade que lhe cabe. Na discussão sobre segurança, é essencial eliminar o oportunismo político e basear as decisões em dados. Por óbvio, a polícia não tem o direito de atirar primeiro e perguntar depois. Propostas bisonhas de mudanças na legislação podem agitar certos grupos de eleitores, mas estão distantes de resolver qualquer problema. A crise exige das autoridades mais inteligência e menos demagogia.

Na infraestrutura, a prioridade é resgatar o papel institucional das agências reguladoras. Criadas na década de 1990 para garantir o cumprimento de contratos, elas precisam funcionar com autonomia e rigor técnico. Em ambos os quesitos, têm sofrido degradação. A indicação de diretores virou um balcão de negócios. A interferência política, a força discricionária de lobbies ou a incompetência minam o ambiente de negócios. Dependendo do setor, o investidor exige mais 1,5% de margem de lucro para investir no Brasil em razão do risco regulatório. O custo da imprevisibilidade é alto e tem crescido. Num país com infraestrutura deficiente e investimentos em falta, isso é uma tragédia.

O segundo maior desafio na infraestrutura é reverter a deterioração do setor elétrico. A atuação de grupos de pressão em busca de subsídios e benesses precisa ser contida. Em vez de investir em ganhos de produtividade, eles obtêm no Congresso concessões e regalias que dificultam a transição energética e encarecem a conta de luz. Um exemplo recente foi o projeto aprovado para regulamentar a instalação de usinas eólicas em alto-mar. Durante a tramitação, o texto recebeu enxertos sem conexão com o mote original ou com a lógica econômica. A lei prorroga a geração de energia a carvão e prevê a contratação compulsória de térmicas a gás. Quem ganha com isso? Certamente não é o Brasil. O ano de 2025 deveria marcar o início da caça a esses “jabutis”.

Na educação, outro setor prioritário, o governo federal precisará estabelecer metas para os próximos dez anos. A principal medida que deveria tomar é estender a todo o país boas práticas de ensino que já existem, mas continuam restritas. Há também novos problemas, como preparar as redes escolares para enfrentar as mudanças climáticas. No ano passado, escolas ficaram fechadas devido à enchente no Rio Grande do Sul e às queimadas noutras regiões. Planos emergenciais devem ser preparados com antecedência e testados. Outra questão que exige atenção é o fechamento de escolas pela violência. Crianças e jovens mais vulneráveis são os mais prejudicados.

O governo federal deveria dar mais agilidade à política nacional para a primeira infância e à integração dos bancos de dados educacionais. O ano de 2025 também será crítico para a implantação do novo ensino médio. Aprovada em 2017, a reforma foi suspensa em 2023. Depois de idas e vindas, a versão final foi aprovada no Congresso, mantendo as metas principais. É hora de pôr tudo em prática.

Na área ambiental, o desafio será lidar com o governo Trump nas negociações da 30ª Conferência do Clima da ONU, prevista para Belém no segundo semestre. Tentar costurar um acordo, por consenso, entre quase 200 países sobre mitigação e adaptação às mudanças do clima já não era fácil. Com Trump, ficou ainda mais difícil. Em paralelo, assim como aconteceu com as queimadas e enchentes em 2024, eventos extremos mais frequentes e mais intensos prometem surpreender.

A volta de Trump provoca complicações também na economia. O plano de aumentar tarifas comerciais e promover deportações terá impacto na inflação, portanto nos juros. O dólar já subiu por causa disso, agravando o desafio fiscal do Brasil. Como se vê, trabalho para o governo não há de faltar no ano que começa.

Más escolhas projetam dificuldades neste ano

Folha de S. Paulo

Ação contra Bolsonaro, gastança sob Lula e farra das emendas elevam riscos, que exigem medidas técnicas dos três Poderes

O ano de 2025, marco do primeiro quarto do século 21, começa sob a perspectiva de desafios não triviais para a política e a economia brasileiras. Compõe esse quadro uma combinação de escolhas infelizes nos dois polos do espectro ideológico, desajustes institucionais e contingências.

A conta da irascibilidade de Jair Bolsonaro (PL) durante o período em que governou o país caminha para ser explicitada no Supremo Tribunal Federal. Espera-se para os meses iniciais do ano uma denúncia do procurador-geral da República contra o ex-presidente por tentativa de golpe de Estado.

A ação que provavelmente se sucederá não deveria desviar-se nem sequer um milímetro do devido processo legal. Uma coisa é apontar o inegável pendor autoritário de Bolsonaro, outra bem diferente é decidir se as condutas apresentadas pela acusação justificam condenação criminal.

Para tanto será necessário assegurar a ampla defesa, observar à risca os ritos processuais e sustentar as decisões em base estritamente técnica. Seria desastrosa uma reincidência da corte no padrão oscilatório que marcou o caso judicial do então ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Tampouco contribuirá para a normalização institucional a continuidade das ações heterodoxas do tribunal constitucional. O Supremo acaba de renovar a validade do inquérito das chamadas fake news, apesar de promessas de seu presidente de que essa anomalia estaria chegando ao fim.

Do lado petista, o ano que se inicia promete ser de desgaste em razão da opção irresponsável, contrária à praxe, de inaugurar o terceiro mandato de Lula com o pé no acelerador do gasto público. Dólar e juros em disparada, e a inflação em alta, privaram precocemente o governo de alternativas que não sejam custosas.

Manter a gastança precipitará ajuste selvagem pelos preços, o que implica cavalgada da carestia, afetando sobretudo os pobres. Aplicar um freio substancioso na despesa, de longe a melhor saída, reduzirá o impacto social e político da correção, sem necessariamente evitá-lo.

A chegada de Donald Trump à Casa Branca, que aumentará a imprevisibilidade geopolítica e acentuará medidas inflacionárias como a elevação de tarifas de importação e de barreiras à imigração, recomenda a países como o Brasil ainda mais cautela no manejo da politica econômica.

A aberração em que se transformou o regime das emendas no Congresso Nacional também prejudicará a boa condução dos assuntos públicos. A cobrança correta do STF de transparência nos desembolsos mal arranha a essência do problema, que embota a governabilidade no sistema presidencialista.

Por essas razões, 2025 se descortina como um ano de maiores obstáculos do que 2024. Suavizar ou mesmo inverter essa previsão dependerá em boa medida da qualidade e da tempestividade das ações de autoridades e representantes da população.

Rumores sobre o ocaso da democracia são exagerados

Folha de S. Paulo

Vitórias com as de Trump e Putin elevam percepção de avanço do autoritarismo, mas liberdade política ainda mostra força

Mais de 70 países, nos quais reside a metade da população do planeta, realizaram pleitos nacionais para definir o poder central em 2024. O simples fato de haver tanta gente indo às urnas sinaliza, parafraseando Mark Twain, que os rumores sobre o ocaso da democracia são exagerados.

A título de comparação, em 1970, pelos critérios do V-Dem, 53% das nações do globo eram autocracias fechadas (ditaduras plenas). As democracias liberais e democracias eleitorais não passavam de 24%. Já em 2023, apenas 19% dos países eram autocracias fechadas, e as democracias liberais ou eleitorais somavam 51%.

Reconhecer o enorme avanço não implica fechar os olhos para ameaças, que existem e vivem um período de alta. A sensação que se tem ao analisar os resultados dos pleitos de 2024 é a de que o autoritarismo avançou.

O principal motivo dessa percepção é a sólida vitória de Donald Trump. Dos anos 90 até a primeira década deste século, os EUA foram o país que mais propugnou pela expansão da democracia em escala global. É preocupante vê-los sob a liderança de um presidente que não tem o menor compromisso com a democracia, nem interna nem externamente, e desconfia-se mesmo de que poderá voltar a golpeá-la, como fez em janeiro de 2021.

Outras vitórias que contribuem para a percepção negativa foram as de Vladimir Putin na Rússia e a de Nayib Bukele em El Salvador, que vai ganhando imitadores no continente. A Venezuela poderia entrar nessa lista, mas nesse caso de eleição fraudada não se pode responsabilizar o eleitor.

Na Europa ocidental, a extrema direita obtém avanços importantes, mas não venceu o principal pleito que disputou —as legislativas antecipadas na França.

Em muitas situações, há nuances a considerar. Na Índia, por exemplo, o líder com tendências autoritárias, Narendra Modiconseguiu obter seu terceiro mandato consecutivo, mas viu sua maioria emagrecer. Terá agora de fazer um governo de coalizão. O autoritarismo avançou (novo mandato) ou recuou (maioria mais magra)?

A situação perder para a oposição, com alternância entre grupos mais à esquerda e mais à direita, é a essência da democracia. Há motivo para preocupação só quando vitoriosos ou derrotados passam a atuar explicitamente contra as instituições ou tentam moldá-las para atender a seus interesses particulares.

Isso tem acontecido com mais frequência. Contudo, ao fim e ao cabo, não foram tantas as nações que deixaram de ser democracias nos últimos anos.

O desafio da democracia latino-americana

O Estado de S. Paulo

Como mostra Latinobarômetro, confiança na democracia resiste, mas tentação iliberal também. Após 40 anos de redemocratização, a região precisa amadurecer sua vocação política

Há não muito tempo, o futuro da América Latina era promissor. Nos anos 2000, o superciclo das commodities viabilizou novos programas sociais. A redução da desigualdade reforçava a redemocratização. Mas os governantes não empenharam seu capital político em modernizações estruturais (políticas, tributárias, administrativas) e desperdiçaram o capital físico que deveria ter sido investido nas engrenagens de um crescimento sustentável, como infraestrutura, educação, produtividade e diversificação econômica.

Se aquele círculo virtuoso era frágil, o atual círculo vicioso é forte. Uma década de estagnação acentuou a frustração com a falta de oportunidades, especialmente entre os jovens. A fúria popular se voltou não só contra os políticos incumbentes, mas contra a política. Reacende-se a esperança em salvacionistas autoritários. Mas, além de serem tão ou mais ineficientes que seus pares moderados, eles dilapidam o Estado Democrático de Direito.

Não surpreende que a confiança na democracia seja ambivalente. Em 2023, o Latinobarômetro, uma pesquisa anual de opinião pública em 18 países da América Latina, estampava o título A recessão democrática. Em contraste, a última edição celebra uma Democracia resiliente. “O ano de 2024 nos surpreende com aumento de quatro pontos porcentuais de apoio à democracia, chegando a 52%, um recorde de expectativas econômicas pessoais positivas e um aumento no apoio à economia de mercado.”

E, no entanto, o apoio à democracia ainda está abaixo da média da década de 2007 a 2017. A satisfação com o funcionamento da democracia aumentou, mas dois terços dos latino-americanos permanecem descontentes. Quatro em dez acreditam que seu país pode funcionar sem partidos, Parlamento ou oposição. Mais da metade diz que não se incomodaria com um governo autocrático, desde que resolvesse os problemas do país. Mais alarmante: entre os que se dizem de classe alta, essa proporção é maior (61%) e, quanto mais jovens os latino-americanos, mais propensos são ao autoritarismo.

A mescla de desconfiança e esperança, as oscilações e contradições refletem uma cidadania incompleta. A evolução da cidadania celebrizada por T.H. Marshall – a cidadania civil no séc. 18, a política no séc. 19 e a socioeconômica no século 20 – ainda está longe de ser consumada na América Latina do século 21.

Só há quatro décadas os latino-americanos recuperaram seus direitos políticos. A combinação de privilégios oligopolistas e protecionismo perpetua a baixa produtividade do setor privado e a falta de investimentos e inovação, que são chave para a mistura tóxica de desigualdade e baixo crescimento – tornada explosiva pela violência política, criminal e social.

Na esfera pública, o centro colapsa, a direita, em nome da “liberdade”, se aferra a regalias elitistas e a esquerda, em nome da “igualdade”, insiste na tara estatista. A política é, a um tempo, polarizada entre demagogos populistas, fragmentada entre partidos amorfos e paroquiais e inflamada pela agitação das redes sociais.

A armadilha do subdesenvolvimento é tanto mais dramática porque não faltam recursos para desarmá-la. Afastada de conflitos geopolíticos graves, a América Latina é rica em culturas multiétnicas e em alimentos, minérios e energia renovável que a colocam numa posição-chave para tirar proveito de grandes tendências globais, como a disputa entre China e EUA ou a alta das commodities, e solucionar desafios do século 21, como a segurança alimentar e as mudanças climáticas.

Mas não há atalhos. Os latino-americanos precisam redescobrir sua vocação para a política e cultivar a arte de formar consensos. Felizmente, em “quase 30 anos de medições”, dizem os pesquisadores, “os muitos altos e baixos e períodos ruins não conseguiram matar as democracias como tantos auguram nem tampouco declará-las um caso perdido”. A democracia, dizia Churchill, é o pior dos regimes, exceto por todos os outros. A duras penas essa consciência se consolida na América Latina. Mas saber disso é uma coisa. O desafio do século será provar.

Adultos despreparados

O Estado de S. Paulo

Estudo da OCDE mostra que, mundo afora, grande parcela de adultos não entende textos básicos; reorganização da forma como se ensina é fundamental para acesso ao mercado de trabalho

Um estudo recém-divulgado pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) mostra que um porcentual significativo de adultos (média de 18%) não domina os níveis mais básicos de proficiência em leitura, matemática e resolução de problemas, habilidades fundamentais para o desenvolvimento pessoal, econômico e social.

É extremamente preocupante que quase um quinto dos participantes do estudo (cerca de 160 mil) não consiga, por exemplo, extrair de uma mensagem de texto curta o tempo de validade de um código fornecido.

Adultos de 16 a 65 anos de 31 países (o Brasil não faz parte da análise) participaram da edição 2023 da pesquisa Habilidades dos Adultos (conhecida como Pisa dos Adultos), que a OCDE promove a cada dez anos. Os resultados, de um modo geral, mostram um quadro desolador, uma vez que a capacidade de ler, fazer contas e resolver problemas é determinante para o acesso e, mais que isso, a permanência e o desenvolvimento no mercado de trabalho.

Dos 31 países avaliados, apenas dois, Finlândia e Dinamarca, apresentaram avanço significativo em capacidade de leitura em relação ao estudo realizado dez anos antes; nos demais países tal habilidade ou ficou estagnada ou piorou. Considerado um dos países com melhor sistema educacional do mundo, a Finlândia é a nação mais bem-sucedida no estudo em todas as três áreas avaliadas. Além da Finlândia, Japão, Suécia e Noruega estão no topo da pesquisa, enquanto os piores foram Portugal, Polônia e Chile – quase metade dos chilenos ficou ou no nível mais básico de leitura e matemática ou abaixo dele.

Embora de um modo geral a queda de desempenho tenha se concentrado, sem surpresas, entre os que têm menor escolaridade, o Pisa dos Adultos também radiografou disparidades em relação à qualidade do ensino superior. Exemplo disso é o fato de que alunos que concluíram o ensino médio na Finlândia superaram de forma consistente o desempenho de adultos com educação superior em vários países, incluindo Chile, Israel e Lituânia.

Esse dado é extremamente importante porque mostra que não basta fazer com que as pessoas tenham acesso à universidade, mas é preciso que ao longo da formação educacional elas efetivamente aprendam. Sem isto, é até possível chegar à universidade, mas como mostra o Pisa dos Adultos o conhecimento e as habilidades acumuladas seguirão inferiores aos de alunos da educação secundária que aprenderam de forma efetiva.

Neste sentido, os resultados do último Pisa (avaliação de aprendizado também feita pela OCDE, mas com alunos de 15 anos) apenas contribuem com o sentimento de desolação. Divulgado no fim de 2023, o Pisa mostrou queda geral no desempenho em leitura, matemática e ciências dos países participantes.

Pior para o Brasil, que ficou fora do Pisa dos Adultos, mas participou da avaliação para estudantes de 15 anos e ocupou as últimas posições, atrás até mesmo de países latino-americanos mais pobres como Colômbia e Peru. É fácil concluir que, se tivesse participado do estudo Habilidades dos Adultos, o Brasil também teria ocupado as últimas posições.

Apesar de ter ficado de fora da avaliação que testa os adultos, o Brasil, como os demais países, pode seguir as recomendações da OCDE para melhorar a capacitação e o aprendizado de suas crianças e seus adultos, condição essencial para escapar do ciclo de pobreza e, em um mundo em transformação tecnológica, determinante para a conquista de empregos que permitem aos cidadãos o desenvolvimento contínuo, maior sensação de bem-estar e melhor saúde.

A OCDE sugere, por exemplo, a adoção de políticas públicas que mirem na melhora do acesso à educação e a treinamentos, além de sistemas mais robustos de aprendizado destinados a adultos. Tudo isso passa por flexibilidade, o que exige educação modulada e focada em realidades e necessidades específicas.

O redirecionamento de rota de como se ensina e como se aprende, no Brasil e fora dele, é fundamental para que haja resiliência econômica e coesão social. Trata-se de processo que demanda tempo e que, por isso mesmo, precisa começar o quanto antes, caso os países queiram realmente prosperar.

A fatura sempre chega

O Estado de S. Paulo

Prefeitura de SP eleva tarifa de ônibus de R$ 4,40 para R$ 5 após 4 anos de congelamento

A Prefeitura de São Paulo reajustou a tarifa dos ônibus municipais de R$ 4,40 para R$ 5,00 a partir de janeiro de 2025. Esse acerto de contas representa uma alta de 13,6%, bem acima da inflação de 2024, estimada em 4,91%, mas bem abaixo das perdas acumuladas desde 2020, de 33%, quando a passagem havia sido corrigida pela última vez.

Deslocar-se sobre trilhos pela capital e pela Grande São Paulo também custará mais caro. O governo do Estado anunciou o aumento da tarifa de R$ 5 para R$ 5,20, uma alta de 4%.

A fim de equilibrar as contas, todos os serviços passam por reajuste periódico de preços. Essa correção, portanto, não deveria ser excepcional. De tempos em tempos, as tarifas de luz, água e telefonia, assim como as contas básicas do dia a dia do cidadão, amortecem, no mínimo, os impactos inflacionários.

Mas, quando se trata da tarifa de transporte coletivo, pesam, além dos fatores econômico-financeiros, os cálculos políticos de uma medida considerada impopular. Não à toa, a passagem dos ônibus na capital paulista ficou congelada por quatro anos. E, mesmo em ano eleitoral, o assunto foi tratado praticamente como um tabu por candidatos, o que inclui o atual prefeito reeleito, Ricardo Nunes (MDB).

Ao longo de todo o ano de 2024, o incumbente tergiversou na discussão sobre a tarifa, deixando para discutir o tema depois de passado o pleito. Essa não é uma tática nova, muito menos exclusiva de Nunes, haja vista que em ano eleitoral a demagogia sobre as tarifas se repete, notadamente desde 2013, ano marcado por protestos que começaram em razão de um aumento de R$ 0,20 nas tarifas.

O problema é que isso custa muito caro para toda a sociedade. Alguém paga a conta, mesmo que ela não seja cobrada nas catracas dos coletivos. O que os números do Orçamento municipal mostram é que o congelamento da tarifa ou a ampliação de gratuidades, como a tarifa zero aos domingos, não saem nada de graça e pesam, e muito, nos cofres públicos.

Enquanto a tarifa ficou sem reajuste por tanto tempo, o diesel, principal combustível usado pela frota paulistana de 13,5 mil veículos, que transporta 7,13 milhões de passageiros, subiu 57%. E, para 2025, a fim de manter o sistema operante, já estavam previstos antes do reajuste mais de R$ 6 bilhões em subsídios. Logo, a correção era uma necessidade.

Segundo dados apresentados em reunião do Conselho Municipal de Trânsito e Transporte (CMTT), o aumento de cada R$ 0,10 na tarifa implica um acréscimo de R$ 106 milhões na receita anual do sistema dos ônibus municipais. Trata-se de uma quantia nada desprezível, que a Prefeitura poderá deixar de destinar para os coletivos e aplicar em outros serviços.

São Paulo ainda carece de solução, e de dinheiro, para muitos problemas, que passam por educação, saúde e zeladoria, entre tantos outros. Por isso, de qualquer prefeito, espera-se transparência ao diagnosticá-los, debatê-los e propor saídas, sem subterfúgios. Da população, espera-se maturidade para admitir que tudo tem um preço, e é ela mesma, ao fim e ao cabo, quem paga essa conta.

Desaceleração deve ser meta para 2025

Correio Braziliense

Para 2025, precisamos pensar em interromper o já viciado girar da roda. Repensar é importante. Que tomemos decisões, dentro do razoável, que desaceleram o ritmo de vida alucinante ao qual estamos diariamente inseridos

O início de ano sempre é tempo de traçar metas em busca de uma condição de vida melhor. Entre os planos almejados, muitos de nós pensam em um emprego melhor, em ascensão financeira para ampliar o consumo ou no tão sonhado diploma para exercer uma determinada profissão. Nossos objetivos sempre giram em torno do dinheiro, numa eterna busca de maior poder de compra em prol da aquisição de objetos de última geração, roupas, carros, imóveis, entre outras coisas.

No nosso planejamento de início de ano, são raros os objetivos que mencionam o descanso. Em um mundo no qual vivemos o tempo inteiro com o pé mais pesado possível no acelerador e a corrida do ponteiro do relógio parece ser cada vez mais rápida, não pensamos jamais em diminuir a carga de trabalho e aproveitar as coisas que realmente importam em nossas vidas: a família, os hobbies (sejam eles quais forem) e a melhoria da qualidade de vida, a partir de hábitos saudáveis, como a prática de exercícios físicos e a leitura de bons livros.

O tempo passa a milhão, e a vida da maior parte das pessoas acaba sem que elas se deem conta disso. Perdemos horas no trânsito e no necessário ganha-pão — tarefas que a imensa maioria não tem escolha diante das necessidades financeiras —, mas, quando temos tempo livre, recorremos ao mundo dos smartphones, que muito oferece em informação, mas pouco oferece em qualidade de vida.

A cada ano eleitoral que se passa, como o último, temos a sensação de que nada mudará, independentemente do voto a qual recorremos nas urnas. Cobramos mudanças dos nossos representantes o tempo inteiro, mas não olhamos para nossas próprias vidas. Estamos viciados no tédio e na continuidade. Procuramos sempre o cotidiano. Nunca realizamos sonhos. Corremos poucos riscos. Queremos controlar cada passo que damos e mergulhamos na mesmice.

Para 2025, precisamos pensar em interromper o já viciado girar da roda. Repensar é importante. Que tomemos decisões, dentro do razoável, que desaceleram o ritmo de vida alucinante ao qual estamos diariamente inseridos. Pequenos ajustes na rotina ajudam, como evitar o uso do smartphone ao chegar em casa e reencontrar os familiares. Aqueles que nos amam são infinitamente mais importantes do que a última atualização do feed do Instagram.

Uma pesquisa encomendada pela NordVPN, um provedor de Rede Virtual Privada, informou em outubro que 96% dos brasileiros levam o celular ou outros dispositivos móveis para a cama. Esse dado coloca o país em segundo lugar entre os 17 analisados. A imensa maioria desses brasileiros, inclusive, usa mais de um dispositivo simultaneamente no aguardado período de descanso, como assistir à TV de olho no celular.

O dado deveria assustar, mas parece fazer completo sentido quando olhamos para a nossa própria rotina. São comportamentos que acompanham uma série de transtornos mentais íntimos da nossa contemporaneidade, como a ansiedade, a depressão e a hiperatividade. É um problema mais sério do que parece e que, infelizmente, continua pouco discutido em nossa sociedade.

O vício tem até nome: a nomofobia, quando sofremos dependência dos dispositivos móveis. A enfermidade, inclusive, integra a Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde (CID), registro feito pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e atualizado periodicamente. Uma pesquisa realizada pela Faculdade de Medicina da UFMG, em 2023, apontou que 72% dos estudos que acompanharam crianças constataram um aumento da depressão associado ao uso excessivo de telas nesse grupo — uma dependência que também atinge adolescentes, adultos e idosos e que disparou após a pandemia da covid-19.

 

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