quarta-feira, 1 de janeiro de 2025

Vocês vão entrar numa fria aqui - Aylê-Salassié Filgueiras Quintão*

A desordem geral está  batendo às portas das instituições e tratados internacionais mediadores da convivência humana no planeta. A   criação do BRICS, propondo a desqualificação do sistema monetário, as taxações tributárias extras sobre o comércio, as guerras  entre Israel e  as guerrilhas financiadas pelo Iran,  o uso amplo de tecnologias destrutivas a invasão da Ucrânia, e as insolências nucleares de Vladimir Putin e de Kim Jong caminham, irresponsavelmente, nessa direção. 

Tudo isso remete às consequências dos acordos finais da capitulação alemã e, em particular,  do Império otomano, em 1918, guerra que  produziu a morte de milhões de civis, uma profunda reconfiguração geopolítica   e o reassentamento    de  centenas de populações  linguística e culturalmente diferenciadas,  sobretudo aquelas que perambulavam pelas terras desérticas e míticas do Levante,  região  dominada pelo  islamismo , esses mesmo  que busca ser hegemônico no mundo, e que se constitui  num espaço estratégico   para os negócios globais.
 
Ao revelar minorias indefesas  e   pluralidades humanas regionais  , o pós-guerra  fez surgir a Liga das Nações (1920) e,  com ela,  aqueles  15 países do Oriente Médio,  cuja divisão física  e a reorganização dos Estados  foram entregues  a França e a Inglaterra, por um prazo limitado  . As configurações ideológicas  definitivas de cada nação viria por meio dos movimentos nacionalistas árabes (República Árabe Unida), inspirados na liderança do presidente do Egito, Gamal Abdel Nasser, e  marcadas ainda pela  disputa do  Canal de Suez , a criação de Israel em 1948 (uma pátria para os judeus), o assassinato do liberal Anwar Sadat (1981), e  o encerramento do "mandato" da ONU  ali.

O mundo mudava com a chegada do comunismo na Rússia e o liberalismo se expandia mundialmente para a industrialização. Na Alemanha  surgira o "motor  de combustão interna", impulsionando e disseminando um novo modelo industrial. Dependia do petróleo recém descoberto na região do Oriente Médio ( antes conhecida como Crescente Fértil e, em seguida, Levante). Seus  limites se estendiam na área continental  do  nordeste da África, pelo Mediterrâneo, a leste, até a Mesopotâmia, ao Sul pelo Oceano Índico.  Os habitantes eram os levantinos.
 
O petróleo geraria dependências de fornecimentos regulares a  dezenas de países, particularmente as economias mais avançadas. Explorado por companhias multinacionais associadas, o petróleo jorrava abundante, a custo zero,  do subsolo  do  Iran, Iraque,  Arábia Saudita, Omã, Bahein, Kuwait, Emirados, Iêmen e o Egito que os fornecia a preços vis (US$ 4 a 6 o barril). A região era   historicamente agitada  por guerras e querelas  étnicas, linguísticas,  mitológicas,  ideológicas e crenças  religiosas e nacionalistas. Chegava-se a lutar por  poços de água no deserto.  

 A modernização política alimentada pelo  petróleo fixara e   empoderara  aqueles povos  enraizados nos ensinamentos ancestrais do Corão.  Populações  desarticuladas entre si, esses países, instituídos depois da guerra,  liderados pela Arábia Saudita (maior produtor),  conseguiram  criar a OPEP - Organização dos Países Produtores de Petróleo , e passaram a chantagear o mundo com preços e quotas de fornecimento do óleo bruto. Subiram os preços para até US$ 60 o barril e fixaram quotas individuais. Quase quebrou vários países gerando petrodólares para  para construir aquelas cidades monumentais de hoje e comprar empresas e bancos internacionais.

 Os regimes políticos no Levante eram conhecidos como emirados, os sultanatos e califados:  estados islâmicos governados por  líderes ancestrais,  religiosos, militares, com prerrogativas  também judiciais, poderes incorporados como   "sucessão" do profeta Maomé, morto em 632.  Eram  apresentados como seus representantes direto na Terra. Mas, alguns países  tornaram-se republicas e monarquias, sob a égide do islamismo. 

Nos  limites do Levante ficavam os turcos e os iranianos (persas) .  Os primeiros herdaram uma Turquia fragmentada pela guerra. que se tornou uma república  presidencialista, e  impôs uma drástica ocidentalização : adotou o alfabeto  latino, em substituição ao  árabe;  aboliu a jurisdição dos tribunais islâmicos, suprimiu proibições e ampliou os direitos civis. Ficou meio isolada. 

Em 1981, os  iranianos (persas),  ufanistas,  que e  se consideravam a elite da região, passaram repentinamente (1981) a ser governados por sacerdotes xiitas (Aiatolás), autoritários,  com características semelhantes à dos califas. Substituíram o Xá (Shaj Reza Pahlevi (shahansshah, intitulado "Rei dos Reis") que governava como monarca, tendo para a cultura ocidental. Com os aiatolás, o regime  passou gerido de acordo com os ensinamentos do Corão, com o qual passaram a  administrar religiões, costumes e comportamentos pluralizados pelo  islamismo, judaísmo, zoroatismo, bahaís, cristãos e outros,  permeados por  uma micelania étnica e linguística (persas, azeris, curdos, árabes, luros, nalúchis,,turcomanos, palestinos, assírios, armênios e pashtuns). Migraram também para a região povos mongóis. A justiça, exercida com rigor, pune , ainda hoje, com penas de  enforcamentos e apedrejamentos públicos, cortes de membros do corpo e outras previstas no Corão
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Aliados dos russos, tornaram-se  financiadores de movimentos guerrilheiros sediados em Gaza, no Líbano, Na Síria e no Iêmen para lutar contra os interesses norte-americanos na região e  extirpar o Estado de Israel. É uma guerrilha assalariada que age à margem dos exércitos regulares, manipulando  recursos, até  da ONU, para comprar armamentos, desfraldando bandeiras  do Hamas, do Hezbolath, do Houtis , e outros grupos profissionalizados.   O novo presidente da Síria, Ahmed al-Sharaa, é um ex-jihadista (movimento nacionalista ortodoxo, fundador do Estado Islâmico - aqueles guerrilheiros  que degolavam civis em frente às câmeras de televisão. Vem  pregando a democracia e a extinção da guerrilha. " A Síria vai ser governada pelo lei".  

Judeus expulsos da região de origem no Levante, que perambulavam pelo mundo à procura de uma pátria, foram reassentados, como país (Israel), pela ONU, na região, dividindo espaços com palestinos e árabes tendo com ponto de referência a cidade de Jerusalém. Praticam, contudo,  o Judaísmo, originado nos ensinamentos de  Abrahão. Essa religiosidade seguida do movimento político sionista unificador ,  convive com as práticas espirituais correntes no Levante, defendendo, contudo, seus direitos ancestrais de fixaçãono território..

 O Oriente Médio tem hoje (2017) 270 milhões de habitantes. e abrange uma área de mais de 7 milhões de km².   A renda per capita, altamente concentrada, varia de US$ 124 mil, no Catar; a US$ 2.500, no Iêmen.  A população é composta por árabes, persas, turcos e judeus. Nos últimos anos com a  criação de  empregos na construção civil recebeu milhares de trabalhadores indianos. 92% da população é muçulmana. O cristianismo está em expansão na região. Nas condições atuais, um apagão no Oriente Médio,  desmonta o sistema econômico e instituições no mundo todo. O tal combustível verde vai enfrentar alguns problemas com eles Daí a advertência de Saddam Hussein..

*Jornalista e professor

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