Ex-prefeita se rebelou em razão da exposição pública de uma aliança que ela chamou de "constrangedora"
A deputada Luiza Erundina (PSB) desistiu de ser vice na chapa de Fernando Haddad (PT) à Prefeitura de São Paulo. Ela se rebelou depois que o ex-presidente Lula apareceu com o deputado Paulo Maluf para selar com o PP uma aliança que ela chamou de "constrangedora". Em reunião com a cúpula do PSB, Erundina teria dito que o problema não era a coligação em si, mas a "forma" como ela foi conduzida, referindo-se à exposição pública. "Ela disse que não se calaria, que não retiraria nenhuma das afirmações que fez", disse o presidente do PSB, Eduardo Campos. O PT avalia que a exposição de Haddad na TV e uma rápida escolha do novo vice vão abrandar a crise na campanha.
Erundina desiste de ser vice de Haddad e culpa forma como PT acolheu Maluf
Julia Duailibi, Fernando Gallo, Christiane Samarco e Eduardo Bresciani
A deputada e ex-prefeita Luiza Erundina (PSB) desistiu ontem de ser vice na chapa do pré-candidato Fernando Haddad (PT) à Prefeitura de São Paulo. A decisão ocorreu um dia após o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ir à casa do deputado Paulo Maluf, um adversário histórico, a fim de chancelar o apoio do PP aos petistas nas eleições. Com Erundina fora da sucessão, Haddad pode agora convidar o PC do B para ocupar a vaga da vice.
Erundina foi irredutível ao anunciar sua decisão em reunião em Brasília com o presidente nacional do PSB, o governador de Pernambuco Eduardo Campos, e outros dirigentes do partido.
Anteontem, depois de Lula e Haddad posarem para fotos ao lado de Maluf em São Paulo, a deputada afirmou que não aceitaria mais a aliança. A deferência de Lula a Maluf foi mal recebida por Erundina, que chegou a comentar com amigos a repercussão negativa nas redes sociais.
De acordo com participantes do encontro de ontem, ela disse que o problema não foi o acordo com Maluf, mas "a forma" como ele foi conduzido pelos petistas.
Erundina chegou a Brasília com a decisão tomada. Adversária histórica de Maluf, que foi seu sucessor na prefeitura paulistana, ela deixou claro que a sua permanência na chapa petista seria fator permanente de instabilidade política, pois não recuaria "um milímetro" dos ataques que já fizera a Maluf durante toda a sua carreira política.
"Ela disse que não se calaria, que não retiraria nenhuma das afirmações que fez", disse Campos ao relatar a conversa. A deputada, porém, mesmo fora da chapa de Haddad, fará campanha para o petista nas eleições.
"Desconforto". Logo depois que a aliança PT-PP foi tornada pública, na sexta-feira, Erundina passou a se diz "desconfortável" em fazer campanha ao lado de Maluf. Descartava, porém,a desistência. "Vou manter a decisão (de ficar na chapa), porque é decisão partidária", disse anteontem à Rádio Brasil Atual, instantes antes da divulgação da foto com Lula, Haddad e Maluf. Minutos depois de a imagem circular, ela mudou o discurso: "Se for por nomes, meu partido tem outros a indicar. Eu pessoalmente não vou aceitar. Vou rever minha posição", afirmou à Veja.com.
A aliança PT-PP foi fechada para garantir tempo de televisão a Haddad, ainda desconhecido da maior parte do eleitorado. A coligação vai garantir 1min35s em cada um dos dois blocos na propaganda eleitoral deste ano. Foi a primeira vez que os petistas receberam o apoio do PP no primeiro turno em São Paulo - nas disputas de 2002 e 2004, a coligação foi realizada no segundo turno.
Petistas alegam nos bastidores que Erundina foi avisada por Haddad e pelo vice-presidente do PSB, Roberto Amaral, sobre a iminência de coligação com o PP, antes mesmo de ela definir se aceitava o convite do PT.
Erundina foi chamada para integrar a chapa de Haddad na semana passada, por meio de um emissário de Lula, o vereador petista Carlos Neder. Em nenhum momento Erundina falou com o ex-presidente, que também não foi, na semana passada, ao evento em que seu nome foi lançado como vice, por estar se recuperando de intervenção cirúrgica.
A presença de Lula na casa de Maluf foi uma exigência de última hora imposta pelo deputado do PP para fechar a aliança com Haddad. O deputado chegou a ameaçar postergar o acordo, caso o ex-presidente não referendasse pessoalmente a união.
Vice. Sem alternativa a altura a oferecer, o PSB transferiu ao PT a responsabilidade de indicar o vice. "Uma expressão maior no PSB de São Paulo, como a Erundina, só tem uma", disse Campos.
A decisão da deputada deflagrou uma corrida contra o tempo no PT. Haddad telefonou ontem para Orlando Silva (PC do B), ex-ministro do Esporte, para abrir discussões sobre a indicação. Os dois devem conversar sobre o assunto nos próximos dias.
"Na verdade, ainda não tem uma aliança. Estamos conversando, trabalhamos com a hipótese de alguns cenários, e a possibilidade de participar da chapa majoritária é um fator decisivo", declarou Silva. Para o presidente do PC do B, Renato Rabelo, o partido trabalha agora para ter o apoio do PT em Porto Alegre, onde tem como candidata à prefeitura a deputada Manuela D"Ávila.
O próprio PT começou a trabalhar para pavimentar um eventual acordo com o PC do B, que já trabalham como o nome da deputada estadual Leci Brandão.
Esperança. A decisão do presidente nacional do PSB de abrir mão da vice com a saída de Erundina da chapa ainda não é referendada pelo PSB municipal. Os dirigentes locais do partido falam em tentar manter o posto.
FONTE: O ESTADO DE S. PAULO
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