quarta-feira, 20 de junho de 2012

O PT e Hosny Mubarak:: Vinicius Torres Freire

Ser petista em SP era, pelo menos, opor-se às ideias assemelhadas ao malufismo; não mais

Hosny Mubarak, um dia ditador do Egito, era ontem motivo de controvérsia nas manchetes eletrônicas da mídia internacional. Estaria "clinicamente morto"? "Totalmente" morto (isto é, morto e desligado da tomada)? Estaria mesmo vivo?

Que estivesse vivo era difícil de acreditar. A gente sabia que Mubarak era uma, digamos, múmia-viva faz tempo, um morto-vivo, sem alma, um fantasma que assombrava os egípcios.

Nestes dias de passamento final do ditador egípcio, as pessoas que ainda se ocupam de política no Brasil também discutiam ainda e talvez de uma vez por todas se o PT está clinicamente morto, totalmente morto, putrefato ou se está vivo demais. Vivaldino.

Sim, o debate surgiu devido à aliança de Fernando Haddad, candidato petista a prefeito de São Paulo, com Paulo Maluf e seu partido.

Apesar de procurado pela polícia no resto do mundo civilizado, francamente Maluf não difere lá muito da maioria dos tipos que lideram os partidos aliados do PT.

Em certos aspectos, Maluf, a cúpula do PMDB, os "capi" dos partidos da "base aliada", mensaleiros de escol, não são muito diferentes de gente que tomou a cúpula do PT a partir de meados dos anos 1990. A diferença, até agora, ao menos, está na ambição monetária, por assim dizer. Os casos documentados do pessoal do PT são mais modestos.

Mas mesmo as pessoas que pertencem ao minúsculo bloco restante da esquerda que merece levar esse nome já dão de barato que a coalizão liderada pelo PT e o PT estão cheios de adeptos da mensalagem e de variantes mais ou menos ambiciosas de amigos da liberalidade com o dinheiro público.

A discussão que sobrou, se tanto, é sobre os aspectos "simbólicos", "políticos", "culturais", ou, sabe-se lá, de o PT, em especial em São Paulo, em especial se tratando do PT de Haddad, chancelar o malufismo.

Parece ocioso, mas não custa lembrar o que foram um dia o malufismo e o PT.

Ser petista em São Paulo era, pelo menos, no mínimo, se opor ao pacote básico da assinatura malufista.

Isto é, era se opor à ditadura militar e seus restos. Maluf governou São Paulo por indicação da ditadura e foi o último candidato da Arena, o partido dos ditadores, a presidente pelo Colégio Eleitoral, contra Tancredo Neves.

Maluf banalizou a ideia de que polícia boa é polícia que mata. Implantou um projeto urbanístico que destroçou a cidade de São Paulo para sempre. É autoritário, no mínimo, sexista ("estupra mas não mata"), um populista de extrema direita, para resumir a sua opereta-bufa (pois tem trejeitos mussolinianos).

Sim, política é colocar as mãos na lama. Sim, além de levar uma secretaria no governo federal, Maluf não deve apitar no governo paulistano, caso Haddad vença. Sim, não importa muito que Haddad seja ou tenha sido um intelectual da extrema-esquerda (teórica) uspiana. Sim, Haddad não se equipara a Nicolas Sarkozy fazendo média com os fascistas do Front National.

Na prática, parece que nada disso tende a fazer muita diferença. Parece. Mas fica a impressão de que certas coisas, embora "clinicamente mortas", ainda não haviam sido desligadas da tomada. Haddad e Lula puxaram o fio.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

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