Pedro Teixeira e Luis Eduardo Leal - Valor Econômico
SÃO PAULO - O pré-candidato do PSB à Presidência da República, Eduardo Campos, disse noite desta segunda-feira, em entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura, que a polarização do debate político sobre os legados dos ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Fernando Henrique Cardoso não contribui para uma avaliação serena da realidade – e que a atual presidente, Dilma Rousseff, apesar dos avanços herdados, não conseguiu preservá-los, de forma que o país passou a crescer pouco.
Comparado recentemente por Lula ao ex-presidente Fernando Collor, Campos, sem entrar na polêmica, disse ter aceitado o desmentido de Lula sobre as declarações que teria feito. “O presidente Lula teve uma oportunidade de desmentir essa matéria. Eu aceitei o desmentido”, disse Campos.
“Eu acho que o Brasil vinha melhorando e parou de melhorar. Melhorou quando construímos a democracia, e o PMDB teve papel importante nisso; depois com a transição econômica, com o presidente Fernando Henrique, e melhorou com o presidente Lula, que teve a responsabilidade de manter conquistas na economia e aprofundar mudanças que fizeram com que 40 milhões de pessoas passassem a consumir bens básicos. Cresceu a economia”, disse Campos.
“Essa polarização que fica negando a realidade, e não admite erros de parte a parte, impede o Brasil de construir um relacionamento mais sereno”, observou o pré-candidato. “A presidente Dilma teve a oportunidade de corrigir as falhas, preservando os avanços, mas se enrolou no modelo da velha política, na inflação, nos juros. Há um desejo generalizado de mudança”, afirmou Campos.
Campos citou como um problema a quantidade de ministérios que o Brasil tem, 39, e afirmou que vai reduzir esse número à metade, mas não disse quais seriam extintos.
Por outro lado, afirmou que sua chapa, com Marina (Silva), vai garantir a preservação de conquistas sociais. “Podemos não apenas ampliar sua rede de ação para pequenos municípios, como colocar o que é emancipatório, a educação, que terá forte peso no nosso programa de governo”, disse o pré-candidato do PSB.
Ele procurou se colocar como uma terceira via, entre PT e PSDB, sem, contudo, negar os “avanços” observados nos governos Lula e Fernando Henrique Cardoso.
“A agenda que a gente tem para o futuro exige a união dos brasileiros. O povo está cheio dessa picuínha, do hoje contra o ontem, e o amanhã chegando, o Brasil perdendo posição”, afirmou Campos.
Economia
O pré-candidato também abordou, ainda que de passagem, questões econômicas. “O mercado precisa de regras, regulação mais segura que anime os investimentos, e a sociedade precisa de agências mais seguras”, disse. “A independência do Banco Central é importante para retomar o desenvolvimento, que é um programa histórico da esquerda”, afirmou o pré-candidato do PSB.
Questionado sobre o papel que pretende atribuir ao BNDES, Campos, disse que a instituição de fomento precisa retornar a seu “leito natural”, após o papel extraordinário que precisou desempenhar, especialmente em 2009, quando as condições de crédito às empresas se restringiram.
“O BNDES tem um grande corpo funcional e merece todo nosso respeito. Mas uma coisa foi o papel que o BNDES teve de fazer em 2009, com as dificuldades de crédito de então, uma fase totalmente atípica. E o atípico não pode virar o habitual”, disse o pré-candidato.
“O BNDES tem que voltar ao leito natural dele. Está exposto a R$ 400 bilhões em financiamentos e não podemos achar que isso é sustentável no tempo. A diferença entre o custo de captação e a taxa de empréstimo quem paga é o contribuinte”, acrescentou Campos.
Ele defendeu também um modelo mais progressivo de tributação, com menor taxação sobre o consumo, mas que não seja adotado “da noite para o dia”. “O Brasil tem um sistema tributário extremamente regressivo, e o resultado disso é que o pobre acaba pagando mais tributos”, afirmou. Sobre um possível aumento da carga do Imposto de Renda, disse apenas que poderiam existir outras faixas de tributação abaixo da alíquota de 27,5%.
Ao abordar temas econômicos e de gestão, o pré-candidato não poupou críticas à presidente Dilma Rousseff, especialmente quando questionado sobre a Petrobras e o setor de energia. “Ela tem responsabilidade porque comandou essa área desde o primeiro dia”, disse ele, referindo-se às passagens de Dilma pelo conselho de administração da Petrobras, pelo Ministério de Minas e Energia e pela Casa Civil, antes de chegar à Presidência da República.
“Temos uma crise no setor elétrico muito expressiva. Esse setor, que já teve um planejamento, hoje se resume a um debate entre uma ou duas pessoas que conversam com a presidenta”, afirmou.
Alianças
Questionado sobre a dificuldade que todo presidente enfrenta no país, tendo em vista a necessidade de alianças com lideranças políticas associadas ao atraso, Campos disse esperar uma renovação, inclusive no Congresso, nas eleições deste ano. “Uma parte a sociedade vai fazer: ajudar a renovar o Congresso”, disse ele. Referindo-se a políticos associados a oligarquias nos Estados, Campos afirmou: “Já tiraram do Brasil o que tinham para tirar. Os que ficarem, nós temos que ter a coragem de colocar na oposição.”
Campos também disse não ter, no momento, qualquer acordo com o pré-candidato do PSDB, Aécio Neves. “Não tenho acordo com nenhuma candidatura. Em uma aliança de dois turnos, tratar de alianças sobre o segundo turno no primeiro turno seria um erro e uma irresponsabilidade”, disse.
O pré-candidato do PSB também não quis comentar a hipótese de abandonar a candidatura caso o ex-presidente Lula venha a ser o candidato do PT em outubro, em resposta ao movimento “Volta Lula”. “Lula já disse que não é candidato. A candidata é a Dilma”, afirmou.
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