• Em jantar, ex-presidente teria demonstrado preocupação com quadro de rejeição a Dilma
Fernanda Krakovics – O Globo
BRASÍLIA — Em um jantar na última sexta-feira, o ex-presidente Lula pôs em xeque a consistência da candidatura de Eduardo Campos (PSB) à Presidência da República e disse que não vai bater no antigo aliado porque quer estar apto para fazer uma ponte com o socialista em eventual segundo turno entre a presidente Dilma Rousseff e o senador tucano Aécio Neves (MG).
— Não vejo outro discurso do Eduardo a não ser esse que ele está tentando fazer de que gosta de mim e que Dilma não presta. Eu não tenho como bater nele, não vou fazer isso, mas, quando defendo a Dilma, o discurso dele perde credibilidade - disse Lula, de acordo com participantes do jantar, realizado no apartamento do senador Armando Monteiro (PTB-PE), candidato ao governador.
No jantar, Dilma estava irritada com o prefeito de Recife, Geraldo Júlio (PSB), afilhado político de Campos, que, na solenidade de inauguração da primeira etapa da Via Mangue, naquele mesmo dia, questionou a paternidade do governo federal em relação à obra, afirmando que o dinheiro não era federal, estadual nem municipal, e sim do povo.
— Eu nunca tinha sido tratada assim nem pelos caras do DEM — reclamou Dilma no jantar, em que estavam presentes deputados federais e o líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE).
Na solenidade, coube ao ministro Gilberto Occhi (Cidades) responder a Geraldo Júlio, afirmando que o dinheiro era do povo sim, mas que a obra só tinha saído por determinação da presidente Dilma. O lançamento da candidatura de Geraldo Júlio à prefeitura de Recife, em 2012, marcou o rompimento de Eduardo Campos com o PT em Pernambuco e foi o primeiro sinal concreto de suas aspirações ao Palácio do Planalto. O socialista derrotou o senador Humberto Costa na disputa pela prefeitura de Recife.
Depois que Dilma se retirou do jantar, o ex-presidente Lula afirmou, de acordo com pessoas presentes, estar preocupado com o quadro de rejeição à presidente, em queda nas pesquisas de intenção de voto, e disse temer que o mau humor reinante no país cole de tal forma na imagem de Dilma que seja irreversível. Lula também criticou a comunicação do governo federal. Segundo o petista, o discurso que Dilma está fazendo agora em defesa da Copa tinha que ter começado a ser feito no ano passado.
— O Lula se mostrou preocupado com o quadro, com o mau humor no país, com a rejeição à Dilma. Ele teme que isso cole de tal forma nela que seja um caminho sem volta — afirmou um dos participantes do jantar.
Apesar da preocupação externada por Lula, participantes do jantar afirmaram que ficou claro que a candidata é Dilma e que o ex-presidente não se colocou como possível candidato no lugar dela. O ex-presidente teria dito que Dilma seria "muito melhor" do que Aécio e Campos e que isso vai se sobrepor, segundo o petista, quando o governo federal começar a mostrar suas realizações, principalmente no horário eleitoral gratuito na TV.
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