- Folha de S. Paulo
Na principal novidade da fase final da reforma ministerial, Dilma Rousseff pôs na cadeira de Rio Branco o embaixador Mauro Vieira. Seria, dizem os "spin doctors", uma revalorização do Itamaraty após a gestão anêmica de Luiz Alberto Figueiredo sob a conhecida falta de paciência da presidente com o setor --vide sua burocrática fala sobre política externa na posse.
Vieira, desprezado e respeitado em medidas mais ou menos iguais na diplomacia, pode até tornar-se um dinâmico chanceler.
Mas qual seria esse dinamismo? A hiperatividade algo patética da era Celso Amorim, sob cujas asas Vieira cresceu? Mesmo que haja a vontade, a onda emergente já quebrou, e o Brasil voltou a seu diminuído tamanho político no mundo.
O discurso de posse de Vieira insinuou a ideia de um Itamaraty mascate. É vital e o órgão já brilhou na função, mas também traz a lembrança dos anos lulistas na África, com embaixadas e negócios obscuros das sempre suspeitas empreiteiras com os déspotas usuais do continente.
Restam enfim os Estados Unidos. Após a vergonha, o episódio da espionagem é página virada --não que a bisbilhotagem irá parar, é claro.
Dilma sabe disso. Logo depois da reeleição, ela falou sobre o papel americano em seu plano de tirar o Brasil da pasmaceira econômica. Em tom elogioso, disse que os EUA são "o pragmático dos pragmáticos".
A presidente conta com a recuperação americana. Nesse sentido, a normalização da agenda com os EUA e a indicação de um chanceler que, mesmo apagado, estava baseado em Washington, são sinais eloquentes.
Talvez seja pouco. Vivemos uma crise aguda, com o petróleo manipulado por sauditas a lubrificar o perigoso jogo da disputa rediviva entre Ocidente e Rússia, com a China como alvo oculto e a Petrobras como dano colateral. É um mundo perigoso, no qual o Brasil terá de escolher como e onde irá posicionar-se.
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