• Candidatos à presidência da Câmara disputam quem é menos submisso ao governo e questionam nomeações
Isabel Braga e Fernanda Krakovics – O Globo
BRASÍLIA - A menos de um mês da eleição para a presidência da Câmara, a disputa esquentou ontem, com uma troca de farpas entre o candidato do PT, Arlindo Chinaglia (SP), e seu principal adversário, o peemedebista Eduardo Cunha (RJ). A polêmica se deu em torno do grau de submissão de cada um ao Palácio do Planalto. Chinaglia e o candidato da oposição, Júlio Delgado (PSB-MG), contestam o cenário vendido por Cunha de que ele já estaria eleito. Os dois apostam no fato de o voto ser secreto como arma para virar o jogo.
- Falar que a Câmara tem que ser altiva é admitir, no limite e pelo inverso, que a Câmara não é altiva. Deveria dizer quem é que na Câmara não honra o mandato. Falar que é altivo e independente frente ao Poder Executivo, é só pesquisar as medidas provisórias (MPs) para ver onde é que essa altivez acaba - atacou Chinaglia, ao discursar em almoço de apoio à sua candidatura, em Brasília.
Independência de lobbies
Os ataques velados a Cunha pautaram o evento de apoio à Chinaglia, que reuniu cerca de 80 pessoas, entre deputados, ex-deputados, senadores e ministros, a maioria petista.
- O que está em jogo é uma Câmara que tenha credibilidade, seja democrática e não se ponha refém de interesses menores e não republicanos. E para isso, só temos um caminho, a candidatura de Arlindo - afirmou a líder do PCdoB, Jandira Feghali (RJ), em discurso.
A estratégia petista é rebater o discurso de defesa de uma Câmara independente do governo, feito por Cunha, afirmando que a Casa também tem que ser independente dos lobbies. Chinaglia questionou como alguém que teria cargos no governo pode pregar independência.
- Júlio (Delgado) usou uma frase instigante: "não é independente quem indica cargo no governo". Eu, então, estou me sentindo independente. Mas nem todos que se candidatam podem falar o que estou falando - provocou Chinaglia.
Procurado, Cunha rebateu o adversário, lembrando que Olavo Chinaglia, filho do petista, foi conselheiro e presidente interino do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) entre agosto de 2008 e agosto de 2012. Chinaglia presidiu a Câmara entre 2007 e 2009:
- Eu, por acaso, não nomeei meu filho para o Conselho do Cade. Os cargos não são do Eduardo, são da bancada. O cargo que eu tinha, a presidência de Furnas, não tenho mais.
Quanto à acusação velada de que defenderia lobbies privados na Câmara, Cunha disse que não comentaria porque "não vestiria a carapuça".
Chinaglia, por sua vez, reclamou que Cunha teria "baixado o nível" e disse que não teve influência na indicação do filho para o Cade:
- Ele baixou o nível. Eu não creio que a disputa pela presidência da Câmara deva levar qualquer um dos concorrentes a tentar atingir o outro via família.
Opinião: Recado
ENTRE OS recados dados nos pronunciamentos na posse de Dilma, um foi sobre a reforma política.
DEPOIS DO discurso da reempossada, em que houve referência ao tema, o presidente do Congresso, senador Renan Calheiros (PMDB-AL), se referiu a uma reforma seguida por referendo popular.
REAFIRMOU, ASSIM, a posição do Legislativo contra a proposta inconstitucional de uma "Assembleia exclusiva" para tratar o assunto e/ou de um inexequível plebiscito, defendida pelo PT.
ESTE É um posicionamento correto, não importa qual seja o destino de Renan nos desdobramentos jurídicos e políticos da Operação Lava-Jato.
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