- O Globo
A presidente Dilma escolheu um ministério fraco, no geral, e quis fortalecer a economia.
O maior sinal da contradição entre o anúncio de ajuste fiscal e seu desejo de nada ajustar está na foto do Ministério. Olha-se para a foto da posse e o que se vê é um Ministério inchado, com o extravagante número de 39 titulares. Austeridade não combina com aquele grupo mastodôntico.
O ministro Nelson Barbosa, na sua posse ontem, falou de um tabu: mudar a fórmula de calcular o salário mínimo. Teve o cuidado de garantir que ele vai continuar aumentando acima da inflação, mas essa será uma dura batalha. O atual governo criou a fórmula de dupla indexação do mínimo, à inflação e ao crescimento. Isso faz subir o salário e elevar o gasto da Previdência. Mas como mexer nisso se a presidente fala em fazer ajuste e não revogar direitos? Mesmo se conseguir fazer o ajuste que está começando a anunciar, a equipe econômica não fará milagres sozinha.
A presidente fez um discurso propondo um pacto de combate à corrupção e há pessoas na sua foto oficial envolvidas em casos nebulosos. Há os que dizem que assim ela garante a "governabilidade" e o apoio no Congresso, mas um novo escândalo a fragilizará, por isso teria sido mais prudente ter maior rigor na nomeação dos seus ministros.
Outros ministros são apenas escolhas das quais não se espera muito, ainda que seja possível torcer para que eles surpreendam. O novo ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, está nesse grupo. Ele chefiou a missão em Washington sem conseguir melhorar as relações comerciais e políticas bilaterais. Por um desses atalhos que a burocracia permite, ou talvez por sorte, Mauro Vieira foi poupado de postos menos importantes. Já foi logo nomeado para Buenos Aires e depois Washington, que são considerados os melhores lugares da diplomacia brasileira.
Difícil lembrar marca importante que ele tenha deixado na passagem pelas duas embaixadas. A relação comercial entre Brasil e Estados Unidos tem sido deficitária para nós, não há qualquer avanço notável em acordos, setoriais que seja, e nenhum dos ruídos entre os dois países foi removido. É torcer para que ele surpreenda.
Na categoria persistir no erro está a ministra Izabella Teixeira. Ela é avaliada pelos ambientalistas como a ocupante do cargo nos governos petistas que teve o pior desempenho. Em seu período, houve redução do tamanho das áreas de conservação, o menor índice de criação de novas áreas desde o governo militar e uma inversão da curva de desmatamento.
A escolha de Aldo Rebelo para o Ministério da Ciência e Tecnologia será um atraso em áreas em que estamos atrasadíssimos, como ciência, tecnologia e inovação. Ele pode ter se arrependido do projeto de proibir inovações que reduzissem emprego, mas é recente sua declaração pública de não acreditar que as mudanças climáticas sejam, como sustentam os cientistas da ONU, resultado da ação humana. Juntos, Rebelo e Izabella podem levar o Brasil a uma situação constrangedora em Paris, no fim do ano, quando o mundo terá a mais decisiva reunião do clima.
Na Controladoria-Geral da União, a presidente optou por Valdir Simão, que era braço direito do ministro-chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante. Deveria ter buscado alguém independente que pudesse confirmar a ideia de que Dilma combaterá a corrupção. Ficou o temor de que a Controladoria será controlada pelo governo.
O Ministério é enorme e fraco. A área econômica para fazer o ajuste fiscal terá que tocar em temas sensíveis. Estará cercada de colegas que não têm qualquer compromisso com esse ajuste. Missão difícil.
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