- Folha de S. Paulo
O Brasil vive uma guerra cultural entre uma maioria conservadora e a minoria que se diz progressista? Ou o embate é natural da dinâmica da sociedade, ganhando ares dramáticos decorrentes da ilusão promovida pelos fóruns virtuais de disseminação de certezas?
Tendo a acreditar na segunda opção, ainda que haja elementos suficientes para qualquer um sentir-se tentado a optar pela primeira.
Vejamos o que ocorreu na Câmara dos Deputados na quarta (10).
Incomodados com o que consideraram blasfêmias promovidas em paradas "modernas", parlamentares religiosos tomaram o plenário e a Mesa Diretora de assalto com cartazes e puxaram um pai-nosso --como se o crucifixo na parede, herança cultural defensável, transformasse a Casa legislativa em um lugar de culto.
A bizarrice foi seguida de uma histeria entre os ditos progressistas, como se o Brasil estivesse à beira de virar uma versão cristã e tropical do Estado Islâmico. Menos, gente.
Para começar, o nível do debate está ao rés do chão. Para cada pastor Feliciano e seu discurso ignóbil surge um Jean Wyllys, misto de subcelebridade e agitador de centro acadêmico alçado à condição de formulador pelos moderninhos de plantão.
Naturalmente, há mais Felicianos do que Wyllys no mercado, devido à obviedade demográfica brasileira que os círculos mais intelectualizados se recusam a admitir e tentar compreender. Mas ambos são caricaturas, dedicados a manter o teatrinho para não saírem do palco.
A próxima semana trará mais um capítulo da história, com o início dos debates no Supremo sobre a obrigatoriedade do ensino religioso no país. Podemos esperar mais barulho.
Significativamente, enquanto a reza corria solta, a maioria presente rejeitou uma medida civilizatória --o fim do voto obrigatório, algo que já foi bandeira dos tais progressistas. Quando interessa, eles e os conservadores dão as mãos alegremente.
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