Andréia Sadi – Folha de S. Paulo
• Petista reclamou com Temer sobre a convocação de Okamotto para depor
• Para ex-presidente, há uma ação em curso para tentar enfraquecer sua potencial candidatura ao Planalto em 2018
BRASÍLIA - O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ficou irritado com a convocação, pela CPI que investiga corrupção na Petrobras, de um dos principais dirigentes de seu instituto e ligou para o vice, Michel Temer (PMDB-SP), para cobrá-lo pela aprovação do requerimento.
Paulo Okamotto, que é braço direito do petista e presidente do Instituto Lula, será chamado a explicar as doações de R$ 3 milhões feitas ao instituto pela empreiteira Camargo Corrêa, investigada na Operação Lava Jato.
Na conversa, Temer disse a Lula que também foi surpreendido pela convocação de Okamotto. Aliados do petista desconfiam do aval do PMDB à movimentação, já que o presidente da CPI, Hugo Motta (PB), é do partido.
Temer, no entanto, garantiu ao ex-presidente que a convocação não foi apoiada pelo PMDB, e que não há uma operação do partido contra Lula. O vice conversou com o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que também negou aval à operação.
A cúpula do PMDB classificou como um erro a convocação de Okamotto e trabalha para blindar outros petistas citados na Lava Jato.
Segundo a Folha apurou, empresários têm procurado peemedebistas pedindo que seja barrada a convocação do ex-ministro Antonio Palocci, cuja consultoria recebeu R$ 1,7 milhão de uma empresa investigada na Lava Jato.
O ex-presidente também reclamou da falta de articulação da bancada governista que permitiu a convocação de Okamotto justamente no momento em que ocorre o 5º Congresso do PT, em Salvador.
Segundo participantes do congresso, Lula afirmou que o Instituto FHC, vinculado ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, também recebeu recursos da empreiteira. "Como vocês deixam convocar o Okamotto? Por que não convocam o iFHC?", disse.
A Folha questionou a Camargo Corrêa sobre pagamentos ao ex-presidente FHC mas não obteve resposta até o fechamento desta edição.
O ex-ministro da Saúde e atual secretário de Relações Governamentais da Prefeitura de São Paulo, Alexandre Padilha, endossou as críticas de Lula. Ao circular entre integrantes da bancada petista, repetia: "Como vocês deixaram isso acontecer?".
'Caça' ao Lula
A divulgação das doações da Camargo Corrêa e, em seguida, a convocação de Okamotto, levaram Lula a classificar a aliados os episódios de "temporada de caça" à sua possível candidatura em 2018. Procurado pela Folha, o instituto não se manifestou sobre o assunto.
Amigos de Lula avaliam reservadamente que ele está na mira da CPI porque é a única opção do PT para as próximas eleições presidenciais 2018. O objetivo, segundo eles, seria desidratar desde já a candidatura do ex-presidente.
Eles lembram que, durante o período eleitoral no ano passado, Lula estava ciente de que seria ''catapultado'' à condição de candidato.
E chegou a dizer algumas vezes que ''ninguém aguenta ser candidato durante quatro anos''.
Tensão
Alguns petistas atribuíram a convocação de Okamotto a uma revanche do PMDB à movimentação do ministro Aloizio Mercadante (Casa Civil), que propôs esvaziar poderes de Michel Temer na Secretaria de Relações Institucionais. Para Lula, a operação ajudou a elevar a tensão entre PT e PMDB.
À Folha, Okamotto disse na quinta-feira que há uma "luta política" para atingir Lula e o PT. "Lula é do PT, é uma operação para atingir todo mundo que é do PT. Tudo que se faz, que se tenta destruir tem o objetivo de pegar o PT e os petistas todos.''
Colaboraram Cátia Seabra, Marina Dias e João Pedro Pitombo, de Salvador
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