Por Thiago Resende e Raymundo Costa – Valor Econômico
BRASÍLIA - A três anos da eleição, a sucessão presidencial já está nas ruas. PSDB e PMDB tentam emergir como resposta à crise do governo federal. O primeiro partido a apresentar uma alternativa aos governos do PT, há 13 anos no poder, foi seu parceiro e vice PMDB, que realiza amanhã o seu congresso partidário, em Brasília. O encontro irá discutir o documento "uma ponte para o futuro", publicado no mês passado. Em dezembro, será a vez do PSDB divulgar seu texto.
O PT, por seu turno, tenta escapar da pauta negativa em que se encontra desde o início do ano - para ser mais preciso, talvez, desde a época do mensalão, o esquema de compra de votos por apoio do Congresso desvendado em 2005. Em seu site no internet, o partido divulgou uma cartilha rebatendo 13 pontos sobre os quais recaem acusações e críticas à sigla.
Uma pesquisa do Ibope divulgada recentemente chamou a atenção dos dirigentes partidários: do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva à ex-senadora Marina Silva, passado por José Serra e Geraldo Alckmin (ambos do PSDB-SP), todos apresentaram altos índices de rejeição. A leitura óbvia - e reforçada pelo PT, que tem interesse nela - é que a população cansou das querelas congressuais e quer mais ação positiva de seus representantes. Mas pode ser também um reflexo da "antipolítica" manifestada em protestos.
O documento pemedebista foi visto por muitos como um programa mínimo para um eventual governo do vice-presidente Michel Temer, no caso do impeachment da presidente Dilma Rousseff. A discussão da "Proposta Temer" será um passo no descolamento do atual governo, mas sem perspectivas de rompimento, até porque não será a esfera partidária capaz de tomar esse tipo de decisão, de acordo com o líder da legenda no Senado, Eunício Oliveira (CE), que não descarta a possibilidade de pemedebistas externarem o desejo de saída do governo.
"Não tenha dúvida que o PMDB vai querer uma candidatura própria nas eleições presidenciais. O PMDB tem que sair completamente do governo em algum momento para essa disputa. Mas agora geraria muita instabilidade", observou Eunício.
Promovido pela Fundação Ulysses Guimarães, o evento vai reunir principalmente pemedebistas críticos à gestão Dilma e à política econômica. O presidente da Fundação é o ex-governador do Rio de Janeiro Wellington Moreira Franco, que, segundo parlamentares, ainda está irritado por ter sido "cortado" do ministério de Dilma e muito ligado a Geddel Vieira Lima, ex-ministro de Lula, que se opõe ao atual governo. Moreira foi ministro da secretaria de Assuntos Estratégicos e da Aviação Civil, até o ano passado.
Antes de o ano acabar, em dezembro, o PSDB também vai reunir as propostas do partido num documento. "O PSDB não pode resumir sua atuação política ao impeachment", disse o senador Aécio Neves, presidente do PSDB. Aécio evita dar detalhes do documento que, de acordo com ele, fará um diagnóstico da crise econômica e com propostas para o país, principalmente, na área social. Mas um debate no plenário do Senado neste mês entre Serra, Aécio e Tasso Jereissati (PSDB-CE) sinaliza um dos pilares do plano: o comércio exterior.
"Se internamente a economia vai mal, o natural seria apostar nas exportações, mas prevalecem, na política externa, as mesmas ideias atrasadas da política doméstica, com consequências ainda mais graves", discursou Tasso. Na mesma linha de raciocínio, Aécio ressaltou que, nos dez primeiros meses do ano, as importações recuaram 22% e as exportações em um ritmo um pouco menor por causa da desvalorização do real. "Isso faz com que haja agora um superávit na nossa balança comercial alcançado pela pior das equações, exatamente consequência da retração da nossa economia", concluiu o presidente da sigla.
A oposição não desistiu do impeachment, mas teve que mudar a postura para ficar mais parecida com a rua. O PSDB rompeu - o que hesitava fazer - com o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), investigado pela Lava-Jato, e quer mostrar ideias de governo.
Na semana passada, Aécio reuniu-se com deputados federais que são pré-candidatos a prefeitos nas eleições de 2016. "O que podemos fazer agora quanto PSDB, além das críticas, além da correção de rumos que temos aqui cobrado, estamos apresentando propostas", afirmou o presidente nacional do partido, derrotado por Dilma nas eleições presidenciais do ano passado.
Um deputado tucano que participou do encontro contou que o partido vai insistir nas críticas ao aumento de impostos e deve defender corte mais vigoroso nas despesas da máquina pública e mais recursos para o Bolsa Família.
Nenhum comentário:
Postar um comentário