- O Estado de S. Paulo
Qualquer especulação sobre candidaturas é inútil enquanto o STF não se pronunciar
A Operação Lava-Jato completou três anos com resultados absolutamente extraordinários. Já a crise deflagrada pela operação tem raízes que remontam ao mensalão, ou seja, a mais de dez anos.
Entre o mensalão e a Lava Jato tivemos eventos marcantes, como a aprovação da Lei da Ficha Limpa, as manifestações de 2013 e a implantação de medidas contra a corrupção no final daquele ano. Na sequência, explodiu a Lava Jato, que adensa o processo de transformação iniciado pelo mensalão. O que vai acontecer daqui para a frente?
O cenário atual ainda é de espessas nuvens de incerteza. Estamos às portas de revelações importantes e de decisões críticas no Supremo Tribunal Federal (STF). O que acontecer nos próximos meses terá efeito decisivo nas eleições de 2018.
A disputa de 2018, na prática, está submetida à dinâmica da Suprema Corte e da pressão das ruas. Sem dúvida nenhuma, o Supremo e as ruas são os elementos mais relevantes para determinar as coalizões e as chapas presidenciais em 2018. Por isso os movimentos que serão feitos por lá e nas manifestações populares, até outubro deste ano, podem definir os rumos da sucessão presidencial. No entanto, sabemos que o processo será lento. Tanto por sua complexidade quanto pelo número de envolvidos. Daí a pressão da opinião pública ser uma variável relevante.
Além do papel central do Supremo Tribunal, a campanha de 2018 terá aspectos únicos. Começo pelo aspecto financeiro: sem o dinheiro dos megadoadores, não teremos mais campanhas bilionárias. Por outro lado, serão campanhas sem doações significativas de pessoas físicas, que deverão crescer, mas nada que se compare ao volume que era doado pelas empresas. Na falta de dinheiro privado, os partidos serão os grandes financiadores das campanhas. Daí os movimentos para se criar, em momento de crise fiscal, um fundo eleitoral multibilionário.
Com os cofres cheios de verbas partidárias – que tendem a aumentar no Orçamento da União para 2018 – os partidos grandes levarão vantagem. Na falta de recursos, a estrutura partidária e a máquina municipal também podem fazer a diferença. Hoje a base política do presidente Michel Temer controla mais de 4.200 municípios brasileiros. Será uma vantagem óbvia se a coligação governista conseguir chegar unida ao ano que vem.
O problema é ter um candidato que a) sobreviva à Lava Jato; b) una a base governista; e c) seja razoavelmente competitivo. Não é uma equação fácil de ser resolvida.
Por outro lado, existe um desejo claro de mudança e de repúdio à política tradicional. Como conciliar o desejo pelo novo com as condições estruturais que favorecem os grandes partidos? Essa é outra equação difícil. Como o novo vai ganhar sem tempo de televisão, sem recursos financeiros e sem estrutura municipal? Para tal deveria haver uma profunda transformação no comportamento do eleitor brasileiro, que não está totalmente amadurecido. Ou uma espécie de primavera brasileira para impulsionar o novo contra as estruturas tradicionais.
Salvo acontecimentos extraordinários, o certo é considerar que o novo na política poderá ter dificuldades para superar as estruturas da velha política, ainda solidamente plantadas Brasil afora. O que se passou no eixo Rio de Janeiro-São Paulo-Belo Horizonte, onde políticos novos ou com uma “nova embalagem” ganharam notoriedade, e até mesmo venceram disputas, pode não se repetir no âmbito nacional.
O ambiente econômico é outra variável. Com uma melhor “sensação térmica” na economia, o novo pode perder força para o tradicional.
Apenas nomes inquestionáveis, como o do juiz Sergio Moro, teriam condições de superar eventuais dificuldades estruturais e fazer uma campanha potencialmente vencedora. No mais, um candidato sobrevivente do establishment político poderá, com uma narrativa própria e “embalado pelo novo”, vir a ser eleito. O dilema é saber quem poderá ser esse nome.
A oposição – hoje localizada no PT, no PDT e no PSOL – carece de unidade, narrativa e estrutura. Além das incertezas com relação ao destino do ex-presidente Lula da Silva e à viabilidade do ex-governador do Ceará Ciro Gomes, a oposição tende a ficar imprensada entre a máquina do governo, a vontade de renovação e as sequelas da Lava Jato. Marina Silva e sua Rede Sustentável também devem disputar sem o glamour, os recursos e a estrutura dos tempos da campanha com o ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos.
Portanto, falar de candidatos, no momento, é apenas interessante. Mas será inútil qualquer especulação enquanto o STF não se pronunciar. Os nomes disponíveis são os mesmos de sempre. Daí a expectativa para que surja algo novo. E parece que os novos nomes – ainda – não quererem disputar. Além de Sergio Moro, o empresário Roberto Justus e o prefeito de São Paulo, João Doria, também já declinaram da postulação. O que, a esta altura, não quer dizer muita coisa.
Em política, o acaso sempre aparece com um voto decisivo sobre o rumo dos acontecimentos. Enfim, as circunstâncias podem definir os candidatos e, sobretudo, o resultado das eleições a partir das ruas, da economia e da Lava Jato.
O tempo, porém, está correndo e postulantes em potencial têm de se transformar em candidatos de verdade. Devem se movimentar para construir coalizões e, ao mesmo tempo, enfrentar uma dura batalha jurídica. Até lá, assistiremos a uma corrida contra o relógio na qual políticos tentam sobreviver até 2018, candidatos tentam emplacar suas candidaturas e o mundo judiciário tenta deglutir os despojos da velha política nacional e do capitalismo tupiniquim. É muita água para rolar debaixo da ponte em tão pouco tempo.
* Murillo de Aragão é advogado, consultor, cientista político e doutor em sociologia pela Universidade de Brasília (Unb)
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