- O Globo
Para os que alegam em sua defesa que as delações premiadas são fantasiosas, o coordenador da força-tarefa da Operação Lava-Jato, procurador Deltan Dallagnol, tem um dado incontestável: até hoje, nos três anos de investigações, não houve um só delator que tivesse mentido.
Com cruzamentos de dados e planilhas, e em muitos casos provas como número da conta no exterior ou vídeos que mostram o sujeito da propina, ou um seu preposto, saindo de reunião na sede da empresa com uma mochila, é possível constatar a veracidade das informações.
A teia de informações a essa altura disponível aos integrantes da Operação Lava-Jato é muito grande, e somente ela permite checar as informações, com provas indiciais suficientes para uma conclusão.
Quem se dispôs a ver os vídeos com os depoimentos de executivos da Odebrecht, e em especial os dois comandantes do grupo, Emílio e seu filho Marcelo, deve ter se espantado com a tranquilidade com que abordam os temas mais delicados, como o projeto de controlar o setor petroquímico, ou a ajuda ao filho de Lula na empresa esportiva que tentava difundir o futebol americano no país.
Lula atuou para impedir que a Petrobras adquirisse ativos da Ipiranga a que tinha direito, garantindo que o grupo Odebrecht mantivesse a hegemonia do setor, em detrimento do interesse da estatal. É Emílio Odebrecht quem relata: “Compreendo que nossa presteza e o nosso volume de pagamentos feitos a pretexto de contribuição para campanhas eleitorais contribuíram para a continuidade da privatização no setor petroquímico e nas decisões que tanto o ex-presidente Lula quanto outros integrantes do PT tomaram durante sua gestão, que foram coincidentes com os nossos interesses e fundamentais para o crescimento e consolidação da Braskem.”
Também é de Emílio o relato sobre a proposta de ajudar um dos filhos de Lula. Ele conta que Lula, em certo período, sempre que se encontravam reclamava de Marcelo, dizendo que a então presidente Dilma Rousseff não se dava bem com ele. Emílio propôs então uma trégua: Lula ajudaria seu filho a ter uma boa relação com Dilma, e em contrapartida ele ajudaria o filho do ex-presidente a desenvolver seu negócio. Uma ajuda de pai para filho, nos dois sentidos.
Durante vários anos, a Odebrecht pagou uma mesada de cerca de R$ 50 mil ao filho de Lula, além de ajudá-lo na organização da empresa. Houve também um pedido especial de Lula: que ajudassem o seu irmão Frei Chico. Também deu certo: durante os 13 anos de PT no poder, o irmão de Lula recebeu uma mesada de R$ 5 mil, que era reajustada a seu pedido de tempos em tempos.
A promiscuidade era tamanha que Emílio Odebrecht pediu a Lula que segurasse seu pessoal: “Eles têm a goela muito grande”.
São exemplos simples de como os negócios pessoais de Lula se confundiam com as decisões do governo, sempre em detrimento da Petrobras e das estatais brasileiras. Era uma privatização branca, sem as vantagens das privatizações verdadeiras, com todas as desvantagens para o país dos negócios corruptos.
Além de confirmarem todas as denúncias que há anos estão sendo reveladas, desde o sítio de Atibaia até o terreno do Instituto Lula e as palestras para compensar, segundo outro diretor, Alexandrino Alencar, os favores que Lula fez para a empreiteira nos anos em que foi presidente.
Lula agora será investigado por vários inquéritos, já sendo réu em pelo menos cinco processos. Muito difícil para ele continuar a garantir que tudo não passa de uma invencionice dos Odebrecht e seus executivos.
Os detalhes são tantos, os delatores tão variados, que necessariamente as setas de um PowerPoint metafórico apontam para Lula no centro das atividades ilegais, que estão sendo reveladas a cada dia com mais ênfase.
Nenhum comentário:
Postar um comentário