- Roda Democrática
As manifestações de 2013 sugeriram elementos e anseios, mas não uma nova teoria democrática
Não há como esquecer: em 2013, o Brasil foi às ruas maciçamente. Manifestações multitudinárias ganharam as grandes cidades e se espalharam pelo Brasil urbano e do hinterland. Uma delas, no Rio de Janeiro, chegou a reunir 1 milhão de pessoas. Intensas e participativas, as “jornadas de junho”, convocadas quase que diariamente, ocuparam o centro da agenda política do país. Duraram pouco e gradativamente foram esmorecendo. Conquistaram vitórias parciais, porém o mais importante foi que geraram a consciência de que havia um descontentamento latente no seio da sociedade. Em geral, elas foram antagonistas e de confronto com o Estado. Algumas foram marcadas por enfrentamentos com a Policia Militar (PM) e depois, aos poucos, permitiram que a tática black-bloc, com sua violência característica, afastasse as pessoas das convocatórias promovidas pelas redes sociais.
As jornadas de 2013 não produziram uma pauta clara (excetuando-se a suspensão do aumento do preço do bilhete de transporte público urbano) que pudesse ser seguida, organizada e negociada politicamente, embora seu impacto tenha sido tão forte que chegou a alterar o andamento normal do mundo político.
As manifestações daquele ano devem ser compreendidas como expressão do contexto democrático brasileiro. Foram difusas, plurais e apresentaram demandas republicanas fragmentadas em defesa da ética na política e contra a corrupção. Havia nelas uma demanda pelo bem comum e pela melhoria de vida das pessoas, identificada explicitamente com a melhoria dos serviços públicos voltados para a mobilidade urbana, a saúde e a educação. Elas colocaram em xeque, portanto, a eficiência dos governos, em todos os níveis, especialmente no plano federal, por ser este o maior arrecadador de impostos e por ser dele que se esperam as respostas mais significativas em termos de financiamento das políticas públicas.
Forçoso reconhecer que, passados 5 anos, muitas das pautas ali presentes ainda aguardam seu equacionamento pelo Estado brasileiro.