- Folha de S. Paulo
Incapacidade de faturar com atos do governo dificulta planos de reeleição
Costuma-se atribuir o apelido de “teflon” ao político que consegue escapar de acusações de falcatruas sem danos graves a sua popularidade. É como se ele fosse coberto pelo material antiaderente das boas frigideiras, fazendo com que as denúncias mais obscenas deslizassem com facilidade, em vez de ficarem coladas a sua imagem.
Com uma aprovação estagnada em 6% após quase dois anos de mandato, Michel Temer cogita se lançar à reeleição revestido do pior dos materiais. Até seus auxiliares e colegas de partido reconhecem: as más notícias ficam permanentemente grudadas, mas as boas realizações de seu governo escorregam.
Desde que Temer assumiu o poder, a inflação desabou e a economia voltou a crescer, embora timidamente. A melhora é incontestável, mas pesquisas encomendadas por aliados do presidente apontam que a maioria da população enxerga este governo como o responsável pela recessão e pelo desemprego.
Temer diz a amigos, em conversas reservadas, que gostaria de entrar em campanha para tentar convencer o eleitorado de que sua gestão melhorou a vida dos brasileiros. A rejeição funciona como incentivo pessoal a sua candidatura, mas também é a principal barreira a esse projeto.
Escorados nas realizações de seus governos, Fernando Henrique Cardoso, Lula e Dilma Rousseff tinham pelo menos 36% de aprovação quando iniciaram suas campanhas à reeleição —seis vezes a popularidade de Temer. Os três antecessores apareciam ainda com 40% das intenções de voto; o atual presidente tem 1%.
As marcas deixadas pelo impeachment de Dilma e por acusações de corrupção foram tão profundas que podem ter transformado o presidente em um candidato inviável. É improvável que seus marqueteiros consigam convencer os eleitores nos próximos meses de que Temer não é Temer. Quando agosto chegar, seus aliados deslizarão em busca de outro candidato a que possam se grudar.
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