- Folha de S. Paulo
Governo não tem dinheiro, mas sempre arruma algum para fazer a politiquinha do presidente
Depois de um mês da intervenção, o governo de Michel Temer disse que vai arrumar um dinheiro para a segurança do Rio e outros estados. Levou também um mês para que os militares do Exército tivessem alguma ideia do buraco em que foram metidos, sem aviso algum. Mas há recursos federais?
Não. Nem planos, nem nada. O governo vai fazendo tudo à matroca. Diz agora que vai arrumar R$ 1 bilhão para o Rio e R$ 1,8 bilhão para outros estados em calamidade violenta, não se sabe bem quais, mas Pernambuco e Rio Grande do Norte parecem estar na frente da fila.
De onde vão sair esses R$ 2,8 bilhões? De corte em outras rubricas do Orçamento, não se sabe bem quais. Ou, então, não se corta nada e o déficit cresce. Francamente, esse aumento de dívida não faz diferença. Até uns R$ 7 bilhões de estouro extra quase ninguém notaria, seria discrepância estatística, digamos. Mas há o teto de gastos. Mesmo que não houvesse, por que a implicância?
Porque se trata de mais uma politicagem. Quando Temer assumiu, fez demagogia com os servidores, deu reajuste. O gasto com folha subiu umas duas dezenas de bilhões de reais em 2017, enquanto falta dinheiro para a saúde, estradas arruinadas e segurança, claro. Os fatos da vida estão, pois, evidentes.
O governo está quebradaço e a dívida pública ainda cresce sem limite; é preciso fazer um acerto brutal, com muita contenção de gastos e, de preferência, com mais impostos, item do ajuste que foi vetado pela elite empresarial de Patópolis. Apesar do buraco nas contas, no entanto, foi possível arrumar umas dezenas de bilhões de reais para azeitar a política temeriana.
Para resumir, o que se está dizendo mais uma vez é que não houve acordo algum sobre prioridades de despesa, sobre a possibilidade de gastar de modo a dar uma mãozinha na recuperação e menos ainda debate sobre a divisão da conta do ajuste, que recai apenas no couro do povaréu.
Voltando ao caso do Rio, os interventores do Exército dizem que R$ 1 bilhão não cobre nem os buracos dos dentes do policiamento fluminense nem as dívidas.
Rodrigo Maia (DEM), presidente da Câmara, interrompeu sua voltinha de campanha presidencial para faturar politicamente a miséria da segurança no seu estado. Diz que a Câmara pode votar a volta de cobrança de contribuições previdenciárias de empresas (reoneração) de modo que parte do dinheiro possa ser usada no Rio.
Ainda é cascata, conversa mole.
Esse dinheiro da reoneração cobriria parte do rombo. Só vai haver mais dinheiro para o Rio ou outros estados violentados se o déficit aumentar ou se for cortado algum outro gasto federal.
Não é o caso de dizer que não se deva gastar um tanto mais a fim de atenuar o morticínio. Quanto mais? Se é o caso, pode-se remediar algum outro desastre da administração pública? Com quanto mais gasto? Sem conversar sobre isso, a discussão fica à mercê dos interesses de Temer e Maia, candidatos por ora a ter mais de 1% nas pesquisas.
Sim, é claro que não vai haver mais discussão de nada. Maia, o liberal, largou às moscas a “agenda de reformas” no Congresso. Temer tem uns seis meses de governo, se tanto. Mas um cidadão prestante deve tomar nota dessas conversinhas revoltantes.
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