- Valor Econômico
PT insistirá com Lula até último minuto, avaliam executivos
Agosto marca momentos decisivos da corrida presidencial, com a data final do dia 15 para o registro dos candidatos no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O mercado financeiro, que nunca investiu tanto em pesquisas e sondagens eleitorais e na contratação de consultores políticos, começa a apostar em alguns cenários mais concretos. Para alguns executivos, as recentes movimentações do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com a publicação de artigos em veículos de comunicação e os pedidos para gravar programas de dentro da prisão, no Paraná, deixam clara a estratégia do PT: o partido tentará levar a candidatura de Lula até o último minuto, obrigando o TSE a se posicionar sobre sua inelegibilidade e levando o caso ao Supremo Tribunal Federal (STF).
Até aí, nada de muito novo. Mas o que começa a ganhar força é a ideia de que a defesa do ex-presidente irá utilizar todos os prazos disponíveis para estender a decisão até meados de setembro. A data limite para a indicação de um substituto à candidatura é dia 17, uma segunda-feira. Exercícios feitos por advogados especializados em Direito Eleitoral, considerando todos os prazos de recursos e julgamentos, entretanto, indicam que a resposta definitiva do TSE pode ficar para o dia 19, quarta. Detalhe importante: está marcado para dia 18 de setembro, terça, o início do carregamento das urnas eletrônicas com as fotos e os dados dos candidatos.
Para evitar fraudes, as urnas não têm conexão com internet e são configuradas individualmente. Isso quer dizer que as urnas eletrônicas poderão trazer a foto do ex-presidente Lula. "E não é de todo impossível que se consiga legalmente a substituição de Lula por outro candidato, como Fernando Haddad, mantendo a foto de Lula", diz um executivo de banco, apesar de o TSE reforçar que a substituição só pode ser feita até 17 de setembro, exceto em caso de morte do candidato registrado.
A foto de Lula e a substituição de sua candidatura pela de Haddad poderiam colocar o PT no segundo turno, acreditam alguns executivos. A aposta do mercado é de que o adversário será Geraldo Alckmin, do PSDB - há avaliação de um grande banco, apoiado por opiniões de consultores políticos, de que o ex-governador de São Paulo pode ganhar, de cara, oito pontos percentuais nas pesquisas com o início do horário eleitoral na TV e no rádio, em 31 de agosto.
Alckmin tinha na mais recente pesquisa Ibope em âmbito nacional, divulgada em 28 de junho, apenas 4% das intenções de voto em um cenário considerando a candidatura de Lula. O levantamento, entretanto, foi realizado muito antes do anúncio do acordo do candidato com o chamado "Centrão". Uma nova pesquisa Ibope, realizada apenas em São Paulo, deverá ser divulgada na próxima sexta, dia 3, quando também sai a pesquisa nacional contratada pela XP Investimentos ao Ipespe. No último levantamento nacional XP/Ipespe (27/07), num cenário com Lula, Alckmin tinha 9% das intenções de voto.
Para que se materialize um cenário PSDB e PT no segundo turno, imaginado por parte do mercado financeiro, entretanto, seria preciso desidratar a candidatura de Jair Bolsonaro (PSL). Embora levantamentos recentes venham indicando alguma perda de votos, sua candidatura tem se mostrado resistente - a ponto de o economista Pérsio Arida, responsável pelo programa econômico de Alckmin, ter mencionado voto útil no candidato para uma plateia de executivos do setor bancário em evento recente da Fitch Ratings, destacando que Paulo Guedes, o economista de Bolsonaro, não terá "a caneta na mão" para fazer tudo aquilo que propõe.
Desde a redemocratização do país, na década de 80, o mercado financeiro não tem sido muito assertivo em suas previsões políticas em eleições presidenciais apertadas. Mas se há algo que executivos financeiros sabem fazer é trabalhar com cenários e antecipar, com a compra e venda de ativos, possíveis movimentos. No mínimo, a hipótese de um PT no segundo turno sugere muita volatilidade pela frente. E tudo indica que o partido levará até o limite de 17 de setembro a ideia de uma candidatura Lula.
O custo da corrupção
Jorge Washington Queiroz foi presidente da hoje falecida incorporadora imobiliária Encol e depois presidente do comitê de credores do Banco Santos, que teve sua falência decretada em 2005. Em sua experiência profissional, conviveu de perto com o tema da corrupção e resolveu estudá-la. Viveu os últimos cinco anos dedicado ao tema e se mudou temporariamente para a Noruega, onde defendeu tese. Em livro recém-publicado ("O Mal do Século", editado pela Alta Books), diz que a corrupção sempre existiu no mundo, mas nunca em níveis tão alarmantes. O Banco Mundial estima que propinas consumam US$ 1,5 trilhão ao ano, ou 2% do PIB mundial.
O Brasil, infelizmente, ocupa lugar de destaque na lista: é um dos países mais corruptos do mundo. Em 2015, ficou em último lugar no Relatório de Propina e Corrupção do International Institute for Management Development (IMD), que pesquisou o tema em 61 países. Números pesquisados por Queiroz indicam que o custo médio anual da corrupção no Brasil é de cerca de US$ 32 bilhões (cerca de 2,3 % do PIB), ou cerca de R$ 120 bilhões. Para efeito de comparação, o orçamento de 2018 para o programa Bolsa Família é de R$ 28,7 bilhões. Queiroz diz que, além do pagamento de propinas, há saídas ilícitas de recursos associadas ao comércio exterior de cerca de US$ 20 bilhões anuais (próximo de R$ 75 bilhões) e uma evasão fiscal de US$ 240 bilhões/ano (R$ 900,8 bilhões).
No livro, Queiroz elenca 50 sugestões para atacar o problema da corrupção. Um dos pontos destacados por ele é o maior engajamento da sociedade em nível municipal. "Veja o caso de Teresópolis. Teve sete prefeitos nos últimos sete anos e recentemente metade da câmara de vereadores foi presa por práticas de corrupção", diz. Em tempos de eleição, vale a pena prestar atenção ao tema.
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