Reação
à Lava Jato deixou de ser estratégia e virou só saque generalizado
Esse
é um momento ruim para falar de corrupção no Brasil. Nós, brasileiros, passamos
quatro anos em uma cruzada contra a corrupção.
Quando
a cruzada acabou, tínhamos
um orçamento secreto no valor de três petrolões, promovido por um
presidente que faz
'rachadinha' com miliciano, não comprou vacina porque vinha sem suborno e
queria dar um golpe para poder roubar sem o STF lhe enchendo o saco.
Seria,
enfim, um exagero dizer que a coisa toda foi um sucesso.
Mesmo
assim, está cada vez mais claro que a
reação à Lava Jato perdeu a direção e saiu de controle.
Financiamento
público de campanha, proibição de coligações
na eleição de deputados, todas essas medidas tomadas pelo Congresso depois
do impeachment foram reações à Lava Jato. Mas essa foi a reação certa.
Antes
do financiamento público, aceitar dinheiro de cartel de empreiteira não era só
permitido, era obrigatório para quem quisesse vencer. Se o adversário aceitasse
e você não, você ia pra casa e ele ia pra Brasília.
Com
o financiamento público, o candidato que não quer receber suborno pelo menos
tem uma chance de vencer. É possível uma política em que os políticos não
queiram roubar, mas não uma política em que eles não queiram se eleger.
A
proibição de coligações em 2017, por sua vez, deve
ajudar a reduzir o número de partidos. Se o presidente tiver que montar uma
coligação com 20 partidos, não tem identidade ideológica que segure uma
coligação sem suborno.
Você
pode ter partidos grandes que não queiram roubar, ou deixar roubar, mas todo
partido grande quer governar.
Essas
reformas foram feitas pela classe política porque ela entendeu que, mesmo se
fosse de seu interesse fugir das acusações da Lava Jato, também era do seu
interesse evitar
novas crises como a de 2015.
Em
2018, os partidos grandes entraram em crise, e neles estavam os quadros com
melhor visão de longo prazo para a política brasileira, inclusive entre os
acusados de corrupção.
A
turma de 2018 –a turma de Bolsonaro– roubou tudo o que deu, mas, além
disso, piorou
nossas instituições e tornou escândalos futuros mais prováveis.
O
orçamento secreto de Lira e Bolsonaro torna praticamente ilegal governar sem
pagar suborno.
Dê
uma olhada no modo como
Bolsonaro escolhe e abandona os partidos em que vai entrar e me diga
se ele tem interesse em fortalecer nosso sistema partidário.
Veja quanta
gente o PSL elegeu em 2018, pense no tanto que Bolsonaro poderia ter feito
com isso se, ao invés de planejar um golpe, tivesse tentado trabalhar.
Mesmo
que o próximo governo não seja "lava-jatista", terá que reverter a
deterioração dos últimos anos e retomar o processo de tornar o sistema político
brasileiro menos dependente de dinheiro sujo.
Se
o Brasil for democrático, não conseguirá ser estável com corrupção sistêmica,
como a denunciada pela Lava Jato. Os escândalos serão descobertos e novas
infecções oportunistas como Bolsonaro surgirão. É preciso cortar esse ciclo.
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