Quando a violência acontece na escola, impacta de forma negativa o desenvolvimento da criança por toda sua vida.
Violência nas escolas é um grande problema.
Não só prejudica a aprendizagem como interfere no cotidiano da escola,
deslocando-a dos seus objetivos e destituindo a autoridade pedagógica.
A violência, de um modo geral, tem sido
cada vez mais frequente na relação entre os seres humanos no mundo moderno, até
mesmo mais sofisticada, porque seus estágios, se é que se pode escalonar, estão
também relacionados ao desenvolvimento das tecnologias.
As redes sociais têm sido abrigo
transmissor de violência na medida em que atualmente tem sido comum que crimes
aconteçam e se organizem através da comunicação por elas oferecidas. O
problema, no entanto, não é da comunicação nas redes, mas da capacidade que o
ser humano desenvolve no plano da maldade, em função da ganância pelo poder.
As escolas, como um ente da sociedade, têm
sido um ambiente no qual prospera a violência de várias formas, internamente e
no ambiente que as rodeiam, daí a complexidade no trato dessa questão para que
os objetivos e a ação pedagógica da escola possam ser preservadas.
Um estudo realizado pela UNESCO em 2016
identificou que nas escolas os alunos não estão mais seguros do que na rua e que
a violência atinge as escolas públicas e particulares. “Professores e alunos
convivem com as ameaças decorrentes de atividades criminosas: tráfico de
drogas, posse de armas e atuação de gangues… quarenta por cento dos professores
atribuem o problema da violência nas escolas ao envolvimento de alunos com o
tráfico”.
A situação de violência descrita pela UNESCO foi atenuada pela pandemia com o fechamento das escolas.
No entanto, após a abertura das escolas,
voltam ao noticiário narrativas sobre violência em escola do Distrito Federal
com luta corporal e o esfaqueamento de aluno.
Os adolescentes, segundo a polícia,
iniciaram a briga fora da escola e um deles foi apreendido portando porção de
maconha.
Bastante interessante um projeto intitulado
Violência na Escola-Diagnose e Reflexão, de iniciação científica e iniciativa
da professora universitária Maria Eleusa Montenegro, acompanhada por um grupo
de universitários pesquisadores, implantado numa escola da Asa Norte, em
Brasília. Tem como metodologia o diálogo entre alunos e entre alunos e
professores, cujo objetivo é desenvolver reflexões sobre danos causados pela
violência e resgatar a importância do trabalho da escola, que é desenvolver um
ambiente de aprendizagem em todos os níveis, visando o bom desempenho de alunos
e professores.
Após breve interrupção por conta da
pandemia, o grupo tem mantido o trabalho de forma virtual.
Não é nada fácil porque a violência na
escola é também a extensão do que acontece na sociedade, mas “a ideia da
professora era justamente colocar em prática um projeto de intervenção que
buscasse promover a paz no ambiente escolar, e tentasse minimizar os danos
causados por esses episódios na vida das crianças e adolescentes”. (Jornal de
Brasilia)
Alguns estudiosos têm relacionado como fatores
de violência, além da violência urbana, do tráfico de drogas e da negligência
dos pais na condução da educação dos filhos, outras questões relacionadas à
própria escola, como a falta de diálogo entre alunos e professores e as
atitudes autoritárias praticada por parte dos gestores escolares e professores.
Alguns gestores se sentem os donos das
escolas porque são a extensão do poder político, já que foram conduzidas ao
cargo por indicação de um representante político. Assim como professores se
sentem donos da disciplina que ensinam, não cabendo questionamentos pelos
alunos, sendo apenas a nota da prova o ponto de referência.
A violência expressa dentro das escolas tem
sido motivo de várias pesquisas, resultando em dados que facilitam o tratamento
da questão por parte das instituições públicas e pela própria escola.
Em pesquisa realizada pelo Sindicato dos
Professores (Sinpro) em 2018, consta que 97,15% dos educadores da rede pública
já presenciaram atos de violência nas redes de ensino. A pesquisa foi realizada
com 1355 profissionais de diferentes regiões administrativas”. (JB 2020)
Um estudo realizado pela Organização para a
Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), em 2019, mostra que o Brasil
lidera o ranking de
agressões contra docentes. “Os dados utilizados são de 2013, quando 12,5% dos
professores de instituições brasileiras ouvidos, relataram ser vítimas de
agressões verbais ou de intimidação de alunos ao menos uma vez por semana.
Entre os 34 países pesquisados, a média é de 3,4%”. (JB 2020)
O Ministério da Educação em parceria com a
Faculdade Latino Americana de Ciências Sociais desenvolveu o estudo Diagnóstico
Participativo das Violências nas Escolas, resultando que 69,7% dos jovens
afirmam terem visto algum tipo de agressão dentro da escola, e que em 65% dos
casos a violência parte dos próprios alunos; em 15,2%, dos professores; em
10,6%, de pessoas de fora da escola; em 5,9%, de funcionários; e, em 3,3%, de
diretores.
Segundo a professora Mara Weber, há também
a violência contra a escola, que é aquela em que a política educacional não é
valorizada, quando os orçamentos não contemplam as necessidades básicas de infraestrutura,
livros para as bibliotecas, materiais e instrumentos para o trabalho, como
computadores, rede de internet e, sobretudo, quando os salários dos professores
são aviltados.
A questão, amplamente estudada, é de
conhecimento de todos.
A violência não nasce na escola, mas a
escola reflete de forma acentuada o que acontece na sociedade, que se traduz na
violação dos Direitos Humanos, sobretudo através das atitudes de violência que
ameaçam a vida e a integridade física da população nas grandes cidades.
No entanto, quando a violência acontece na
escola, impacta de forma negativa o desenvolvimento da criança por toda sua
vida.
É da natureza da Educação a conversa, o
diálogo, o debate em torno do conteúdo estudado, da vida. É da natureza do processo
de aprendizagem que se estimule no aluno em qualquer fase dos seus estudos, a
criatividade e o gosto pela dúvida, pela pesquisa, porque é nessa relação que
acontecem o surgimento de novas ideias dos novos conhecimentos e a aprendizagem
propriamente dita.
É da responsabilidade da escola
proporcionar uma formação extensa e crítica que proporcione a todos o exercício
da cidadania.
Além disso, é na troca de experiências que
se fortalecem as relações de amizade, confiança, solidariedade entre os alunos
e entre alunos e todos que fazem o trabalho da escola, especialmente os
professores.
Por isso, é necessário abrir espaços no
tempo destinado ao ano letivo, para ações que incorporem as rodas de conversas,
o acompanhamento psicológico e às boas práticas que tenham referência na
amplitude da garantia dos deveres e direitos de cada um.
Que se utilizem as técnicas de Mediação de
Conflitos no âmbito do currículo e das boas práticas pedagógicas para construir
com a comunidade escolar, um espaço de convivência onde a aprendizagem tenha o
lugar que lhe é devido, com prioridade.
*Mirtes Cordeiro é pedagoga.
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