segunda-feira, 4 de novembro de 2024

Os perigos de uma economia Trump-Musk - Joseph Stiglitz

Valor Econômico

Em praticamente todas as áreas em que o país enfrenta um desafio, as políticas de Trump tornariam as coisas piores

À medida que a decisiva eleição presidencial nos EUA se aproxima, a campanha atingiu um ápice de tensão, com Donald Trump e aliados fazendo promessas cada vez mais radicais. Mas essas promessas, especialmente em relação à política fiscal, inevitavelmente serão quebradas. Afinal, é matematicamente impossível reduzir os impostos para as corporações e os bilionários, sustentar programas básicos como o de defesa e o da Previdência Social e, ao mesmo tempo, reduzir o déficit.

Algumas das promessas mais absurdas da campanha de Trump vêm de Elon Musk, que alega saber como cortar US$ 2 trilhões do orçamento federal. Isso soa irônico, vindo de alguém cujas empresas dependem tanto de contratos com o governo e socorros financeiros (sem o empréstimo de US$ 465 milhões que recebeu do governo Obama, a Tesla poderia muito bem ter falido).

As alegações de Musk revelam uma ignorância surpreendente sobre economia e política. Suas propostas equivalem a um corte de cerca de um terço de todos os gastos do governo - oito vezes mais do que o General Accountability Office (o órgão de controle interno do governo) estima ser desperdício ou fraude. Entre outras coisas, os EUA teriam que cortar todos os gastos “discricionários”, inclusive com defesa, saúde, educação e com os departamentos do Tesouro e do Comércio, além de cortar drasticamente a Previdência Social, o Medicare e outros programas bem-estabelecidos e bastante populares.

Esses cortes radicais implicam que Trump tentaria convencer o Congresso e fazer grandes mudanças nesses programas. Mas não prenda a respiração. Trump já teve quatro anos para desmantelar o “Estado administrativo” quando foi presidente, e não fez isso. Agora ele está fazendo promessas populistas de que “aumentará” (e não, diminuirá) o déficit - mais US$ 7,5 trilhões na próxima década.

Esses cortes dolorosos teriam efeitos devastadores sobre a economia e a sociedade dos EUA. Políticas de destruição e desmantelamento inevitavelmente fracassam. Assim como a estratégia de austeridade do secretário do Tesouro dos EUA Andrew Mellon durante o governo de Herbert Hoover contribuiu para a Grande Depressão, as políticas de austeridade no Reino Unido sob os 14 anos de governo conservador levaram a uma década e meia de estagnação.

O contraste entre os programas econômicos de Trump e Kamala Harris não poderia ser mais gritante. A agenda de Kamala reduziria o custo de vida - com base nas disposições da Lei de Redução da Inflação (IRA) para reduzir os custos dos medicamentos e da energia - e tornaria a moradia mais acessível, enquanto que as tarifas de Trump (um imposto sobre produtos importados) tornariam tudo mais caro para os americanos, especialmente as famílias de renda média e baixa.

Em praticamente todas as áreas em que o país enfrenta um desafio, as políticas de Trump tornariam as coisas piores. Antes mesmo da pandemia, a expectativa de vida nos EUA - já a menor entre as economias avançadas - estava diminuindo sob Trump. Ao tentar revogar a Lei de Cuidados Acessíveis e a disposição da IRA que reduz os preços dos medicamentos vendidos sob prescrição, Trump tornaria a situação ainda pior.

Da mesma forma, os EUA lideram a lista das economias avançadas em termos de desigualdade, e os cortes de impostos de Trump para os ricos aumentaria ainda mais esse fosso. As políticas de Kamala, por outro lado, visariam diretamente melhorar os padrões de vida da classe média.

A fixação em cortes de impostos e regulação mais leve atraiu muitos capitães da indústria e das finanças para a equipe de Trump. Este oferece um capitalismo rentista de compadrio, que, mesmo que seja bom para Musk e outros bilionários, não será bom para os americanos

Além das crises de saúde e desigualdade, as mudanças climáticas estão custando caro aos americanos em termos de vida e danos a propriedades. Ainda assim, Trump tem se aproximado de magnatas dos combustíveis fósseis para obter contribuições de campanha, prometendo em troca reduzir as regulamentações sobre a poluição. Ele não só deixaria os EUA atrás de muitos outros países na transição para uma economia de energia limpa, como também transformaria os EUA em um pária internacional (mais uma vez).

Essas são algumas das razões pelas quais 23 americanos ganhadores do prêmio Nobel assinaram recentemente uma carta aberta apoiando Kamala Harris. É difícil fazer dois economistas concordaram em quase tudo, mas concluímos que “no geral, a agenda econômica de Harris vai melhorar a saúde, os investimentos, a sustentabilidade, a resiliência, as oportunidades de emprego e a justiça em nossa nação e será muito superior à agenda econômica contraproducente de Donald Trump”. As questões financeiras estão desempenhando um papel importante nesta eleição, e nós, economistas ganhadores do Nobel, concluímos que, sem dúvida, “Kamala Harris seria uma gestora muito melhor da nossa economia”.

Compreensivelmente, muitos americanos desejam esquecer todo o caos (e o excesso de mortes por covid-19) que prevaleceu durante a presidência de Trump. Mas não devemos. Com Trump abertamente buscando uma retaliação contra o que ele chamada de “inimigos internos”, e com o Partido Republicano sendo agora nada mais de que um culto à personalidade, há poucas dúvidas de que uma segunda presidência seria ainda pior do que a primeira.

Embora a força econômica dos EUA repouse sobre os fundamentos da ciência e da tecnologia, Trump propôs reiteradamente cortes maciços nos gastos federais com pesquisa, o que seria devastador para os avanços na ciência básica e teria efeitos colaterais em muitos setores importantes. Quando esteve na presidência, até mesmo os republicanos entenderam a imprudência de suas propostas e as rejeitaram. Mas agora, o servilismo autodepreciativo do partido para com ele é total.

Em outra carta aberta, meus colegas economistas laureados com o Nobel e eu fomos acompanhados por mais de 80 cientistas. Destacamos que “os aumentos enormes nos padrões de vida e expectativa de vida nos últimos dois séculos foram em grande parte resultado dos avanços na ciência e na tecnologia. Harris reconhece isso e entende que manter a liderança nesses campos exige apoio orçamentário do governo, universidades independentes e colaboração internacional. Harris também reconhece o papel fundamental que os imigrantes sempre desempenharam no avanço da ciência”.

Infelizmente, nem mesmo Musk - cujas empresas dependem da ciência básica feita por outros - considerou completamente o que Trump significaria para os seus resultados financeiros. A ganância de curto prazo - uma fixação em cortes de impostos e regulamentação mais leve - atraiu muitos capitães da indústria e das finanças para a equipe de Trump. Este está oferecendo um capitalismo rentista de compadrio, um tipo de capitalismo que, mesmo que seja bom para Musk e outros bilionários, não será bom para o resto de nós. Mas Kamala, pelo menos, está projetando a esperança de que, por meio do raciocínio e da cooperação, os americanos possam criar uma economia mais resiliente, inclusiva e de crescimento mais acelerado - uma economia que supere o capitalismo de compadrio e compartilhe os benefícios do crescimento de forma mais equitativa. (Tradução de Mário Zamarian)

 

4 comentários:

Anônimo disse...

Se analisar bem a narrativa do jornalista é uma valsa descompassada Nenhum momento ele fala na inflação que está corroendo o salário de quem trabalha Nos Estados Unidos está vivenciando um momento de pré Guerra Mundial e no nuclear com destruição total da terra para os humanos, a saída / fuga do Afeganistão largando para trás cidadãos americanos e colaboradores locais e bilhões e bilhões em armamentos sofisticado para o Taliba
A vergonha que os Estados Unidos hoje passa mundialmente isso ninguém fala Mas tá na hora do choro , pode chorar, o choro é livre!!

Anônimo disse...

O primeiro a chorar vai ser você, fela... o tronald dump vai ser derrotado outra vez se juntando ao seu êmulo zuca no time dos que não conseguem se reeleger pelo desprezo do eleitorado. E não adianta vir com mimimi de voto auditável pois lá é de papel mesmo.

Mais um amador disse...

" Mas essas promessas, especialmente em relação à política fiscal, inevitavelmente serão quebradas. Afinal, é matematicamente impossível reduzir os impostos para as corporações e os bilionários, sustentar programas básicos como o de defesa e o da Previdência Social e, ao mesmo tempo, reduzir o déficit. "

Ok

Anônimo disse...

Alucinação pura do que me antecedeu , já há entendimento na alta cúpula americana da vitória do republicano e os números de pesquisas , mesmo maquiados, já apontam para essa realidade
OTrump vai vencer sim!
Mas o choro é livre!!