O Estado de S. Paulo
O que separa o republicano da democrata é a intensidade e não a essência
Em 2008, o democrata Barack Obama conquistou
a presidência dos Estados Unidos tendo como adversário um candidato claramente
pró-livre comércio: o republicano John McCain. Obama é que era considerado o
protecionista.
Em 2016, chegou Donald Trump e inverteu tudo. Uma de suas primeiras decisões foi jogar no lixo um tratado de livre comércio fechado por Obama com onze países da Ásia e do Pacífico. Atualmente, considera-se que o republicano representa o ideal do protecionismo e do isolacionismo, enquanto os democratas, nas figuras do presidente Joe Biden e da sua vice e candidata a sucessora Kamala Harris, seriam mais abertos para o mundo.
O primeiro mandato de Trump, entre 2017 e
2020, de fato foi marcado pela criação de barreiras às importações,
especialmente daquelas vindas da China. Ele aumentou as tarifas sobre produtos
chineses de 3% para 20%, em média. As novas taxas de importação criadas por
Trump somaram o equivalente 80 bilhões de dólares. A gestão do democrata Biden
não reverteu esse cenário. Ao contrário, ele não apenas manteve a maioria das
tarifas criadas por Trump como criou novas barreiras ao comércio externo. O
total de empresas chinesas que enfrentam restrições nos Estados Unidos
atualmente chega a 1.300.
A diferença entre o protecionismo de
republicanos e democratas está nas motivações e nos métodos. Trump vê a guerra
comercial como uma forma de proteger empresários e trabalhadores americanos da
concorrência externa. Sua arma preferida são as tarifas de importação. Na
campanha deste ano, prometeu elevá-las para 10% para produtos em geral e para
60% no caso daqueles vindos da China. Já Biden recorre mais às barreiras não
tarifárias como método, ainda que tenha também elevado as tarifas sobre
produtos como carros elétricos e painéis solares chineses. Sua motivação está
ligada à disputa de longo prazo por poder com Pequim via domínio tecnológico.
De Kamala Harris pode-se esperar que siga a
mesma estratégia adotada por Biden, ou seja, uma escalada gradual nas barreiras
alfandegárias e tarifárias às importações, enquanto mantém negociações aqui e
ali que dão uma pequena abertura no comércio com outros países. O resultado
geral, ainda assim, é mais protecionismo.
Pelo teor das propostas, é provável que um
segundo mandato de Trump faria dos Estados Unidos um país mais fechado
comercialmente do que um primeiro mandato de Harris. O que os separa é a
intensidade, não a essência. Com qualquer um dos dois, o país vai se tornar
mais protecionista.
Um comentário:
No antepenúltimo parágrafo tem uma frase estranha,eu acho que o ''não'' ficou fora do lugar,rs.
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