O Estado de S. Paulo
Ainda estamos aqui, o Brasil está no Oscar e ditadura nunca mais
Falado em português, com livro, história,
personagens, atores e um grande diretor genuinamente brasileiros, Ainda Estou
Aqui vem numa excelente hora para jogar uma lufada de alegria no ambiente
nacional, divulgar nosso país de forma positiva mundo afora e servir de alerta
evidente contra tentativas de golpe e discursos autoritários e do atraso.
Concorrer ao Oscar já seria o máximo, mas Walter Salles foi muito mais longe e Ainda Estou Aqui está na disputa não apenas de uma, mas de três estatuetas, inclusive a principal, a de melhor filme. Além disso, estamos na lista para melhor filme estrangeiro e... melhor atriz. Ufa! O coração bate forte!
Fernanda ganhar o Globo de Ouro já foi
espetacular e parecia demais disputar o Oscar, mas lá está ela, entre as
melhores do mundo. Não é demais torcer para a vitória em pleno domingo de
carnaval. Nem precisa caprichar no cabelo, Fernanda! For como for, já estará
perfeita.
Quando eu estava saindo do cinema, o jovem
casal à minha frente conversava e ele disse, incisivo, para a companheira: “Se
dependesse de mim, essa gente do 8 de Janeiro não saía nunca mais da cadeia”.
Era o filme atingindo o objetivo de reavivar a história, provocar tristeza,
indignação e raiva, para não esgotar jamais o nosso grito nacional: ditadura,
nunca mais!
Não é preciso ser especialista em cinema, eu
jamais fui nem pretenderia ser, mas há que se destacar o cuidado de Walter Salles
de não explorar cenas de tortura e assassinatos, evitar melodramas e pieguice e
ficar na história, nos personagens, no momento político, na dor contida de uma
família. Disse tudo, não precisava. A realidade se impunha.
Fernanda Torres não representou um único
personagem, mas vários, ao longo do filme: a alegre e bem-sucedida Eunice Paiva
em meio a um casamento feliz e uma família unida; a Eunice sem entender o que
acontecia quando agentes da ditadura levaram o ex-deputado Rubens Paiva para
sempre; a Eunice presa, humilhada, ameaçada, suja, faminta, sem saber do
marido, da filha e dela mesma; a Eunice guerreira, que move mundos e fundos
para ter notícias do marido; a Eunice ao saber da morte, reunir o dinheiro
possível e decidida a sobreviver com os filhos; e, enfim, a Eunice, já
advogada, lutando pelas boas causas.
Em todas essas personagens, Fernanda foi perfeita, convincente no ponto certo. E, como fecho de ouro, Fernanda Montenegro, a mãe, brilhando como fez a vida inteira no papel da Eunice já idosa, com Alzheimer. De mãe para filha, do Brasil para o mundo. O Brasil está em festa, nem Donald Trump e tudo o que ele representa de pior no nosso país e no nosso mundo conseguem atrapalhar. Ao Oscar, Fernanda, Walter, Brasil!
Nenhum comentário:
Postar um comentário