sexta-feira, 24 de janeiro de 2025

Lutemos juntos por um mundo novo - Emmanuel Macron

Folha de S. Paulo

França, Europa e América Latina têm oportunidade histórica de se reunirem em torno de mesmo ideal; queremos um planeta mais justo e seguro

Em um momento em que as sociedades democráticas enfrentam tantos desafios, sejam eles ambientais, econômicos ou tecnológicos, a França, a Europa e a América Latina têm uma oportunidade histórica de se reunirem em torno de um mesmo ideal, de uma mesma concepção do universalismo e da dignidade humana, de uma mesma vontade de agir para o bem comum.

Nós travamos essa luta no passado. Dessa história nós não nos esquecemos. Ela nos inspira. Ela nos lembra que os Libertadores, movidos pelo sopro da Revolução Francesa e por um vento de liberdade, lutaram com bravura pela independência de todo um continente.

No ano passado, minhas duas viagens à América Latina me mostraram, a cada encontro, o quanto essa história continuava a ser escrita todos os dias. E 60 anos após a viagem histórica do general Charles De Gaulle, devemos continuar a defender essa visão combativa e humanista do nosso destino comum diante das grandes mudanças de nosso tempo.

Entre tantos desafios, nós também nos questionamos, da mesma forma que vocês, sobre o lugar que os espaços digitais ocupam em nossas vidas [bem] reais, o impacto da inteligência artificial sobre elas e, de forma mais ampla, a conciliação entre o desenvolvimento tecnológico e os nossos valores. Esse assunto estará no centro da Cúpula global de Ação sobre IA, que será realizada em Paris nos dias 10 e 11 de fevereiro e reunirá todos os agentes que atuam nessa área.

Nós também queremos construir com vocês um mundo que enfrente com determinação a mudança climática, que nos permita implementar as medidas de adaptação necessárias e que garanta a preservação de nossas florestas e oceanos. Um mundo que nos ofereça maior segurança diante do crime organizado transnacional e que estabeleça regras comerciais justas para as nossas empresas. Um mundo mais justo, que reconheça a interdependência entre preservação do meio ambiente e prosperidade e permita que os dois andem sempre juntos.

Nós começamos a nos empenhar nessa via paralela promovendo assuntos essenciais como a proteção e o uso sustentável do oceano —especialmente por meio da organização, ao lado da Costa Rica, da Conferência das Nações Unidas sobre o Oceano, que será realizada em Nice (França) no próximo mês de junho, bem como do apoio à candidatura de Valparaíso (Chile) para sediar a secretaria do tratado sobre a biodiversidade em alto-mar—, defendendo a igualdade de gênero ao lado do México, intensificando nossa mobilização em prol do clima no âmbito da preparação da COP30, em Belém, e protegendo as florestas ao lado dos países amazônicos.

Nós construímos essa agenda internacional mais justa ao lado de vocês, por meio do Pacto de Paris para os Povos e o Planeta, que hoje conta com o apoio de 70 países.

Por meio dessas muitas iniciativas, sempre impulsionadas pelo mesmo universalismo, nós nos recusamos a ceder à ideia de fragmentação do mundo em blocos: Norte e Sul, Ocidente e o resto do mundo. O princípio de dois pesos e duas medidas não pode ser aplicado com base em critérios geográficos ou afinidades: toda vida conta, seja na Ucrânia ou no Oriente Médio, seja no Haiti ou na Venezuela. A França, país latino-americano graças aos seus territórios ultramarinos, e membro do Conselho de Segurança das Nações Unidas, sempre cumprirá com o seu papel na manutenção da paz e da estabilidade no continente.

No início deste novo ano, quero mais do que nunca reiterar firmemente nosso compromisso de levar adiante essa ambiciosa agenda com vocês, incluindo a criação de novas oportunidades de intercâmbio entre nossas universidades, instituições culturais e centros de pesquisa, bem como o lançamento de novos projetos para as nossas empresas no sentido de proporcionar uma maior autonomia estratégica aos nossos dois continentes.

Não há dúvidas quanto a isso. O futuro da França e da Europa será escrito junto com a América Latina e o Caribe. Portanto, lutemos juntos por um mundo novo.

 

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