sexta-feira, 24 de janeiro de 2025

O sonho americano está mais distante - Laura Karpuska

O Estado de S. Paulo

Há uma percepção de que mais americanos não acreditam que o sonho americano seja possível

Uma casa branca, uma varanda, cercas de madeira pintadas de branco, um gramado verde, uma bandeira dos Estados Unidos hasteada no jardim. Este é, ou era, o imaginário do sonho americano. Ele representa a conquista material – a casa, o carro, o jardim –, mas também carrega a promessa de recompensa pelo trabalho árduo. Há uma percepção crescente de que mais e mais americanos não acreditam que o sonho americano seja possível.

Pesquisas recentes confirmam essa sensação: apenas 36% dos americanos consideram o sonho possível hoje, comparado a 53% em 2012, segundo o The Wall Street Journal. Entre os mais jovens, 42% ainda acreditam nele, enquanto 68% dos mais velhos mantêm a esperança. Moradia cara e dívidas estudantis alimentam esse ceticismo, de acordo com a Pew Research.

O recém-empossado presidente Trump herdará uma economia decente de seu antecessor: desemprego baixo, inflação em desaceleração e o PIB surpreendendo positivamente. O cenário está longe de ser catastrófico e levanta a dúvida de quanto a economia influenciou a derrota da ex-vice-presidente Kamala Harris. Mas talvez essa análise careça de algo menos objetivo. As pessoas não apenas avaliam o presente: julgam o que esperavam que ele fosse. A frustração nasce do descompasso entre a expectativa e a realidade, mesmo que esta última, por si só, seja aceitável.

Enquanto escrevia esta coluna, recebi de um amigo um meme que parecia traduzir perfeitamente o espírito desta reflexão. Era Al Bundy, interpretado por Ed O’Neill no seriado Married With Children. Ele estava sentado no sofá, curvado, com a mão enfiada na calça e a expressão típica de desgosto. A legenda dizia: “Nos anos 90, Al Bundy era considerado pobre”. Abaixo, uma foto de uma casa ampla, de dois andares, com garagem e espaço de sobra. O meme, na linguagem dos jovens, encapsula perfeitamente o que mudou. O que antes era “pobreza” hoje está inalcançável para muitos.

A agenda econômica de Trump, até agora, foca na imposição de tarifas sobre todas as importações para os Estados Unidos, na redução de impostos corporativos e no abandono da busca por energia limpa ao declarar uma “emergência energética nacional” para promover a perfuração de petróleo doméstica. Difícil imaginar que a resposta para os empregos do futuro esteja em soluções antiquadas como estas.

Resta, então, a dúvida: será que Trump conseguirá responder às frustrações que o elegeram?

 

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