quarta-feira, 18 de novembro de 2015

Opinião do dia – Armínio Fraga

Folha - A possibilidade de o Lula voltar é um problema?

Qual Lula que vai voltar, né? Depois de tudo o que aconteceu, tudo o que está exposto Ele decepcionou muito, em muitas dimensões. É muito hábil, se defende, mas é tanta coisa que aconteceu...

Se dependesse de mim, preferia que fosse alguém do PSDB, ou de algum outro partido, alguma liderança que surja. É melhor. Chegou a hora. O PT teve a sua chance, fez essa lambança toda, mais até política e ética do que econômica.

A econômica é uma pena, mas o resto é imperdoável.

Seria bom uma mudança.

Uma área em que a oposição perdeu o debate até agora é mostrar que uma proposta alternativa mais transparente e mais liberal, com um Estado melhor, é muito mais progressista que o que tivemos aqui. Esse debate até agora foi perdido, mas a chance agora existe.

Tem coisa melhor aqui. Bem melhor.

O modelo atual é um modelo saturado, um Estado que no fundo não atende aos mais pobres. Eles foram beneficiados, sim, com melhorias importantes, mas há um dinheiro enorme indo para outros lugares e sendo desperdiçado. Essa é uma boa briga política.

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Armínio Fraga, ex- presidente do BC. Entrevista: ‘Impeachment poderia, sim, destravar crise’. Folha de S. Paulo, 17 de novembro de 2015.

Temer e a presidência: ‘Por enquanto não’

Temer diz ‘por enquanto’ não querer Planalto, mas já prepara defesa no TSE

• Ao ser interrompido por manifestantes que pediam impeachment da presidente durante encontro do PMDB, vice cometeu ato falho, mas depois contemporizou: ‘Vamos esperar 2018’; ele trabalha para que Justiça Eleitoral julgue suas contas separadas das de Dilma

Vera Rosa, Adriano Ceolin, Isadora Perón - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - O vice-presidente Michel Temer foi interrompido nesta terça-feira, na abertura do Congresso do PMDB, por manifestantes que pregavam o impeachment da presidente Dilma Rousseff e a ascensão dele ao poder. Aos gritos de “Brasil/Pra Frente/Temer Presidente”, os militantes, que carregavam bonecas de Dilma, vestida com a faixa “mãe do petrolão”, pediram mais de uma vez que ele assumisse a Presidência. “Por enquanto, não, obrigado”, respondeu o vice. “Vamos esperar 2018.”

À plateia, Temer ressalvou, porém, que não será ele o candidato do PMDB na disputa de 2018.

 “Vamos lançar um grande nome do PMDB. Estou encerrando minha vida pública”, garantiu. Apesar da declaração, o vice se prepara para o caso de ter de assumir a Presidência e já contratou até mesmo o advogado Gustavo Guedes, especialista em Direito Eleitoral, para conduzir sua defesa no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

É no TSE que tramita a ação do PSDB pedindo a impugnação dos mandatos de Dilma e Temer. Os tucanos alegam que houve abuso de poder econômico na campanha de 2014 e, se o TSE julgar a ação procedente, a presidente e o vice podem ser cassados. Advogado constitucionalista, Temer argumenta que sua prestação de contas foi feita separadamente do balanço apresentado por Dilma. Além disso, em conversa recente com interlocutores, invocou vários artigos da Carta para sustentar que ninguém pode ser responsabilizado por atos de outras pessoas.

Foi nesse ambiente de distanciamento entre Dilma e Temer que ocorreu nesta terça-feira o congresso do PMDB, o principal partido da coalizão governista, em Brasília. Mesmo escancarando divisões entre as várias alas do partido, e até divergências quanto ao programa “Uma Ponte Para o Futuro”, com propostas antagônicas às do PT para a retomada do crescimento - como o fim dos gastos mínimos previstos na Constituição para despesas com educação e saúde -, o encontro foi marcado por críticas ao governo. Tratou-se ali do primeiro passo para o divórcio com o Planalto.

Na prática, o PMDB já havia adiado a decisão sobre o rompimento com Dilma para março de 2018, quando haverá a convenção da legenda, mas manteve o congresso promovido pela Fundação Ulysses Guimarães para dar um sinal de força.

Ao lado do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), Temer disse ser preciso “coragem para não fugir da verdadeira luta”, mas fez discurso tentando equilibrar sua posição de vice com o desejo de pavimentar o afastamento do PMDB do governo.

“Nós estamos juntos procurando soluções para o País. Não é de hoje que temos falado em reunificar o pensamento nacional e pacificar a Nação. Não é da índole do brasileiro a disseminação do ódio”, discursou Temer, que também preside o PMDB. Em agosto, no auge da crise política, ele provocou a fúria de Dilma ao apelar para a necessidade de “alguém capaz de reunificar a todos”. À época, a frase foi interpretada no Planalto como tentativa de Temer de se cacifar como alternativa para ocupar o lugar da presidente.

Sob os ecos de “Rompe, PMDB”, os manifestantes que pediam o impeachment ergueram cartazes com os dizeres “Temer, vista a faixa já!”. O vice falava sobre a necessidade de mudanças profundas na economia, e não apenas “cosméticas”, quando foi surpreendido pelo protesto.

Após responder “por enquanto não” aos apelos para assumir o poder, ele prosseguiu com o discurso:

“Para não encolhermos diante de demagogias fáceis, não podemos colocar os interesses pessoais na frente dos interesses do País”.

Para o ex-ministro Geddel Vieira Lima, o PMDB precisa sair logo do governo. “O impeachment não depende da gente, mas tem algo que depende. Não é o afastamento de Dilma da Presidência, mas o afastamento do PMDB dela, para que possamos construir um partido com discurso”, insistiu Geddel.

Claque do PMDB pede Temer presidente

Por Thiago Resende e Raymundo Costa – Valor Econômico

BRASÍLIA - Aos gritos de "Brasil prá frente, Temer presidente", o PMDB deu a largada ontem no projeto para lançar uma candidatura presidencial própria em 2018 ou voltar ao Palácio do Planalto antes disso, na eventualidade do impeachment da presidente Dilma Rousseff. O vice-presidente respondeu aos militantes: "Ainda não, em 2018".

Mais tarde Temer ainda tentou consertar, mas sem muita convicção: "Vamos esperar 2018. Vamos montar um candidato, um grande nome do PMDB. [...] Estou encerrando minha vida pública", afirmou. Segundo ele, o candidato do PMDB para a corrida presidencial será conhecido apenas no ano eleitoral. "2018 só em 2018", declarou.

O lançamento do nome de Temer ocorreu durante a divulgação do documento "Uma Ponte para o Futuro", que servirá de base para a candidatura presidencial. Encarado com desconfiança pelo Palácio do Planalto, pode-se afirmar que o encontro foi uma espécie de "batalha de Itararé". O governo fez o que pode para esvaziar o encontro do PMDB, mas todos os diretórios mandaram representantes para a reunião.

Na última hora, os dirigentes do PMDB também suavizaram o tom dos discursos, Segundo os organizadores, havia 44 representantes de movimentos pró-impeachment de Dilma - alguns deles ligados ao presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha.

Mesmo com baixos índices de aprovação, o governo mostrou sua força: os sete governadores do partido não compareceram ao encontro. Mas dos sete ministros, apenas três deixaram de comparecer: Kátia Abreu (Agricultura), Eduardo Braga (Minas e Energia) e Celso Pansera (Ciência e Tecnologia). Dos presentes, apenas Eliseu Padilha (Aviação Civil) discursou, mas sem as críticas ao governo que deram o tom à reunião.

O objetivo do PMDB é começar a se desgarrar do PT na eleições municipal de 2016 e disputar com nome próprio em 2018. No meio do caminho há o impeachment, um assunto sobre o qual seus líderes não evitam comentar, inclusive por estar às vésperas de decisões na Câmara dos Deputados e no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Na véspera do encontro, a senadora Marta Suplicy (SP), que recentemente trocou o PT pelo PMDB, ofereceu um jantar em sua casa ao vice-presidente Michel Temer, àquela altura presidente da República, pois Dilma ainda não reingressara em território nacional. No PT, Marta liderou o movimento "Volta, Lula". No PMDB, não esconde sua simpatia pelo impeachment. O assunto circulou de mesa em mesa, mas sempre contornado com habilidade por Michel Temer.

O PMDB, no entanto, está preparado para assumir a presidência da República, na hipótese de vagar a cadeira de Dilma. Uma das possibilidade é via um processo de impeachment no Congresso Nacional, cuja abertura está nas mãos do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (RJ). Ao chegar ao encontro do PMDB, o deputado não foi propriamente hostilizado, mas houve um constrangedor início de vaia.

Isso em um ambiente dominado por militantes que carregavam um boneco de Dilma e faixas com os dizeres "Temer Vista a Faixa Já". Nenhum dos outros mencionados na Lava-Jato, como o presidente do Senado, Renan Calheiros, foi constrangido pela plateia como Cunha. Seu antigo aliado, o líder do partido na Câmara, Leonardo Picciani, não compareceu.

A outra hipótese de Dilma ser impedida de continuar no cargo é a impugnação da chapa eleita em 2014. Neste caso, o PMDB deve recorrer até o Supremo Tribunal Federal (STF), se for o caso, pois o entendimento de seus advogados é que a presidência e a vice são figuras jurídicas distintas, cada qual com suas contas e campanhas. Além disso, a sigla pretende argumentar que ninguém pode ser punido por um crime cometido por outro pessoa. Se a chapa for impugnada, o primeiro recurso do PMDB será para que sejam mantidos os diplomas dos dois.

O tom crítico ao governo no encontro pode ser medido por uma frase do deputado Lúcio Vieira Lima (BA): "O PMDB não tem dono", disse, repetindo um dos slogans da reunião, "mas está alugado", acrescentou, numa referência a que o partido é parte governo e parte oposição. "O afastamento não será aqui. Hoje é o caldo de cultura que engrossa um pouco mais", disse o ex-ministro Geddel Vieira Lima, irmão de Lúcio.

O presidente da Fundação Ulysses Guimarães, Moreira Franco, resumiu em uma frase as críticas tanto aos opositores internos do PMDB como as queixas feitas pelo PT contra seu parceiro. "Nosso documento tem os mesmos fundamentos macroeconômicos da carta aos brasileiros", que Lula lançou em 2002 para acabar com as desconfianças que o empresariado à época tinha sobre sua candidatura. "Entre ela e o documento 'Uma Ponte Para o Futuro' há vários traços em comum", disse Moreira. "Ambos surgiram para dar resposta a crises de confiança e, em decorrência delas, a escolhas equivocadas e crises econômicas, ambos trabalham com as mesmas premissas para retomar o desenvolvimento do país.

Prudente, Temer procurou evitar um tom de disputa com o Planalto: o PMDB "não vai sair para lançar um candidato próprio na eleição presidencial de 2018. "Queremos fazer do PMDB um partido. Partido que vem de parte. Uma parcela da opinião pública que pensa de uma maneira e quer chegar ao poder. Então nós estamos fazendo algo que não se fez, penso eu, ao longo do tempo", afirmou.

Temer classificou como "natural" uma ala da sigla pedir o rompimento com o governo da presidente Dilma Rousseff. " Mesmo essas pessoas que querem a saída do governo, querem colaborar com o país e este programa que estamos fazendo é um programa para o país", observou. o deputado Eduardo Cunha também defendeu a elaboração doo projeto. "O PMDB não pode se furtar de debater seu destino", disse. "O partido terá candidato próprio em 2018. Isso é inevitável".

No PMDB, atos pró-impeachhment

Em congresso do PMDB, grupos que defendem o impeachment criticaram a presidente Dilma e houve também gritos de “Fora Cunha”.

Manifestantes pró-impeachment constrangem congresso do PMDB

  • Grupos criticam Dilma e levam cartazes com inscrição ‘Temer, veste a faixa já’

Maria Lima e Simone Iglesias - O Globo

-BRASÍLIA- Ao aceitar no congresso da Fundação Ulysses Guimarães a presença de integrantes do Movimento Brasil Livre (MBL) e da Aliança Nacional dos Movimentos Democráticos, o PMDB, maior aliado do governo, e o vice-presidente Michel Temer passaram ontem por constrangimento diante de manifestações agressivas contra a presidente Dilma Rousseff e de cartazes com a inscrição “Temer, veste a faixa já”.

Apesar de ter se mostrado envaidecido com as manifestações iniciais de apoio de peemedebistas, o vice-presidente ficou visivelmente constrangido com os manifestantes pró-impeachment, que levaram bonecas infláveis da presidente com uma máscara preta e a inscrição “mãe do petrolão”. Os manifestantes e parte da juventude do PMDB também vaiaram e gritaram “Fora, Cunha” para o presidente da Câmara, que esteve o tempo todo ao lado de Temer e de outros líderes do partido na Mesa.

Só três ministros foram ao congresso
O mote do Congresso foi “O PMDB tem voz e não tem dono”. Apesar do clima belicoso do evento em relação ao Planalto, o vice-presidente afirmou que qualquer ruptura com o governo, como pregaram nos discursos integrantes da ala rebelde do partido, só ocorrerá em 2018, quando o PMDB pretende disputar a eleição para presidente da República. Ainda assim, a cúpula do partido considerou que esse foi o primeiro gesto oficial de descolamento do governo e da aliança com o PT. Temer afirmou considerar “natural” que peemedebistas queiram deixar o governo Dilma, mas disse que isso é assunto para depois.

— Isso vai ser discutido em 2017, 2018. Só em 2018 mesmo. Temos que colaborar com o país, mesmo as pessoas que querem sair do governo querem colaborar com o país — afirmou, retomando mais tarde: — Para não encolhermos diante de demagogias fáceis, não podemos colocar os interesses pessoais na frente dos interesses do país.

Um assessor palaciano, porém, admite que Temer está distanciado de Dilma e que a confiança mútua está abalada desde que ele deixou a articulação política do governo. Mas diz que a petista não vislumbra o agravamento da relação. Para o governo, a hipótese do impeachment há tempos não parece tão remota quanto agora. Um interlocutor da presidente diz que ela refuta, veementemente, a tese de que Temer trama, nos bastidores, um plano para assumir a Presidência.

Dos sete ministros do PMDB, apenas três compareceram ao congresso: Eliseu Padilha (Aviação Civil); Helder Barbalho (Portos) e Henrique Alves (Turismo). Temer disse que o programa feito pelo PMDB está à disposição do governo:

— Esse programa pode ser uma colaboração ao governo. Nos sentiremos extremamente gratificados e recompensados. É um documento democrático, transparente e mira os interesses do Brasil.

Logo que entrou no plenário ao lado de Temer, Cunha foi alvo de discreta vaia. Após a execução do Hino Nacional, foram ouvidos alguns gritos de “Fora, Cunha”. E quando seu nome foi anunciado para discursar, a vaia foi um pouco mais intensa, comandada pelos manifestantes do MBL e da Aliança Nacional dos Movimentos Democráticos. No discurso, Cunha disse que o PMDB não participa e não tem compromisso com os rumos do governo:

— Ninguém tem mais dúvida que o PMDB terá que buscar seu caminho próprio. Inevitável que tenha candidato em 2018. Essa voz não pode ser calada por quem tem meia dúzia de carguinhos.

À tarde, ao encerrar uma sessão promovida pela deputada Benedita da Silva (PT-RJ) no plenário da Câmara, Cunha voltou a ser vaiado, desta vez pelas participantes de um debate sobre a realidade das mulheres negras no país.

O presidente do Conselho de Ética, José Carlos Araújo (PSD-BA), convocou para amanhã a sessão para leitura do parecer preliminar do relator Fausto Pinato (PRB-SP) que pede a continuidade da investigação contra Cunha. (Colaboraram Isabel Braga e Catarina Alencastro)

Partido mantém um pé em cada canoa

• PMDB aumenta sua participação no governo, enquanto tenta se descolar para voo solo em 2018

Fernanda Krakovics - O Globo

Essa não é a primeira vez que o PMDB critica a política econômica de um governo do qual faz parte e ameaça desembarcar. O partido divulgou oficialmente ontem o documento “Uma ponte para o futuro”, na contramão do que vem sendo implementado pela presidente Dilma Rousseff.

Os peemedebistas fizeram o mesmo em março de 2004, no início da gestão Lula. O pano de fundo era a pressão por mais ministérios. Agora, o partido tenta o malabarismo de aumentar sua participação no governo, ao mesmo tempo em que deseja se descolar de uma administração impopular e preparar candidatura própria para 2018.

Um dos personagens centrais continua sendo o presidente do PMDB, Michel Temer, dessa vez com atuação pública mais discreta, devido ao cargo de vice-presidente da República. Há 11 anos, quando a Executiva Nacional do partido divulgou uma nota com críticas à política econômica, Temer foi um dos porta-vozes da ameaça de rompimento.

O texto “Uma ponte para o futuro” foi gestado quando um processo de impeachment contra Dilma parecia iminente, e Temer seria o beneficiário imediato. Esse clima político refluiu, e o PMDB amenizou o tom beligerante.

O ensaio de independência feito ontem acontece 46 dias depois de o partido ter conquistado o disputado Ministério da Saúde. É dessa contradição e da divisão interna entre governistas e oposicionistas que o PMDB tira sua força, ficando com um pé em cada canoa.

Dilma não recebe pemedebista sozinho há 45 dias

Por Andrea Jubé - Valor Econômico

BRASÍLIA - Contrariando recomendações do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a presidente Dilma Rousseff tem se distanciado do vice-presidente Michel Temer, presidente nacional do PMDB. Dilma e o pemedebista não se reúnem, reservadamente, desde a reforma ministerial, há mais de 45 dias, e têm se falado por interlocutores. O último encontro, na presença de ministros, foi em uma reunião da coordenação política há três semanas.

Dilma e Temer nunca foram próximos. A relação cortês estreitou-se quando ele assumiu a função de coordenador político do governo em abril, num dos momentos mais agudos da crise política. Mas, no auge da instabilidade, quando o impeachment avizinhou-se e Temer declarou que era preciso alguém que "reunificasse" o país, os cristais trincaram de ambos os lados.

A última vez em que ambos se reuniram a portas fechadas foi em 1º de outubro, quando definiram os novos ministros do PMDB, que ampliou sua cota na Esplanada para sete pastas. A última vez em que participaram de uma reunião juntos foi em 26 de outubro, na coordenação política. Depois disso, Temer ausentou-se por duas reuniões: na primeira vez, porque ficara em São Paulo. Depois, embarcou para uma visita oficial a Angola.

Coube ao ministro da Casa Civil, Jaques Wagner, repassar ao vice o pedido de Dilma para que ele comandasse a reunião da coordenação política dessa segunda-feira, já que ela estava ausente, na Turquia, no encontro do G-20.

Nenhum auxiliar de Dilma apreciou o congresso do PMDB realizado ontem, em que lideranças da sigla desfiaram críticas ao governo e defenderam o rompimento da aliança antes do final do mandato em 2018. Mas Temer já havia mostrado à presidente, e ao ministro Joaquim Levy, o plano econômico que o PMDB começou a discutir ontem.

A renúncia de Temer à coordenação, alegando que já conseguira aprovar o ajuste fiscal no Congresso, coincidiu com a assunção do PT à coordenação política do governo, colocando à prova o tripé formado por Jaques Wagner (Casa Civil) e Ricardo Berzoini (Secretaria de Governo) e Giles Azevedo. Foi um "teste" para o desempenho do PT nas votações relevantes no Congresso, diz um pemedebista próximo ao vice.

Mas uma fonte do palácio ressalta que tanto Wagner quanto Berzoini mantêm relacionamento próximo a Temer. Foi Wagner quem pediu ao vice que promovesse um almoço no Palácio do Jaburu com os presidentes das duas Casas legislativas, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e Renan Calheiros (PMDB-AL). Era o dia 14 de outubro, e Cunha ameaçava assinar o requerimento de impeachment.

Num jantar recente com jornalistas na casa da senadora Marta Suplicy (PMDB-SP), Temer disse que mantém boa relação com Dilma no plano pessoal. Mas ele tem seus pruridos e excesso de formalidade.

Na recente visita do príncipe herdeiro da Noruega, Haakon, Temer não quis usar o gabinete de Dilma para receber o integrante da família real europeia, para evitar especulações de que estaria tentando posar de presidente da República na ausência da titular, embora fosse o mandatário no exercício da Presidência.

À imprensa, disse que evitou o gabinete de Dilma por uma "questão de gênero", pois não se sentiria à vontade de invadir o espaço de uma mulher. "É um pequeno preconceito meu, mas a favor", justificou. "Eu entrar na sala dela, sentar à mesa dela, pareceu-me inadequado".

Temer voltou, na ocasião, a se explicar sobre a declaração que provocou a desconfiança de Dilma e do PT. Ele disse que a intenção era que alguém pudesse lançar uma mensagem de reunificação do país.

"Que se reúnam para impedir o desastre, mas esse alguém foi interpretado como sendo eu, e não era". Temer relata que, após o ocorrido, Dilma lhe disse: "não se preocupe com isso, te conheço". Mas, para dilmistas, a frase continua mal explicada.

Vice tentará se salvar se cassação da chapa vingar

Daniela Lima, Valdo Cruz – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - Aliados de Michel Temer (PMDB-SP) admitem que ele vai pedir a separação das contas da campanha de 2014 à Justiça Eleitoral, caso receba sinais claros de que o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) caminha para condenar as finanças do comitê da presidente Dilma Rousseff.

Uma decisão da corte nesse sentido poderá cassar a chapa de Dilma e Temer, com base nas acusações de que houve abuso de poder econômico e político na última disputa presidencial.

Os peemedebistas que falaram sobre o assunto com o vice dizem que, nesse cenário, ele avalia ser melhor "tentar salvar alguma coisa" do que deixar todo o governo afundar com a petista.

A articulação foi abordada no último sábado na edição da revista "Veja" e confirmada pela Folha. Temer consultou especialistas e agora trabalha para criar uma estratégia jurídica que sustente a separação das contas.

Mesmo aliados do vice reconhecem que será difícil convencer o TSE a condenar apenas Dilma e anistiar Temer da responsabilidade sobre as contas da campanha.

Segundo eles, a legislação é clara ao afirmar que o comitê da chapa presidencial é único. Ainda assim, a estratégia é ressaltar que Temer e o PMDB tinham seu próprio tesoureiro, além de um esquema exclusivo de arrecadação e gastos de campanha.

Os peemedebistas dizem ainda que a sigla não optava nem deliberava sobre as receitas e as despesas feitas pelo comitê de Dilma.

Os aliados do vice buscam jurisprudência eleitoral e do STF (Supremo Tribunal Federal) que possam ajudar a sustentar essa linha.

Evento do PMDB tem crítica a próprio programa e defesa de ruptura com PT

Gustavo Uribe, Daniela Lima – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - Evento tido como o primeiro passo para a ruptura do PMDB com o PT, o congresso da Fundação Ulysses Guimarães, centro de estudos do partido, tornou-se palanque nesta terça-feira (17) de discursos favoráveis ao desembarque imediato do partido da gestão Dilma Rousseff e contrários ao programa econômico lançado pelo vice-presidente Michel Temer.

Em plenário, no qual os microfones foram abertos para os peemedebistas fazerem críticas ao governo federal, dirigentes e parlamentares da tendência oposicionista da legenda pregaram a substituição de Dilma por Temer e culparam a administração federal pela atual crise econômica.

Em discurso, o ex-ministro Geddel Vieira Lima avaliou como um erro o partido ter apoiado a reeleição da presidente no ano passado e considerou que ele se transformou em compartícipe de um "estelionato eleitoral". Segundo ele, o governo federal não cumpriu promessas de campanha eleitoral como a redução dos juros e o controle da inflação.

"O impeachment ou não impeachment não depende da gente, mas tem algo que depende. Não é o afastamento da Dilma Rousseff da presidência da República, mas o afastamento do PMDB dela, para que possamos construir um partido que tenha discurso", disse.

Em linha semelhante, o deputado federal Darcísio Perondi (PMDB-RS) avaliou que o país está à beira de uma "depressão econômica" e defendeu o afastamento da presidente do Palácio do Planalto.

"Nós achamos que do jeito que está não dá e achamos que o Michel Temer está preparado para assumir o pós-impeachment da Dilma Rousseff", disse. "Se não houver essa mudança em até seis meses, o país vai piorar. Ou vocês acreditam em mudanças com o sistema que está no Palácio do Planalto?", questionou.

Apesar da tentativa do vice-presidente conter as críticas contra o programa "Uma Ponte para o Futuro, que propõe medidas econômicas contrárias às adotadas pelo governo federal, o documento partidário sofreu ataques de peemedebistas.

Em discurso duro, o senador Roberto Requião (PMDB-PR) disse que rejeita de forma "completa" e "absoluta" as medidas econômicas e afirmou que, pelo teor conservador, documento não seria redigido nem pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso nem pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy.

"O documento é submisso a uma política global de dominação e a precarização do estado e do trabalho. Esse documento não representa o PMDB", disse. "É um documento pior do que as piores posições do Levy e do PSDB", acrescentou.

Na abertura do congresso, o presidente da Fundação Ulysses Guimarães, Moeira Franco, tentou amenizar as críticas ao documento e ressaltou que ele não é definitivo e que sofrerá alterações até a convenção nacional do PMDB, em março.

Temer usará o congresso para fazer um novo apelo pela reunificação do país em nome da superação da crise econômica. Na última vez em que defendeu o engajamento das diversas forças políticas na superação da crise, o peemedebista incomodou aliados da presidente que viram no gesto dele uma tentativa de se colocar como o agente capaz de promover essa união.

Segundo aliados, Temer vai reconhecer a gravidade da situação das contas públicas, defenderá a adoção de remédios amargos para reajustar a economia e endossará as propostas feitas no programa de governo lançado em outubro pela Fundação Ulysses Guimarães

PMDB não vai sair do governo federal, afirma Michel Temer

Gustavo Uribe Daniela Lima – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - Em meio ao debate interno no PMDB sobre a possibilidade do partido desembarcar do governo Dilma Rousseff, o vice-presidente Michel Temer avaliou nesta terça-feira (17) como natural que a legenda realize essa discussão, mas ressaltou que a sigla não desembarcará da administração federal.

No congresso da Fundação Ulysses Guimarães, centro de estudos do partido, o peemedebista pregou a necessidade de, diante do atual cenário de crise econômica, haver uma "pacificação" e uma "unificação" no país. Segundo ele, os partidos políticos têm neste momento de pensar na união nacional "para não dividir o país".

"Isso é natural (debate sobre desembarque). Nós temos de colaborar com o país e, mesmo as pessoas que querem a saída do governo federal, querem colaborar com o país", disse. "(O PMDB) não vai sair", acrescentou, ao ser perguntado sobre a possibilidade de ruptura com o PT.

O evento, tido como o primeiro passo para o desembarque oficial do partido do governo federal, tornou-se palanque nesta terça-feira (17) de discursos favoráveis ao desembarque imediato da gestão Dilma Rousseff e contrários ao programa econômico lançado pelo vice-presidente, chamado de "Uma Ponte para o Futuro".

Em plenário, no qual os microfones foram abertos para os peemedebistas fazerem críticas ao governo federal, dirigentes e parlamentares da tendência oposicionista da legenda pregaram a substituição de Dilma por Temer e culparam a administração federal pela atual crise econômica.

"O impeachment ou não impeachment não depende da gente, mas tem algo que depende. Não é o afastamento da Dilma Rousseff da presidência da República, mas o afastamento do PMDB dela, para que possamos construir um partido que tenha discurso", disse o ex-ministro Geddel Vieira Lima.

Em linha semelhante, o deputado federal Darcísio Perondi (PMDB-RS) avaliou que o país está à beira de uma "depressão econômica" e defendeu o afastamento da presidente do Palácio do Planalto.

"Nós achamos que do jeito que está não dá e achamos que o Michel Temer está preparado para assumir o pós-impeachment da Dilma Rousseff", disse. "Se não houver essa mudança em até seis meses, o país vai piorar. Ou vocês acreditam em mudanças com o sistema que está no Palácio do Planalto?", questionou.

PSDB quer provocar PT para um "debate na área social", diz Aécio

Por Thiago Resende – Valor Econômico

BRASÍLIA - Ao divulgar um plano de ações para superar a crise, o PSDB quer "chamar o PT para um debate no campo social", afirmou o presidente nacional do partido, senador Aécio Neves (MG), ao Valor PRO, serviço de informações em tempo real do Valor.

O documento vai reunir as propostas que foram discutidas durante a campanha eleitoral ao Palácio do Planalto em 2014, quando Aécio perdeu para a presidente Dilma Rousseff. O tucano informou que o programa, com um diagnóstico da crise econômica e com propostas para o país, será publicado no dia 8 de dezembro.

Uma pesquisa para consumo interno do PSDB apontou que a parcela da população que saiu da pobreza está regredindo em velocidade maior. O estudo mostrou ainda que os brasileiros têm necessidade permanente de ver uma agenda propositiva e, por isso, o PSDB "vai sinalizar com caminhos".

"Queremos debater que a distribuição de renda não emancipa ninguém se a pobreza não for analisada também pela vertente de privação da educação, qualificação, serviços de qualidade e ambiente econômico estável, que permita investimentos e geração de empregos", disse Aécio. O lançamento do documento em dezembro foi divulgado na semana passada, quando o presidente da legenda se reuniu com deputados na Câmara que são pré-candidatos no pleito municipal do próximo ano.

O plano a ser divulgado no começo do próximo mês se alinha ao projeto do PMDB, chamado de "Uma ponte para o futuro", como uma reação dos principais partidos políticos diante da constatação de que o risco de impeachment da presidente Dilma refluiu e se antecipando às eleições de 2018. Os documentos buscam questionar a política econômica e gestão da petista.

Ontem, no mesmo dia em que o PMDB se reuniu em Congresso para debater um programa de governo e dar mais um passo no descolamento com o Palácio do Planalto, Aécio convocou as bancadas do PSDB na Câmara e no Senado para apresentar a pesquisa de avaliação do cenário político no Brasil, que foi feita pelo Instituto GPP. Os detalhes do levantamento não foram divulgados para a imprensa.

Segundo parlamentares, a avaliação política dos dados é favorável ao PSDB nas próximas eleições. O levantamento vai servir também para traçar estratégias para o pleito municipal no próximo ano.

Deputados afirmaram que os dados não colocam o PMDB como grande força política, pois o partido do vice-presidente Michel Temer tem rejeição e apoio moderados.

"O PMDB quase não aparece. Time que não joga não tem torcida", brincou um tucano. O PMDB não tem candidato próprio a presidente desde 1994.

O PT, contudo, "está em falência" com os efeitos da crise econômica, principalmente, nos últimos dois anos; com a corrupção e a avaliação de que o PT mentiu durante a campanha eleitoral do ano passado, afirmam parlamentares tucanos.

"Quase todos os eleitores continuariam votando no Aécio no segundo turno, enquanto que 67% dos que elegeram Dilma se arrependeram", cita um deputado sobre a pesquisa apresentada por Aécio.

Nesse cenário de fragilidade do governo Dilma, o PSDB vê um "futuro promissor" para 2016 e também para 2018, classificou o senador.

Ex-ministro admite que agendou reunião entre Lula e lobista preso na Zelotes

• Gilberto Carvalho diz que Marcondes representava indústria automobilística

Jailton de Carvalho - O Globo

O ex-ministro Gilberto Carvalho admitiu ter agendado conversas de Lula com o lobista Mauro Marcondes, da Anfavea, em 2009. Marcondes foi preso na Operação Zelotes. -BRASÍLIA- O ex-secretário-geral da Presidência Gilberto Carvalho afirmou que provavelmente agendou conversas do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva com o lobista Mauro Marcondes, vice-presidente da Anfavea (Associação Nacional de Fabricantes de Veículos Automotores) em 2009, durante discussões sobre a medida provisória (MP) de isenção fiscal para montadoras. Segundo Carvalho, Lula tratou da MP com vários representantes da indústria automobilística, entre eles Marcondes. O ex-ministro negou qualquer irregularidade no agendamento da reunião e nas tratativas.

— Não tenho cópia da agenda do presidente (Lula) aqui comigo. Mas digo que é possível, sim, que o presidente Lula tenha recebido o Mauro Marcondes como recebeu dezenas de outros empresários do setor. Era um assunto de alto interesse do país. O ridículo, a vergonha para quem conhece a tramitação de uma medida provisória, é achar que tem alguma coisa errada do gabinete do presidente nisso aí — disse Carvalho ao GLOBO.

Carvalho prestou depoimento à Polícia Federal sobre o assunto em 26 de outubro. No depoimento, ele disse que intermediou reunião de Marcondes com Lula. Ontem, ele reafirmou o conteúdo das declarações à polícia. O ex-ministro disse que agendar reuniões entre Lula e empresários era uma das atribuições funcionais dele. E argumentou que Marcondes o procurou como representante da Anfavea e, assim, era natural que fosse recebido por Lula para discutir assunto relacionado às montadoras.

Marcondes é um dos seis lobistas presos pela PF no mês passado, na Operação Zelotes. Ele é acusado de intermediar a compra de trechos de uma MP favoráveis a Caoa, representante da Hyundai, e da MMC, a fábrica da Mitsubishi no Brasil. Uma das empresas de Marcondes, a Marcondes & Mautoni fez pagamentos de R$ 2,4 milhões a Luis Claudio Lula da Silva, um dos filhos de Lula, em 2014, a título de prestação de serviços relacionado a marketing esportivo.

Presidente condiciona permanência de Levy

• Permanência do ministro da Fazenda no cargo está condicionada a uma melhora na economia em 2016

Tânia Monteiro - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - A permanência do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, no cargo está condicionada a uma melhora na economia em 2016. Para a presidente Dilma Rousseff, neste momento, Levy ainda tem missões para cumprir e contou a favor, por exemplo, a nova vitória obtida nesta terça-feira por ele, no Congresso, ao aprovar na Comissão Mista de Orçamento a nova meta fiscal de 2015.

Mas Dilma gostaria, segundo auxiliares, que Levy mudasse sua forma de agir, mostrando o que está sendo feito para retomar o crescimento do País e apontar caminhos para tornar isso viável. Para ajudar nessa estratégia, a presidente tem reforçado a defesa da recriação da CPMF, uma das propostas consideradas fundamentais pelo ministro para dar um fôlego às contas públicas.

A ideia é que Levy apresente um discurso mais otimista, apontando para um futuro melhor em 2016, e não se limitando apenas a falar de “ajuste, ajuste e ajuste”. Dilma entende que as vitórias obtidas por Levy fortalecem ela própria e o governo.

Na avaliação da presidente, ela e Levy têm, cada qual, um papel a desempenhar. Apesar de toda a aposta e pressão para a saída de Levy, Dilma tem resistido e, se o ministro for bem-sucedido nas missões, poderá ir ficando no cargo porque nem Dilma quer tirá-lo nem ele quer sair. Prova disso é que Levy continua se empenhando para aprovar projetos importantes para a economia no Congresso e tem tido vitórias, como a desta terça-feira.

Acerto. As declarações de Levy e Dilma foram combinadas. No domingo, o ministro anunciou que tinha o respaldo de Dilma e que ficaria no cargo “até segunda ordem”. Isso foi acertado entre ambos. 

No dia seguinte, ela fez questão de reiterar a permanência de Levy. Depois do endosso de Dilma a Levy, na segunda, em Antália, na Turquia, saíram juntos e ela o convidou para irem no mesmo carro até o aeroporto, de onde voaram também juntos para o Brasil, na cabine presidencial.

A relação entre Dilma e Levy está boa e a viagem à Turquia, onde os dois participaram das reuniões do G-20, ajudou a aproximá-los e a melhorar o clima entre eles, que voaram cerca de 14 horas durante todo o trajeto de volta ao País.

Dilma tem resistido às pressões para substituir Levy e, desta vez, ela demorou mais do que nas vezes anteriores para sair em defesa do seu titular da economia. A defesa de Levy, também, não veio com a mesma ênfase de situações anteriores, quando a presidente chegou a dizer que ele era o “fiel da economia”. 

Desta última vez, ela se limitou a dizer que Levy “fica onde está”. Nesta mesma declaração, a presidente fez questão de demarcar espaço no governo por causa da interferência do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que insiste no nome do ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles. / Colaborou João Villaverde

Menos R$ 42 bilhões para gastar

• Ganhos dos trabalhadores nas 6 maiores metrópoles do país devem recuar 2 anos seguidos

Ana Paula Ribeiro - O Globo

-SÃO PAULO-A saída encontrada pelo especialista em rede de dados Valdnei Dias Batista para chegar ao final do mês sem entrar no vermelho foi controlar com mão de ferro seus gastos. As idas ao cinema e teatro foram reduzidas, o carro foi deixado em casa e ele passou a ir trabalhar de moto. No supermercado, está atento às promoções, além de optar por marcas mais baratas. Tudo isso para lidar com o aumento dos preços e com a perspectiva de que o reajuste de salário não será suficiente para compensar essa inflação.

— Ainda consigo me virar porque não perdi o emprego, mas tive que diminuir o meu padrão de gastos. Estou fazendo isso há quatro meses, sendo mais seletivo — disse, acrescentando que a prioridade é manter as duas filhas, que moram com a ex-mulher, em escola particular.

O comportamento de Batista é reflexo do cenário atual. Com desemprego, inflação e menores reajustes salariais, a massa real de rendimentos, ou seja, a soma dos ganhos de todos os trabalhadores, deve atingir este ano o seu menor nível desde 2011. Cálculos do Santander mostram que esse total de salários terá dois anos seguidos de queda e atingirá no ano que vem R$ 600 bilhões, levando em conta os ganhos nas seis principais regiões metropolitanas brasileiras, acompanhadas pelo IBGE na Pesquisa Mensal de Emprego.

Consumo menor e inadimplência
Segundo Rodolfo Margato, economista do Santander, o resultado nas maiores metrópoles do país reflete o ganho dos trabalhadores em todo o país. A redução de R$ 42 bilhões na massa salarial metropolitana — sendo de R$ 26 bilhões em 2015 e de R$ 16 bilhões no próximo ano — terá efeitos diretos no consumo das famílias.

A perda no rendimento das famílias é consequência direta do aumento do desemprego, que tende a se intensificar no próximo ano, ficando em torno de 10% — em setembro estava em 7,6% nas metrópoles. Com o mercado de trabalho mais fraco, quem está empregado tende a receber reajustes anuais abaixo da inflação, que está em 9,9% no acumulado de 12 meses encerrados em outubro. E, com mais trabalhadores desempregados, a soma dos rendimentos de quem está ocupado fica menor.

— Tudo isso faz com que haja um impacto no consumo das famílias e isso já aparece em alguns setores do varejo. Outro impacto será a inadimplência, que deve começar a subir no ano que vem por conta do desemprego e do orçamento mais apertado das famílias — diz Margato.

Se no início o trabalhador mais atingido por esse cenário era o da construção civil e da indústria de transformação, setores em que o corte de vagas é maior, agora os profissionais de outras áreas também começam a conviver com o fantasma do desemprego. No comércio e no varejo, esse processo já teve início. E mesmo quem mantém o emprego está vendo o seu salário ser corroído pela inflação ou pela perda de renda de alguém do mesmo núcleo familiar.

— O enfraquecimento da economia reduz o poder de barganha dos trabalhadores. Há uma substituição de mão de obra mais cara pela mais barata. Os dissídios salariais também tendem a ficar abaixo da inflação. Esperamos recuperação da massa de rendimentos só em 2017, quando deve crescer 2,3% — prevê o economista.

Essa alta, no entanto, não seria suficiente para compensar os recuos esperados para 2015 (-4%) e 2016 (-2,6%).

Com menos recursos no bolso, o trabalhador acaba comprando menos. A primeira categoria de produtos atingida foi a de bens duráveis, como automóveis e eletrodomésticos, que dependem muito de compras com financiamento. A segunda etapa foi reduzir gastos com calçados e vestuário. Por último, o carrinho de supermercado começou a mudar, passando a ter menos itens e marcas mais baratas.

O economista-chefe do Haitong Banco de Investimento, Jankiel Santos, lembra que não há uma expectativa de recuperação no padrão de compra das famílias.

— No ano passado, não havia retração de consumo em itens não atrelados ao crédito, como combustíveis e alimentos. Este ano começa a acontecer. É um processo que não tem uma reversão tão rápida — avaliou.

Remédio é último a ser cortado
A Pesquisa Mensal de Comércio, do IBGE, mostra que as vendas de veículos, motos e peças estão em forte queda desde março de 2014. Já o comércio de móveis vem encolhendo mensalmente desde julho do ano passado. No ramo de roupas e calçados, as perdas começaram em dezembro de 2014 e, nos supermercados e hipermercados, em janeiro deste ano. Já as farmácias registraram no último mês de setembro a primeira queda nas vendas de toda a série histórica, inciada em 2004.

— O consumo varia de acordo com a renda e o crédito disponível. Nenhum dos dois está crescendo. Com certeza, o carrinho do consumidor vai encolher — afirmou Ana Paula Tozzi, presidente da GS&AGR Consultores.

Já pensando nessa piora, a microempreendedora Maria de Lourdes Teixeira Aires das Neves, moradora da Parada de Lucas, no Rio, precisou mudar os seus hábitos. Além de cortar alguns itens das compras de supermercado e optar por marcas mais baratas, ela também levou a economia para a sua lanchonete. Com queda no movimento, decidiu abrir apenas de quinta a domingo. Com isso, cortou pela metade o gasto com energia.

— O movimento está fraco porque as pessoas estão perdendo o emprego e não vão gastar com o que não é essencial. Estou economizando tanto em casa como na loja — conta.

Marcelo Anache, coordenador do curso de Ciências Econômicas da Universidade Mackenzie no Rio, acredita que uma mudança no cenário virá apenas em 2017. Além da recuperação da economia, é preciso elevar a confiança do consumidor, que está no pior patamar da história, destaca Anache.

— Quando há muita incerteza e falta de confiança, o consumidor não vai querer consumir. Não vai contrair uma dívida de longo prazo. Porém, se a perda de confiança acontece de forma rápida, a sua retomada é lenta. Só devemos ver alguma melhora em 2017 — avalia.

Queda na atividade econômica faz arrecadação encolher 11,3%

• Foram R$ 103 bi em outubro, menor valor para o mês desde 2009

Martha Beck - O Globo

-BRASÍLIA- A recessão econômica voltou a derrubar a arrecadação de impostos e contribuições. A Receita Federal informou ontem que o total pago em tributos no país em outubro foi de R$ 103,530 bilhões, o que significa uma queda real (já descontada a inflação) de 11,33% em relação ao mesmo mês de 2014. Foi o pior número registrado para um mês de outubro desde 2009. Nos dez primeiros meses do ano, o valor atingiu R$ 1,004 trilhão e recuou 4,54% sobre o ano passado, o resultado mais baixo desde 2010.

O percentual de queda da arrecadação em outubro foi o maior do ano. Segundo o chefe do Centro de Estudos Tributários da Receita, Claudemir Malaquias, o governo já esperava um número ruim, mas outubro representou “um salto”. Ele afirmou que esse comportamento se deve ao agravamento na retração do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos no país):

— As nossas previsões já embutiam um resultado negativo, mas em outubro houve um salto. O comportamento está em linha com o desempenho ruim da economia.

A recessão reduz a produção, as contratações de trabalhadores, as vendas e os ganhos das empresas, fazendo com que paguem menos impostos. Um exemplo é o Imposto de Renda da Pessoa Jurídica (IRPJ) e a Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL), tributos que refletem a lucratividade das companhias. A arrecadação de ambos somou R$ 18,098 bilhões em outubro, recuo de 14,79% sobre 2014. No ano, o total recolhido com IRPJ e CSLL foi de R$ 159,581 bilhões — queda de 12,69% na mesma comparação.

O PIS/Cofins e a contribuição previdenciária também pesaram no forte recuo da arrecadação de outubro. Segundo os dados da Receita, o recolhimento do PIS/Cofins — que reflete o comportamento das vendas no varejo — foi de R$ 21,356 bilhões no mês, 10,03% menos que em igual período de 2014. No ano, a queda é de 3,67%.

Crise em empresas de todos os portes
Já a contribuição previdenciária somou R$ 29,008 bilhões no mês, retração de 9,48% sobre 2014. Entre janeiro e outubro, o recuo foi de 5,37%.

— Os três (PIS/Cofins, receita previdenciária e IRPJ/CSLL) concentram o desempenho negativo da arrecadação — explicou Malaquias.

O técnico da Receita destacou que a arrecadação do IRPJ e da CSLL mostrou que empresas de todos os portes estão sendo afetadas pela crise econômica. O recolhimento desses dois tributos por estimativa mensal (que costuma ser feito por grandes empresas) caiu 14,26% entre janeiro e outubro. Já o recolhimento com base no lucro presumido (feito por companhias de médio e pequeno porte) encolheu 9,38% no mesmo período.

— A gente não vê nenhum segmento que não esteja sendo afetado pela contração da atividade econômica — disse.

Malaquias não quis adiantar se o governo vai rever as projeções para arrecadação no último relatório bimestral de receitas e despesas, que será divulgado sexta-feira. Segundo o técnico, a Receita já vinha trabalhando com uma estimativa de queda significativa:

— Pode ser que o número (do próximo relatório) não se altere tanto em relação ao que já está no relatório bimestral de receitas e despesas anterior, divulgado no dia 22 de setembro.

Mesmo assim, Malaquias admitiu que a arrecadação de 2015 deve fechar o ano com uma queda acima da esperada para o PIB, que é de 3,1%, segundo o mercado financeiro.

PMDB da Câmara lidera voto contra o governo no reajuste ao Judiciário

• Dos 52 votantes da sigla, metade dos peemedebistas apoiaram a queda do veto, 23 pela manutenção e ainda houve três abstenções

Ricardo Brito e Daiene Cardoso - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - A bancada do PMDB da Câmara, principal agraciada na reforma ministerial da presidente Dilma Rousseff, liderou o voto contra o governo pela derrubada do veto do reajuste dos servidores do Poder Judiciário. Dos 52 votantes, metade dos peemedebistas apoiaram a queda do veto, 23 pela manutenção e ainda houve três abstenções. Foi o maior apoio, em número absoluto, de um partido da base contra o Palácio do Planalto.

Parlamentares reclamaram do baixo quorum da votação na sessão conjunta e da rapidez com que o presidente do Congresso, senador Renan Calheiros (PMDB-AL), fez a votação - 15 minutos entre abrir e fechar a contagem dos votos. Dos 513 deputados, 394 votaram - 76,8% do total. Ao todo, 119 deputados não participaram da votação.

Por apenas seis votos, o veto foi mantido com o apoio dos deputados. Na Câmara, foram 251 votos pela derrubada do veto, 132 pela manutenção e outras 11 abstenções. O Senado não votou porque, pelo regimento, eles só votariam caso o veto fosse derrubado pela Câmara. Para serem derrubados, os vetos precisam ter o apoio de pelo menos 257 deputados e 41 senadores.

Os deputados do PP deram 17 votos para derrubar o veto e 12 para mantê-lo. No caso da bancada do PSD, foram 12 votos pela derrubada do veto e sete pela manutenção. O PDT, que foi deslocado na reforma ministerial da pasta do Trabalho para as Comunicações, teve apenas dois votos pela manutenção do veto - oito para derrubá-lo e ainda uma abstenção. O PTB foi outro partido da base a dar mais apoios para conceder o reajuste para a categoria: 10 votos contra sete pela manutenção.

Na base, o PT foi o partido que deu mais apoio. Dos 53 votantes, 41 manifestaram-se favoráveis à manutenção do veto, nove contrários e e três abstenções. No PR, partido que tem o Ministério dos Transportes, entre os 25 votantes, 17 se posicionaram a favor de manter o veto, sete contra e só uma abstenção. Dos 12 votos, o PCdoB anotou oito deles a favor da manutenção do veto, dois contra, sendo um deles o do vice-líder do governo, Orlando Silva (SP), e ainda duas abstenções.

Os dois principais partidos de oposição, PSDB e DEM, votaram em peso pela derrubada do veto. Dos 57 votantes, os tucanos só um deles foi contra - o deputado Samuel Moreira (SP), que em setembro também foi o único a se posicionar a favor na bancada contra o fim do fator previdenciário. Todos os 19 deputados que votaram no DEM foram a favor da derrubada do veto.

Economia brasileira recua 1,41% no terceiro trimestre, aponta BC

Por Eduardo Campos – Valor Econômico

BRASÍLIA - A economia brasileira encolheu no terceiro trimestre, segundo cálculos feitos pelo Banco Central (BC). O quadro recessivo se confirma com a atividade completando quatro trimestres consecutivos de retração. O Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) aponta contração de 1,41% nos três meses encerrados em setembro, em comparação com os três meses anteriores, considerando os dados com ajuste sazonal. Sobre o terceiro trimestre de 2014, houve contração de 5,09%, considerando os dados observados.

No segundo trimestre, a economia já tinha encolhido 2,09% em comparação com os três primeiros meses de 2015 (dado revisado) e recuado 1,05% nos três primeiros meses deste ano em relação aos três últimos meses de 2014.

Em setembro, o IBC-Br diminuiu 0,5%, depois de encolher 0,76% em agosto. A previsão média das 19 instituições ouvidas pelo Valor Data era de contração de 0,5% no mês e baixa superior a 1% no trimestre. As estimativas variavam de retração de 0,03% a 0,8% na leitura mensal.

Na comparação com setembro de 2014, a queda do IBC-Br é de 6,18% na série observada (queda de 5,85% com ajuste). No ano, o IBC-Br aponta queda de 3,38% no dado observado (baixa de 3,37% com ajuste sazonal). Nos 12 meses encerrados em setembro, o indicador aponta retração de 2,76% na série sem ajuste (baixa de 2,73% no dado dessazonalizado). Devido às revisões constantes do indicador, o IBC-Br medido em 12 meses é mais estável do que a medição mensal.

Na média móvel trimestral, indicador mais utilizado para se tentar capturar tendência, o IBC-Br aponta nova retração ao cair 0,46% em setembro após contração de 0,60% em agosto e de 0,35% em julho, na série com ajuste. Sem ajuste, a média móvel aponta baixa de 0,13% em setembro, após elevação de 0,39% em agosto.

Embora seja anunciado como “PIB do BC”, o IBC-Br tem metodologia de cálculo distinta das contas nacionais calculadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O indicador do BC leva em conta a trajetória das variáveis consideradas como bons indicadores para o desempenho dos setores da economia (agropecuária, indústria e serviços). A estimativa do IBC-Br incorpora a produção estimada para os três setores acrescida dos impostos sobre produtos. Já o PIB calculado pelo IBGE representa a soma de todos os bens e serviços produzidos no país durante certo período.

No Relatório de Inflação de setembro, o BC projetou uma queda do PIB de 2,7% em 2015. Os analistas consultados para a confecção do boletim Focus estimam contração de 3,10%.

Merval Pereira:Testando os ventos

- O Globo

Houve de tudo na convenção do PMDB ontem, até mesmo quem defendesse o governo da presidente Dilma, mesmo que o clima fosse de clara dissidência, a começar pelo programa “Uma ponte para o futuro”, que reflete proposta de um governo liberal, diametralmente oposta à do PT, claramente estatizante.

Dilma teve a confirmação de que pode contar com o diretório regional mais influente do partido, o do Rio de Janeiro, que deixou de enviar seus principais líderes, como o governador Pezão e o prefeito Eduardo Paes. Embora o programa de governo, que mais parece um manifesto oposicionista, tenha sido elaborado por outra liderança do Rio, o ex-governador e ex-ministro Moreira Franco.

PT e PMDB formam a base parlamentar de Dilma, mas a prática governamental não atende a nenhum dos programas já apresentados. O do PMDB é uma proposta de governo a ser implementada caso o vice Michel Temer chegue à Presidência da República, com o impedimento de Dilma.

Segundo uns, como o senador Roberto Requião, é um cavalo de Troia que destruirá o PMDB. Outros o veem como uma proposta para o país a qualquer tempo, até mesmo agora, se a presidente Dilma aceitasse.

Alguns pontos são historicamente polêmicos, como o que estabelece um limite para as despesas inferior ao aumento do PIB. A presidente Dilma, quando chefe da Casa Civil, chamou essa proposta de “rudimentar” quando apresentada pelo ministro Antonio Palocci, e, pelo que realizou em seu primeiro governo, não parece ter mudado de ideia.

Ou defende as privatizações e concessões. O vice Michel Temer tentou a todo custo retirar da convenção e do próprio programa um tom de dissidência aberta, garantindo que o PMDB não está saindo do governo. Pela História do PMDB, vai prevalecer a ala que quer permanecer no governo até o momento em que os ventos mudarem de lado, se mudarem.

O PMDB vai tentar sugar os recursos do governo enquanto existir essa possibilidade, mesmo que o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, tenha exortado seus pares a não se deixarem calar “por alguns carguinhos”.

Em outros tempos, o discurso de Cunha pregando o rompimento com o governo teria maior impacto. 

Ontem, provocou algumas vaias e algum desconforto aos que ainda se incomodam em tê-lo na presidência da Câmara. Mas ainda não chegou o dia de abrir mão desses “carguinhos”. Quando chegar, haverá uma corrida peemedebista para a oposição, porque terão farejado a hora de Michel Temer assumir a Presidência devido ao impeachment de Dilma.

O PMDB está saindo aos poucos, buscando uma saída honrosa. Desse ponto de vista, o programa da Fundação Ulysses Guimarães é o melhor instrumento para dar ao partido ares de preocupação institucional com o futuro do país.

Assim como o governo do PT é historicamente cheio de incongruências, também o programa do PMDB revela as divergências internas do partido, mas é um bom sinal que tenha prevalecido até o momento a tendência modernizadora.

O programa sofrerá alterações vindas de todas as seções regionais, até se transformar num documento oficial que será apresentado ao governo. Como a tendência é não ser aceito, vai se transformar em uma proposta de governo caso Michel Temer chegue à Presidência. Ou sinalizará o caminho que um futuro candidato do partido, que segundo Temer “está sendo montado”, deverá adotar na campanha de 2018.

O PMDB vai testando seus movimentos, esticando a corda até ver onde dá. Se não der para mudar, ficarão onde estão, porque, com sete ministérios e a Vice-Presidência, está bom.

Dora Kramer: Nó em pingo d'água

- O Estado de S. Paulo

O encontro que reuniu ontem representantes de todos os diretórios regionais do PMDB para, em tese, debater uma proposta própria para a superação da crise econômica elaborada pela direção, foi o que se pode chamar de uma contradição em termos.

Enquanto a base só queria saber de pregar o rompimento com o governo e o afastamento o quanto antes do PT, a cúpula se fingia de desentendida fazendo de conta que a reunião tratava exclusivamente de assuntos programáticos de natureza econômica, sem qualquer relação com a realidade política. Senão do impeachment – palavra evitada pela maioria –, certamente do desejo e da necessidade de o partido firmar independência em relação ao Palácio do Planalto.

Quem no PMDB é favorável à permanência da aliança com o PT ou não foi ao encontro ou calou-se.

Todos os representantes dos diretórios que falaram nas três salas de debates – uma para discutir o documento “ponte para o futuro”, outra para debater a renovação do estatuto e uma terceira aberta a manifestações de ordem geral – manifestaram-se em prol do rompimento. Essas vozes não tinham o poder de decidir nada, mas a elas foram abertos microfones para que dissessem o que a direção do partido ainda não quer e não pode dizer.

A contradição residiu no fato de o partido discordar profunda e completamente na condução do governo e, ao mesmo tempo, sua direção reafirmar que continua no governo, com sete ministros e dizendo que assim permanecerá até que o partido delibere em contrário.

Pois bem, a última decisão oficial do PMDB foi tomada na convenção do PMDB em 2014, que decidiu pela manutenção da aliança e pelo apoio à reeleição da presidente Dilma. É esta que está valendo, do ponto de vista formal. Portanto, formalmente o PMDB é sócio do atual governo e, em decorrência, de suas de decisões.

O partido argumenta, contudo, que nunca foi consultado sobre as diretrizes de governo. É verdade, mas não foi ouvido desde o começo. Já se passarem quase seis anos, para levar em conta só o governo Dilma. Nesse meio tempo, a despeito de reclamações aqui e ali, o PMDB nunca tomou uma posição. Resolveu tomar agora que o governo está péssimo.

Teria assumido a mesma atitude se a presidente estivesse popular, nadando de braçada? Um palpite: não, com toda e absoluta certeza.

Mínimo detalhe. O encontro do PMDB estava inicialmente marcado para o dia 15 de novembro, data simbólica da Proclamação da República. Foi adiado em dois dias para que não coincidisse com viagem internacional da presidente Dilma.

Até ontem, poucas horas antes do evento, o vice Michel Temer estava no exercício da Presidência o que, de um lado daria margem a especulações conspiratórias e, de outro, poderia resultar em críticas ao senso de oportunidade do vice.

O PMDB preferiu remarcar.

Fava contada. A frase da presidente Dilma Rousseff – “Levy fica onde está” – sobre a permanência do ministro da Fazenda no cargo carece de um complemento: fica até quando?

Na avaliação de um líder do alto escalão governista no Congresso, até se dissipar a impressão de que a saída de Joaquim Levy representa a entrega definitiva do comando ao ex-presidente Lula e surgir a oportunidade para que a presidente possa denotar independência e autoridade na decisão.

Bernardo Mello Franco: Balde de água fria

- Folha de S. Paulo

Se alguém ainda esperava que o PMDB abrisse fogo contra o governo, o encontro de ontem foi um balde de água fria. O partido de Michel Temer baixou o tom sobre a crise e evitou críticas diretas ao PT e à presidente Dilma Rousseff.

O próprio vice se encarregou de resfriar os ânimos. Antes de subir ao palanque, ele declarou à Globo News que Dilma "faz o possível e o impossível para a unidade nacional". Uma mudança sensível para quem se insinuava, em agosto, como o homem certo para "reunificar" o país.

O ex-ministro Moreira Franco, aliado do vice, ainda tentou levantar a bola do impeachment. Ao apresentar o novo programa econômico do PMDB, disse que o documento merecia o apelido de Plano Temer. A fala animou militantes anti-Dilma que assistiam discretamente ao evento.

O pequeno grupo esperou que o vice começasse o discurso para interrompê-lo com gritos de "impeachment" e "Temer presidente". "Por enquanto, não", ele respondeu, constrangido. "Em 2018 nós vamos lançar um candidato, não eu. Eu estou encerrando minha vida pública", desconversou.

A parcimônia pareceu estudada para evitar novos atritos com Dilma. Temer tinha bons motivos. A articulação pelo impeachment refluiu, o incendiário Eduardo Cunha foi vaiado e o auditório estava cheio de peemedebistas com cargos no governo.

No discurso escrito que levou ao evento, o vice se despediria afirmando que o Brasil vive um "grave momento" e que o PMDB sempre escolheu "o lado do povo". Era a senha para novas manchetes belicosas, mas Temer preferiu encerrar a fala sem ler o parágrafo explosivo.
*
No cenário mais favorável a Eduardo Cunha, veteranos do Conselho de Ética preveem um empate de 10 a 10 na próxima terça. Neste caso, o voto de minerva é do presidente José Carlos Araújo, que defenderá a abertura de processo contra o peemedebista.

Luiz Carlos Azedo: O autoengano

• O ministro Joaquim Levy assumiu a Fazenda com a meta de alcançar um superavit fiscal de R$ 70 bilhões; chega ao fim do ano com um rombo de R$ 119,8 bilhões

- Correio Braziliense

A Comissão Mista de Orçamento aprovou ontem o projeto de lei que reduz a meta fiscal de 2015. Segundo o texto, o governo será autorizado pelo Legislativo a fechar as contas com um rombo recorde de até R$ 119,9 bilhões em 2015.

O valor considera o abatimento de até R$ 57 bilhões para compensação das chamadas pedaladas fiscais, que são os pagamentos atrasados a bancos públicos em 2014. A proposta recebeu 22 votos favoráveis dos deputados e apenas oito contrários; entre os senadores, a aprovação foi simbólica.

O governo trabalha agora para que a proposta seja aprovada pelo Congresso, o que deve acontecer com o apoio do PMDB e do PSDB. No fim de outubro, diante das dificuldades econômicas, a meta fiscal de 2015 foi revisada de novo pelo Executivo, passando de um superavit (economia para pagar juros da dívida) de R$ 8,7 bilhões para um deficit de R$ 51,8 bilhões nas contas públicas. A decisão livrará a presidente Dilma Rousseff do risco de ter as contas rejeitadas pelo Tribunal de Contas da União (TCU) e ser enquadrada em crime de responsabilidade, o que abriria caminho para seu impeachment.

Em junho de 2015, as “pedaladas fiscais” somavam R$ 40 bilhões, segundo uma representação do Ministério Público Federal, repetindo-se uma situação que levou o TCU a rejeitar as contas da presidente Dilma Rousseff de 2014. Segundo os auditores do TCU, indevidamente, o governo deve ao BNDES, R$ 24,5 bilhões; ao Banco do Brasil, R$ 13,5 bilhões; e à Caixa Econômica Federal, R$ 2,2 bilhões.

As “pedaladas” funcionam como uma espécie de “empréstimo” à União, o que contraria a Lei de Responsabilidade Fiscal. O atraso dos repasses para bancos públicos do dinheiro de benefícios sociais e previdenciários acaba obrigando as instituições financeiras a usar recursos próprios para honrar os compromissos do governo, mesmo com saldo negativo na conta da União. Ou seja, é como descontar cheque sem fundos.

Faz de conta
O governo não tinha detalhado o valor da “pedaladas” ao enviar ao Legislativo o projeto de lei alterando a meta. O deputado Hugo Leal (Pros-RJ), relator do projeto, porém, decidiu não deixar esse valor em aberto e o fixou, inicialmente, em R$ 55 bilhões. Depois, alterou novamente para R$ 57 bilhões, que é o valor admitido oficialmente pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy.

A Comissão Mista de Orçamento também abriu a possibilidade de abater da meta fiscal o rombo de R$ 11,1 bilhões previsto para o setor elétrico, caso não ocorra o leilão das hidrelétricas, marcado para o fim do mês. Como o Tribunal de Contas da União deve determinar que o governo pague as pedaladas ainda neste ano, decidiu ainda que o deficit nas contas públicas poderá atingir a espantosa marca de R$ 119, 9 bilhões.

Onde está o autoengano? No fato de que toda essa ginástica legislativa garante a impunidade para a má gestão econômica e administrativa, mas não resolve em nada o problema principal do país: o agravamento da crise econômica, cujas repercussões sociais estão apenas começando. O ministro Joaquim Levy assumiu a Fazenda com a meta de alcançar um superavit fiscal de R$ 70 bilhões; chega ao fim do ano com um rombo de R$ 119,8 bilhões.

O economista e filósofo Eduardo Gianetti escreveu um livro intitulado Autoengano, sobre as mentiras que contamos a nós mesmos, como adiantar o despertador para não perder a hora, ou termos a nosso próprio respeito uma opinião que quase nunca coincide com a extensão de nossos defeitos e qualidades.

Segundo ele, sem o autoengano, a vida seria mais dolorosa e desprovida de encanto, porém, abandonados a ele, “perdemos a dimensão que nos reúne às outras pessoas e possibilita a convivência social”. O que está acontecendo com a economia e a própria política brasileira tem muito a ver com isso. O Palácio do Planalto e seus aliados fazem um jogo de mentirinha, no qual se enganam quanto à própria capacidade de enfrentar a crise econômica, política e ética.

Eliane Cantanhêde: Temer e Meirelles

- O Estado de S. Paulo

Michel Temer e Henrique Meirelles, que estão no olho do furacão, conversaram animadamente em São Paulo na última sexta-feira. Orelhas arderam, mas nenhum dos dois disse, nem diria, quais e de quem. Por isso, a versão é de que Temer lhe apresentou pessoalmente o novo programa do PMDB, “Uma ponte para o futuro”, e Meirelles adorou. Detalhe: o documento é o oposto do que o PT defende.

Como vice-presidente, Temer é sucessor natural de Dilma Rousseff caso seja aprovado o impeachment ou ela se afaste. E, como ex-presidente do Banco Central de Lula, Meirelles é candidatíssimo a ocupar o Ministério da Fazenda. Convenhamos que uma conversa entre eles, neste momento, é deveras instigante.

Cauteloso, Temer sumiu das manchetes nos últimos dois meses, depois que, a cada frase sua, tinha de passar dias se explicando para Dilma, o PMDB e a opinião pública. Mas ele não está parado e, como professor de Direito Constitucional, sabe bem quais são seus direitos e deveres como vice, contratou advogado e já tem pronta a argumentação para entrar com recurso extraordinário no Supremo e escapar da guilhotina caso o TSE casse o mandato de Dilma.

Com prefeitos e governadores, cai a chapa toda. Com presidentes, segundo o arrazoado de Temer, é tudo diferente. Como diria José Genoino, “uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa”. O CNPJ da campanha do PT foi um; o do PMDB foi outro. A presidente fez um juramento de posse; o vice fez outro. E a Constituição tem dois artigos sobre a, digamos, “separação de responsabilidades”: se o titular cai em dez dias, o vice assume; e ninguém é obrigado a pagar pelas mazelas de outrem.

Independentemente dessas formalidades, o impeachment de Dilma subiu no telhado e, até por isso, ou principalmente por isso, Temer fez um discurso crítico ontem no congresso do PMDB, mas nada que sugerisse rompimento. Tratou de, na medida, se distanciar das crises e mostrar que, também entre PT e PMDB, “uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa”, enquanto pemedebistas gritavam “Brasil pra frente, Temer presidente” e ostentavam bonequinhas nada elogiosas com a cara de Dilma.

Se as chances de Temer virar presidente parecem ter diminuído muito nas últimas semanas, as de Henrique Meirelles assumir a Fazenda são duvidosas desde o início. Ele tem Lula, mercados e a área financeira do próprio governo, mas não tem o principal: a simpatia de Dilma. Ela sabe que, se trocar Joaquim Levy por Meirelles, seu governo acaba no ato do anúncio. Depois de ceder tudo a Lula na última mexida ministerial, só falta dar a economia a Meirelles para sofrer um impeachment branco, com Lula de volta.

Hoje, a melhor aposta é que Levy não terá vida longa, mas seu substituto não será Meirelles. Além do fator Lula e da antipatia mútua entre ele e Dilma, há um terceiro obstáculo: Meirelles só aceitaria o cargo com carta branca para refazer a equipe econômica e para não ceder a pressões populistas – nem mesmo as do próprio Lula. Parece bem difícil.

Então, o que o ex-quase-futuro presidente Temer e o ex-quase-futuro ministro da Fazenda podem ter conversado? Sei lá, mas podem ter falado de uma dupla solução, com um herdando a Presidência e o outro, aí, sim, assumindo o comando da economia.

Vai ver, aliás, que é justamente por isso que o senador José Serra – que anda bem próximo de Temer – acaba de dizer a empresários que não se lembra de presidente do BC “tão ignorante ou comprometido com especulação cambial como esse senhor”. Quem é “esse senhor”? Henrique Meirelles.

Temos, assim, que o impeachment parece cada vez mais longe e Temer, cada vez mais fadado a ser vice até 2018, mas já há (ou ainda há) quem dispute a tapas um futuro e muito eventual cargo de rei da economia. Cada uma que acontece...

Rosângela Bittar: Muito à vontade no labirinto

• O PMDB trata problemas como um parque de diversões

- Valor Econômico

Se o PMDB vai conseguir romper com o governo e o PT em março, data da sua Convenção Nacional, foro adequado à medida, o eleitorado poderá ver quando o carnaval chegar; se vai ter candidato próprio em 2018, livrando-se de décadas coadjuvantes condenadas pelo fisiologismo, é cedo para garantir; se fez um programa econômico denominado Ponte para o Futuro, liberal, para diferenciar-se do PT e ser executado de fato, ou se apenas para chegar às campanhas eleitorais tendo uma ideia na cabeça e uma câmara na mão, não importa, no momento. O PMDB está se mexendo em várias direções e, depois de tanto tempo desde que teve projeto e candidato para valer a última vez, lá se vão uns 30 anos, está claramente num processo de construção de um partido e do que ele pode oferecer ao eleitorado.

Sem se despir, contudo, das várias camadas que compõem seu DNA. A senadora Marta Suplicy e seu marido Márcio Toledo promoveram em sua casa um encontro de jornalistas com a cúpula do PMDB, na noite de segunda-feira, véspera do Congresso partidário realizado ontem. O vice-presidente e presidente da República em exercício naquela noite, Michel Temer, o presidente da Fundação Ulysses Guimarães, Moreira Franco, e o ministro Eliseu Padilha, passearam pelos vários temas que desenham o labirinto do PMDB como quem está num parque de diversões.

A intransigente condescendência com o deputado Eduardo Cunha (PMDB), que permanece na presidência da Câmara depois de tantas denúncias e inquéritos, à beira de se transformarem em processo, não abalou nenhum deles. A política, o país, vivem uma cultura própria nessa questão, responde o presidente da Fundação Ulysses Guimarães, Moreira Franco, organizador do Congresso. O ministro Padilha pergunta: o ex-deputado Andre Vargas (ex-PT) levou quanto tempo para ser julgado no Conselho de Ética? Oito meses. Conclui Michel Temer: "Cunha tem capacidade de articulação, sobre ser muito inteligente".

O comportamento do presidente da Câmara obedece a um rito, tanto nos procedimentos ligados ao judiciário, quanto nos relatados no Conselho de Ética. Para o PMDB, há suspeitas, e em qualquer país do mundo garante-se o direito de defesa. É preciso esperar. Compromisso zero com o drama.

Pula-se desse para um outro caso, o que traz na capa a efígie de Leonardo Picciani e seu pai, Jorge Picciani, que à revelia do partido negociam com a presidente Dilma, portanto com o PT, de quem o PMDB inicia o afastamento, a assunção do jovem deputado de topete de cantor ao trono de Cunha.

Ao mesmo tempo em que, por haver nomeado ministros e estar bem instalado com seu grupo no governo, já garantiu de sua bancada um novo mandato de líder. Quando perguntado pelos Picciani - o jovem está ausente do Congresso, numa temporada em Harvard -, Temer sacou uma explicação conceitual: são duas pessoas, cada uma com seu papel, é, política é assim". Compromisso, zero. A recondução de Leonardo à liderança é um assunto da bancada, e as conversas de Jorge com a presidente Dilma um problema do PT.

A quem pensou que o constrangimento finalmente abateria a tropa da revitalização partidária, não conhece sua pertinácia no descompromisso com a adversidade. Jogado ao centro do debate, o rumoroso caso do candidato do prefeito Eduardo Paes à sua sucessão na cidade do Rio, Pedro Paulo, que bateu duas vezes na mulher e para salvar a candidatura apresentou-a para desculpá-lo, cabisbaixa e humilhada, provocou uma inquietude visível, com recuperação imediata. Para a cúpula do PMDB, "é cedo para avaliar o caso". Mas existem na literatura precedentes de uma campanha eleitoral bem sucedida com esta largada? "É cedo".

Esse PMDB em estado puro, em cena explícita de exercício da convenção sem cláusulas pétreas, retomava a trilha do plano econômico a cada tentativa de confrontá-lo com os graves problemas da realidade partidária. Uma pesquisa citada por Moreira Franco indicou que o principal problema do país é a corrupção para 85% das pessoas ouvidas, vindo em seguida a deficiência de gestão, para 10%. Pois bem, e o PMDB? "Vamos fazer 50 anos, o partido nunca se enquadrilhou para fazer mal feitos, tem um ou outro envolvido, é dado a ele todo o ambiente para se explicar, nós não julgamos", diz Moreira.

As relações de Temer com Dilma - "resolvi tomar posição institucional, o cargo exige discrição absoluta e ela me trata pessoalmente muito bem", a necessidade de fugir da dicotomia PT-PSDB para criar uma identidade própria, não ter medo de apresentar um programa oposto ao do governo do PT, tudo isso o PMDB já passa decantado. Em poucos dias, o plano econômico do partido tornou-se um best seller e, segundo registros de Temer, muito bem aceito e elogiado, até por Joaquim Levy, o ministro da Fazenda que desde ontem está tentando também reinventar seu otimismo. A questão do rompimento com o PT, o PMDB deixou mesmo para março. O dinamismo da política levou a onda para uma dinâmica que já será relacionada à campanha municipal. Agora é a vez do programa, que mostra sobretudo de que lado está o PMDB: a uma distância amazônica do PT.

A anfitriã, recém-chegada ao partido e muito segura do novo projeto, vinda de décadas de militância e candidaturas no PT, registrou as diferenças abissais entre os dois partidos, contou que pela primeira vez está montado suas estruturas em São Paulo, pois o PMDB não as tem, como o PT, tratando de conhecer a forma de atuação, entre outras providências de caráter formal e político. Porém, declarou sua admiração por um traço do PMDB que chamou sua atenção meio às denúncias: "Em uma coisa o PMDB é fascinante, as pessoas do PMDB não batem no PMDB, protegem o PMDB mesmo quando não acham grandes qualidades a exaltar".

O senador José Serra (PSDB) atacou com escracho o ex-presidente do BC, Henrique Meirelles, durante palestra a empresários do setor químico. A gratuidade do comentário levou à interpretação de que está cavando uma vala de contenção: Se houver impeachment, ele é cotado para comandar a economia do PMDB, e quer ver Meirelles longe da disputa. O ex-BC já esteve no PMDB, onde deixou diletos amigos.