O sucesso recente na política nacional premia os líderes que combinam ousadia pessoal, a defesa de alguma ideologia e o apoio de uma organização partidária densa. Lula começou a sua carreira sendo ousado e defendendo uma ideologia clara que até hoje serve de guia para o seu partido. Lula não tinha uma organização, ele a construiu, o PT. Não foi por acaso que Lula exerceu a presidência por oito anos e elegeu a sua sucessora. Aliás, seu último grande ato de ousadia no exercício do mandato foi escolher Dilma para sucedê-lo.
Collor foi ousado e defendeu uma ideologia clara, mas nunca teve consigo uma organização que lhe desse suporte político real, o PRN nunca foi um verdadeiro partido político. Fernando Henrique tinha uma ideologia clara e uma grande organização com ele, o PSDB, mas como todo tucano (com a exceção de Mário Covas) não foi ousado, não teve ousadia para fortalecer ainda mais o seu partido e conduzir a sua sucessão em 2002 de tal maneira a ter um candidato carismático, leve e agregador.
Garotinho sempre foi ousado e em momentos sucessivos de sua carreira política teve a organização do PDT e do PSB lhe apoiando. Porém, Garotinho nunca teve uma ideologia, um conjunto de ideias (mesmo que difusas) que servissem de orientação tanto para ele quanto para seus seguidores. Ciro Gomes foi usado, mas não teve uma ideologia clara nem um partido. O mesmo pode ser dito de Marina Silva, que ao deixar o PT e fazer uma campanha liberal ficou sem identidade, ficou sem o guia da ideologia.
Dilma tem ideologia, pertence ao PT e foi ousada o suficiente para disputar na sua primeira eleição a Presidência da República. Ela e Lula estarão juntos mais uma vez na eleição de 2014, no PT, defendendo políticas de redistribuição de renda que favoreçam os mais pobres. Seus adversários precisam levar em conta que ter ideologia e um partido político pujante não é suficiente para vencer nacionalmente, é preciso também ser ousado.
Aliás, levando-se em consideração estes três atributos e refletindo sobre a movimentação dos principais líderes do Rio de Janeiro visando a 2014 (eles só pensam naquilo) é possível antever uma disputa acirrada. Tanto Sérgio Cabral quanto Lindberg Farias são ousados, têm ideologia e contam com uma importante máquina partidária ao seu dispor.
Por enquanto, a principal dificuldade do governador é quem ele irá apoiar. Pezão não tem o carisma, o charme e a juventude de Lindberg e, além disso, ousadia não se transfere. Do lado de Lindberg a principal dificuldade é fazer com que o PT tenha candidato próprio à sucessão de Cabral. Lula colocou Lindberg no conselho do Instituto Lula com a clara finalidade de ter o enfant terrible ao seu lado para melhor controlá-lo. Lula já fracassou outras vezes neste intento, mas ainda assim a prioridade do ex-presidente é preservar a benéfica aliança com atual governador do Rio de Janeiro.
Lindberg já demonstrou em outras ocasiões que derrotá-lo não é tarefa fácil. Além disso, ele já foi votado em todo o estado e tem forte apoio na populosa Baixada Fluminense. A eleição está distante, mas a novidade do PT coloca na disputa um importante fator de imprevisibilidade que fará de 2014 uma eleição bem diferente das anteriores.
Alberto Almeida é sociólogo.
FONTE: O GLOBO
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